segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Coalescência, Combinação, Concordância

O fenômeno da união é realmente um assunto muito interessante a se pensar. Em alguns casos, ele necessita de alguns pré-requisitos muito básicos pra que possa acontecer. Famílias que se fazem distantes, por exemplo - e não digo distantes em quilômetros, mas distantes em sintonia, em sentimento. A união entre algumas só acontece em datas especiais e comemorativas, como por exemplo o Natal. Ao final do ano, é um bom exercício reparar como é bom estar junto a família. Mesmo que muitas vezes o pensamento seja negativo em ficar ouvindo os parentes distantes dizerem que você cresceu muito, que ficou lindo, que seu nariz é mais parecido com o da sua mãe, mas os olhos são do papai. Ou você ouvir todos aqueles assuntos que não dizem respeito a absolutamente nada que lhe interesse, e sente uma vontade gigante de sair daquela sala chata e estar em qualquer outro lugar do mundo que não seja ali. Tirando essas sensações chatinhas, que fazem parte afinal, de todo o contexto, o que ocorre é que, pelo menos aos meus olhos, que são malucos na maioria de suas visões e percepções, esse fenômeno em sua estrutura é simplesmente lindo de se ver, da maneira que for. Independentemente de Natal, Ano Novo, Páscoa ou Dia das Mães, a união deveria acontecer sempre. Em todos os 365 dias do ano. Ela é caracterizada pela preocupação e cuidado que você tem simultaneamente com todas as pessoas que você ama, e reciprocamente, o cuidado que elas têm com você e umas com as outras. Cuidado de ouvir, de ser amigo, de estar ali do lado pro que precisar. Ela não precisa acontecer apenas entre os membros da família, no seu sentido próprio, apesar de a família ser o órgão mais importante do seu sistema como um todo ao longo de sua vida, por ser o primeiro grupo de pessoas com quem você tem contato. Todavia, você adquire várias outras famílias ao longo de sua caminhada. Ao entrar no colégio, ganha tias, amigos que viram irmãos, irmãos de amigos que viram primos, e assim por diante. Na formatura, ganha padrinhos. Ao decorrer desse tempo que você passa convivendo com pessoas diferentes e encantadoras, cada uma ao seu jeito, você sente algo tão forte e especial por algumas, que tem vontade de tomá-las como parte do sangue que corre em suas veias. E a partir daí, considera-os como família. Eu não critico a união apenas às datas comemorativas porque para alguns, elas são as únicas oportunidades inclusive de estarem unidos aos outros; Por questões profissionais, temporais, etc. Então, elas acabam sendo importantes para que haja um pretexto onde a família precise estar reunida. O problema é deixar que essa união se esvaia no dia seguinte, e você se esqueça do quanto sua família e a união entre os membros desta te deixam feliz e satisfeito. Acho um fenômeno interessante pois, mesmo de longe, as pessoas que você puxa pro seu laço familiar ou as que já fazem parte deste naturalmente, não te deixam se sentir sozinho, jamais, quando a união verdadeiramente existe. Num momento de solidão que não seja saudável e deixe-nos cabisbaixos, é neles que devemos pensar pra nos sentir melhor. A união é confortável. Ver as pessoas entrosadas, amigadas e entretidas umas com as outras, dá uma plena sensação de felicidade, se essas pessoas fazem parte do seu ciclo afetuoso. Por isso uma vontade louca, às vezes, de que seus amigos da escola virem amigos dos seus amigos da faculdade, e do seu prédio, e do seu curso de inglês; Quando você junta num círculo só todas as pessoas que você ama, a cautela, o amor e o carinho que elas sentem por você, se fortalecem, trocando energia umas com as outras e revitalizando todos esses sentimentos. Contudo, existe a união daquelas pessoas que não se conhecem. E essa, pra mim, é a mais bonita que há. Pelo simples fato de que o sentimento floresce naturalmente. Você não se une a pessoa porque ela é da sua família, é sangue do seu sangue. Você se une a ela porque ela é tão ser humano quanto você, merece tanto quanto você estar aqui, compartilhando do mesmo mundo, das suas dores, das suas alegrias, tanto quanto você. E esse entendimento de que a união em si, na verdade não precisa de NENHUM requisito básico pra acontecer, é um sentimento que ultrapassa a beleza de todos os outros sentimentos juntos. Quando você entende que você ama só porque ama, ou você quer estar junto de algumas pessoas só porque quer estar, sem nenhuma necessidade essencial, é quando você, sem saber, une todos os sentimentos existentes dentro de você e sente algo que ainda não se definiu. Pode ser que isso que nós sentimos seja só esse espírito de união, do qual me refiro, e que se dá através dessa sensação de querer puxar pra perto de você todas aquelas pessoas que você tem vontade de dobrar e guardar num potinho, ou de pendurar no seu quadro de imã, pra você nunca esquecer que ainda existem pessoas extremamente especiais nesse mundo. Isso, não se compra com ovos de Páscoa, ceias de Natal e muito menos fogos de artifício no Ano Novo. Quando você entende o sentido disso tudo, você passa a enxergar a união como algo que necessita fazer parte do seu dia-a-dia, acolhendo-a como uma velha amiga, e querendo ensinar a todas as pessoas as quais você quer estar unido que, estar junto é uma simples troca de energia e amor, baseada na harmonia que os seus sentimentos bons conseguem ter com os sentimentos bons das pessoas que você ama. Piegas, porém intransponivelmente certo: A união sempre fez, faz e continuará fazendo a força.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Milagrosamente Vivo

O milagre, em seu entendimento, é uma coisa diretamente relacionada à divindade, ou a algo que diga respeito a ela, em via de regra. A palavra milagre, em sua fonte significativa, fundamenta uma intervenção divina, como uma dádiva dos céus. Mas.. se é assim, e para os descrentes, não há milagre? Não digo os descrentes no sentindo atrelado à religião na sua origem. Digo os descrentes de forma genérica. O que caracteriza um milagre, afinal? Algo extraordinário, incrível, impossível? É uma explicação que se deturpa cada vez que algum de nós tenta explicar, com nossas palavras tortas e entendimentos incompletos, talvez. Já ouvi diversas vezes a expressão "o milagre da vida"; que ao meu ver, significa o milagre do nascimento, o milagre de estarmos aqui, vivos, racionais, de carne, pele, osso, e para alguns, de espírito também. Penso ser um pouco evasiva essa significação. Não que a minha opinião faça algum sentido pra mais alguém além de mim mesma, é claro. Mas acredito que o mais grandioso milagre que possa vir a ser, é o da existência. A existência das coisas, a existência de tudo. De cada planta, de cada inseto, de cada cor, de cada sonho, de cada palavra, de cada vontade. Será que tudo isso não é o maior milagre que pode existir? A vida, de fato, é um milagre. Mas não no nascimento e na morte. E sim em sua jornada. Cada peculiaridade, é um milagre. Cada flor vermelha que nasce em meio a uma mata toda verde, é um milagre. O fato de ninguém nesse mundo inteiro ser igual a ninguém, é um milagre intransponível. Cada órgão do nosso corpo, cada centímetro, nos é único. Existimos de forma singular. Incontestavelmente singular. Em jeito, aparência e coração; pensamos, falamos, agimos. Somos seres humanos, com uma inteligência que supera qualquer tipo de tecnologia existente. Isso, indubitavelmente, é um milagre. E ainda há os que passam a vida esperando cair um milagre do céu. O milagre da salvação, o milagre da volta. Esperas, milagres e decepções. E perdemos tanto tempo esperando pelo tal milagre, que esquecemos de observar as dádivas que existem à nossa volta. O vento batendo no rosto.. É uma sensação única, difícil de explicar: é incolor, inodoro, não tem forma. Apenas nos causa uma plena sensação de alívio, de purificação, de frescor espiritual. Por mais que não saibamos, no fundo, o mais próximo da definição é isso. O milagre das cores.. Como conseguem ser tão únicas? Não há explicação para o que é o azul, nem o amarelo, nem o rosa. Qual é o mais bonito? Cada um deles é lindo, em sua forma de colorir. Milagres não significam apenas coisas inacreditáveis que nos acontecem ao dia-a-dia. Costumamos usar esse termo ao falar de coisas raras, que quase não acontecem.. Sem perceber que tudo - absolutamente tudo que nos rodeia é envolto de uma dose única de encanto, que não se iguala a nenhuma outra coisa. Pode ser até que não seja uma coisa boa. Mas é um milagre. Existindo, é um milagre. De onde veio, como começou, onde começou? Existem trilhares de explicações. Religiosas, históricas, científicas. Mas.. qual é a verdadeira? Nunca vamos saber.. e acho que, nesse caso, a melhor saída é guardar pra si a própria percepção do que realmente acontece nesse fenômeno da vida, que nos cerca desde o momento da nossa concepção até o nosso último suspiro dela. Cada minuto que passa, é incrível. Cada dia que deixamos pra trás, pelo fato de ser único e não voltar nunca mais, se faz incrível. O tempo passa, a cada milésimo de segundo.. E as flores vermelhas murcham, o vento pára e volta, as cores perdem o encanto. A cada dia, tudo se renova. Milagrosamente, se renova. E passamos cada minuto do nosso dia pensando no próximo dia, pensando no milagre que é a vida do nosso vizinho da frente, porque a casa dele é enorme, a família dele é linda.. e nossa vida é sempre a mais infeliz e sem graça, comparada a de alguns. A existência e o tempo são as únicas coisas indefectuosamente democráticas. Nascemos nas mesmas condições. Existindo, postos no mundo - e tendo 24 horas por dia: pra chorar, pra sorrir, pra viver do jeito que couber a cada um de nós. Esse jeito, essa maneira de levar a vida, é um milagre. Cada um segue um caminho, e é feliz do seu jeito. O milagre da vida é caracterizado por quantos sorrisos você consegue dar por dia, ao meu ver. Sem discurso hipócrita, é o que realmente eu acho. A vida não é medida por quantos anos você viveu. As pessoas costumam achar que são vividas por quanto elas já sofreram.. o que importa, na verdade, é que elas são vividas porque agora riem de tudo o que já sofreram um dia. O poder do sorriso, é um milagre. A sensação que nos proporciona uma gargalhada, não se compara com nenhuma outra sensação do mundo. Será que ainda assim nos cabe algum tipo de espera por qualquer milagre? Acho que a única espera que tenho em relação a isso, é que cada um perceba quão especial é a vida que vivemos, do jeito que for vivida, se for sofrida ou feliz, é a vida, e só existe uma. E esse milagre.. é uma chance única de perceber quantos milagres nos pertencem. É um milagre que não volta nunca mais.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ensaio sobre a Cegueira

Ao longo desses seis mil quinhentos e setenta dias de vida, eu aprendi bastante. Didaticamente falando, ou não. Tive muitas professoras, e ainda tenho, com as quais aprendi muito, não só em matérias escolares, mas principalmente sobre a vida. Mas, costumo sempre enfatizar que meus maiores professores sempre foram e sempre vão ser os meus pais. Cada um do seu jeito, cada um me transmitindo o que um dia meus avós os transmitiram, me transformaram numa pessoa constituída de mais coração do que qualquer outra coisa que pudesse ser. Os dois, apesar de a minha educação ser formada por eles, juntos, tinham um jeito distinto de me ensinar as coisas. Minha mãe de uma forma mais rígida, por ser o jeito dela, mas sempre com um olhar reconfortante na hora dos conselhos. Meu pai, mais grudento e carinhoso, mas com um nó na garganta e um peso no olhar na hora das broncas. Na hora de me coibir a certos atos, ou me ensinar a fazê-los, os dois também tinham um jeito diferente. Sempre que minha mãe me dizia pra fazer ou não alguma coisa eu perguntava o porquê, e na hora ela me explicava com a maior calma e amor do mundo. O meu pai, sempre teve um jeitinho meio sei lá de fazer isso. Como ele mesmo diz, ele sempre me "empurrou no abismo", e continua empurrando, diga-se de passagem. A expressão quer dizer que ele sempre deixou mensagens soltas no ar, em vez de me explicar o que elas queriam dizer, deixava que eu procurasse o entendimento sozinha. Isso me fazia pensar e pensar mais sobre o assunto, de forma que mesmo descobrindo o que ele queria dizer com aquilo, eu continuava pensando nele. As duas formas, foram muito eficazes. Numa dessas de me empurrar no abismo, uma vez ele empurrou tão forte, que nunca mais eu parei de cair. Alguns assuntos nos quais ele me inseria, me deixaram até hoje meio indignada, de forma que às vezes eu não consigo encontrar respostas pra certas (muitas ou quase todas) as perguntas. Uma vez estávamos na praia: eu, ele e mais uma amiga minha que de tão amiga virou quase filha dele. Eu devia ter uns doze ou treze anos, e nessa época, geralmente as meninas ficam numa fase de transição criança-adolescente que incomoda muito, e que faz fechar os olhos e o coração pra muitas coisas que não podemos parar nunca de enxergar. Bom, a lembrança é vaga, mas acordei pensando nela hoje, e tentei buscar indícios pra lembrar do dia como um todo. Se não me falha a memória, nós duas falamos alguma besteira perto dele que o fez pensar, e tomar a atitude de fazer o que fez. Nós chegamos na praia, costumávamos ir cedo. Eram mais ou menos oito horas da manhã de um sábado ensolarado. Não tinha chegado ninguém ainda, dos que ficavam com a gente, então ele pegou a brecha e aproveitou a oportunidade. Levou nós duas pra beira do mar, e nos sentamos, os três. Ele começou a contextualizar um assunto que me deixou totalmente saturada, ele discorria sobre desigualdade. Não social, mas desigualdade na forma genérica. E ele misturou uma coisa com a outra, mandando a gente reparar em cada coisa que existia na praia. Como o mar era bonito, como a linha do horizonte era irrefutavelmente reta sem nenhum defeito, como a areia era confortável, como as pessoas eram diferentes, e como essas diferenças eram belas. E ele começou a falar das pessoas que não têm capacidade pra enxergar essas diferenças. Começou a falar sobre os cegos. Sobre como era injusto nós conseguirmos enxergar aquilo tudo, e ainda conseguir procurar algum motivo para reclamar, de qualquer coisa que seja. Depois do mini-discurso, ele fez um 'exercício' com as duas. Mandou-nos fechar os olhos, e ficar cinco minutos de olhos fechados. Disse que era pra sentirmos como eles se sentem. Foi me dando um nervoso, quando me dei conta de que não conseguia enxergar as cores, não enxergava as formas. Podia ouvir tudo, o barulho do mar, a risada das crianças, as pessoas correndo na areia.. e eu não podia enxergar nada. Foram os cinco minutos mais incapazes de toda minha vida. Mas por outro lado, os que me mais me fizeram pensar. A partir daquele dia a minha visão sobre as coisas mudou um pouco, me vi mais compreensiva em alguns aspectos. Só que, de uns tempos pra cá, meus pensamentos sobre esse dia se recaíram sobre outra perspectiva. A cegueira por vezes, é algo voluntário. Não a cegueira na forma da doença. Há muitos nesse mundo que preferem fingir-se de cegos. É bem mais confortável, nas circunstâncias atuais, fechar os olhos, ao invés de querer enxergar todos os problemas pelos quais temos passado. Eu confesso, já pensei em fazer isso. São tantos erros, tantas decepções, tantos absurdos. A visão é uma dádiva, uma coisa privilegiada, é claro. Agradeço todos os dias por ter meus sentidos perfeitos. Só que vendo tanta coisa, dá mesmo vontade de fechar os olhos e fingir que tudo é belo. Quando você não enxerga nada, você desenha um mundo que é só seu. Ele é intocável, imutável. Ainda mais, por aqueles que nunca tiveram a oportunidade de enxergar nenhum dia sequer. Cada um monta o seu mundo, com as cores mais marcantes, as pessoas mais bonitas, os problemas mais superficiais. Os muros não são pichados. As crianças pobres, não andam com roupas rasgadas feito panos de chão. As ruas não são repletas de lixo, e as favelas, nem existem. É claro que os que não enxergam, deixam de ser realistas. Não são utópicos a ponto de não saberem do que se passa. Mas pelo menos, conseguem usufruir do conforto que é não ter que olhar pra toda essa burrada e enxergar, com todas as cores,todas as letras, todas as dores, todos os males. Elas ainda podem, dentro da visão delas, sonhar com um mundo melhor. Não se torna tão impossível enxergar uma melhora, quando seus olhos não te deixam ver. Ou, quando você prefere não enxergar. Por mais que seja necessário se conformar com toda essa dor pra conseguir sobreviver nesse mundo que infelizmente é real, perante certas situações, dá vontade apenas de fechar os olhos pro problema, de tão difícil e complexa que se torna a solução. É uma atitude mais que covarde, eu sei. Muito covarde mesmo. Mas desanima. Desanima sério ver que um em um milhão se preocupa com tudo isso. Vale ressaltar que isso não é um discurso moralista, nem um apelo, nem um pedido, nem uma carta ao presidente. Talvez um texto qualquer. Ou um desabafo, quem sabe. Queria poder usar dessa dádiva só pra enxergar as coisas boas. E também não teria graça. Só se sabe o que é bom quando conhece o ruim. Ou não. Nesse caso não. Queria eu às vezes, poder escolher ter visão seletiva. Mas talvez fosse ruim, porque eu ia escutar demais. Ia sentir demais. Mais do que já sou compelida a sentir. Os sentidos outros iam ser mais aguçados, e não teria tanta eficácia quanto o esperado. Eu admito que não tenho vontade de ser uma pessoa fria. A visão, ela é vista de vários pontos. Não é só enxergar no sentido figurado que cito nesse texto. Cada um tem uma maneira de fazê-lo. Mas às vezes os meus olhos me machucam tanto.. por vezes sinto muito orgulho deles. Por conseguir fazer pelas pessoas o que alguns não fazem - uns porque não querem, uns simplesmente pela falta de sensibilidade. E geralmente as pessoas me dizem, que eu tenho uma forma diferente de ver as coisas. Com clareza, com paixão. Pode ser que eu tenha sim, depois desse dia em que tive que, mesmo que por curto tempo, ficar sem enxergar algumas das coisas belas da vida. Mas na beira da praia, é mole. Queria ver ao pé de uma favela. Ou em um país muito pobre, em meio a uma família passando fome. Talvez eu pedisse a meu pai para me deixar ficar mais tempo de olhos fechados. Mas essa não é a realidade, o meu mundo não é suficiente pra suprir as dificuldades que o mundo real oferece. Talvez seja melhor tomar a atitude, mesmo que sendo dolorosa, de abrir os olhos, e encará-lo de frente. Dói, machuca, decepciona. Mas faz aprender, mudar. Faz a gente dar valor pro nosso mundo, dar valor pra nossa falta de problemas. Porque por mais que todo mundo os tenha, é claro que existe uma certa diferença entre eles. Enquanto pra uns o maior problema do mundo é a prova que vai ser feita daqui a duas semanas, para outros o problema é abrir o armário da cozinha e não ter nenhuma comida para o jantar do dia seguinte. E o que temos a fazer? Não adianta ficar fingindo que tudo está correndo da mais perfeita maneira, porque seria total hipocrisia de nossa parte. A verdade é que, a cada dia, a situação fica pior. E a cada dia, dá menos vontade de enxergar, e ao mesmo tempo, precisamos fazê-lo. E é por isso que, eu não paro de cair nesse abismo sem fim... Não consigo achar nenhum tipo de resposta pra pelo menos metade das perguntas que tenho em mim, e transformo esse abismo numa cegueira infindável.. Por mais que estejamos todos de olhos abertos, parece que as pessoas estão dormindo. Todas. Me dá vontade às vezes de deitar nesse travesseiro gigante que elas dormem, e fazer o mesmo simples papel de mais uma vivendo porque tem que viver. Mas não, eu não consigo. Meus olhos doentes não me deixam enxergar tudo da mesma maneira. Infeliz ou felizmente, não. Na verdade, gosto deles. Eles cuidam do meu coração. Sabe quando dizem que os olhos são a janela da alma? Então, é a mais pura verdade. Eles expressam o que a alma quer dizer, e não pode. Conseguem ao mesmo tempo, ver toda a dor que se passa pelo mundo, e ainda assim, enxergar daqui a alguns anos, quando as pessoas vão acordar e se tocar de que estamos perdendo tempo deixando de ver muitas coisas das quais deveríamos, e com certeza todas elas contribuirão pra uma melhora do mundo de uma forma geral. É uma visão literalmente futurista. Bem sonhadora. Meus olhos me fazem assumir dois personagens nessa vida: uma que consegue manter os pés no chão e tenta fazer o máximo que pode pra ajudar de seu jeito, e a outra, que por mais que não deixe de enxergar a realidade, consegue sonhar com um dia em que todas as outras pessoas tenham a oportunidade de ganhar um par de lentes, como o que ela ganhou, pra enxergar o que ela enxerga, sonhar o que ela sonha, ouvir o que ela ouve. E esse presente, sem dúvidas, foi o melhor que ela já pode ter ganho. A oportunidade de enxergar esse mundo com um tipo de cegueira que, por incrível que pareça, lhe torna alguém com pensamentos bons, positivos, e o melhor de tudo: esperançosos.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Preferencialmente Essencial

Quando ouvimos falar na palavra essência, em seu sentido próprio, entendemos como o núcleo de algum determinado assunto. A essência é o assunto, propriamente dito, em sua origem de importância. Até quando nos referimos à essência de um perfume, esta significa sua marca principal, seu núcleo na forma dita sobre a sua essência em si. E na verdade, muitas das vezes, não damos importância ao que realmente existe de essencial. O núcleo e a principalidade das coisas às vezes tornam-se superficiais em detrimento do que deveriam, e acabam tomando uma forma não tão importante, quando na verdade, é a única coisa que de verdade importa. O essencial da vida, não é quanto você ganha, quanto você perde, quanto você chora. O que realmente importa, é o quanto você se alegra com as coisas que faz com quanto você ganha, os benefícios que suas perdas te trazem, a quantidade de coisas que você aprende com as suas lágrimas. O essencial está escondido por trás do aprendizado. Por trás da felicidade que ele te traz, e por trás de todas as coisas que ele te proporciona. Os fatos que nos ocorrem, em sua superficialidade, enchem nossa cabeça com coisas que pouco ou nada nos acrescentam, e tomam nosso tempo, um tempo que poderíamos estar aprendendo mais e mais, de forma a nos deixar indignados, tristes, cabisbaixos. E o essencial, com certeza não é esse. O que realmente importa não é quanto tempo você fica preso no trânsito, no caminho do trabalho, e sim a boa vontade que você tem de se deslocar todos os dias do recanto do seu lar, pra ir ganhar a vida de uma forma digna. Não importa quão seja difícil a sua faculdade, e se suas notas não vão bem, o essencial é que você todos os dias acorda com mais vontade de melhorar, e aprender. Eu sei, essas duas últimas frases podem parecer um pouco hipócritas. Mas sério, não deveriam. Se colocássemos na ponta do lápis quanto tempo passamos tentando arranjar uma culpa pra colocar em alguém quando alguma coisa de ruim acontece, ficaríamos com ódio de nós mesmos. Porque a culpa, ela não é essencial. Pra que nos isentarmos dela e simplesmente depositar nossa raiva/tristeza/insatisfação em alguma coisa ou em alguém que não a tenha, realmente? E fazemos isso. Infelizmente, acontece em períodos diários. Ao invés de tirarmos proveito do ocorrido e pegarmos pra nós o que ele tem de bom, nos preocupamos em achar desesperadamente alguém que tenha culpa, porque é bem mais cômodo fechar a cara para o problema, do que remar contra a maré e tentar achar o lado bom da coisa, pra tentar, a partir daí, procurar a essência que forma o acontecimento. Mais uma vez, é mole na teoria, mas na prática não é bem por aí. Somos humanos, feitos de carne, osso, e apesar de coração, há uma série de malícias que aprendemos com o tempo, que nos protegem (ou pelo menos achamos assim) de certas coisas, usamos os nossos erros como uma capa protetora para que estes não aconteçam mais, e com o tempo, começamos a desconfiar demais das coisas, e ao contrário do que deveria acontecer, nos vemos saturados de certas coisas e estas nos machucam com mais facildade do que antigamente. A essência do aprendizado se perde, o essencial se torna superficial, e mais uma vez, perdemos nosso tempo com o que não importa na verdade. Devemos a cada dia, encarar os fatos com outros olhos, olhando de fora, como se pudéssemos deixar o nosso corpo e subir a um nível onde possamos ser imparciais o suficiente pra enxergar as coisas com clareza. A essencialidade é por fim, vista, e daí aproveitamos o que aquilo tem de bom pra nos oferecer. Eu sei, é um emaranhado de informações, mas não é tão difícil quanto parece. Afinal, o essencial não é a dificuldade, mas sim os artifícios que você usa pra entender que a dificuldade em si, é só mais um obstáculo, como outro qualquer, e que você tem capacidade suficiente para passar por ele, com a cabeça erguida, enxergando sempre o melhor que a essência das coisas que, sendo boas ou ruins, têm a lhe oferecer.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

(Des)Crenças

Existem muitas. De todos os tipos, para todas as idades, de toda sorte de gosto que pode haver nesse mundo. Cada um acredita em algo, e nem sempre a palavra crença é atrelada a religião, apenas denomina-se crença alguma coisa ou alguém que outro alguém acredita. Algumas crenças são tão inerentes a nós, que é difícil nos desvencilharmos delas a certa altura da vida. Por outro lado, há algumas que adquirimos ao longo desta, e que nos fazem deixar de acreditar em várias outras crenças anteriores. Geralmente isso acontece quando a crença deixa de ser apenas algo abstrato, que apenas fica no pensamento, e passa a invadir o mundo real, ou seja, quando aquilo que você acredita realmente acontece, ou algo que anule completamente o que você acreditava acontece, e você deixa de acreditar. As crenças religiosas trazem à sociedade grandes conflitos que nos fazem pensar. Antigamente, éramos coibidos ao ato de pensar, e de questionar, por isso a crença era algo mais homogêneo, muito mais unânime. Ou talvez nem fosse, mas as pessoas tinham que fazer parecer que sim. Tínhamos/temos medo de expressar o que sentimos em relação à religião. Agora, venhamos e convenhamos: quem nunca duvidou da existência do ser divino a que todos acreditam e se referem, que atire a primeira pedra. Não é possível que enxergando todos os dias essa dor enorme existente no mundo, não nos perguntemos se existe realmente um Pai Nosso que ajude a todos nós ao mesmo tempo. Não há e nem nunca haverá uma resposta certa e não passível de mudanças e dúvidas. Não critico a religião, mas não concordo com sua doutrina. Apenas a respeito, e a seus seguidores. Só acho que é uma forma de impôr verdades absolutas (que não existem em nenhum lugar do mundo), com a desculpa da retribuição divina na próxima vida. O que não pode acontecer, é deixar de tocar sua própria vida e dar nas mãos de uma figura divina, seja lá qual seja, para que ela a faça. A partir daí, perdoem a falta de jeito, mas vira plena patetice. Mas não cabe a mim discutir e opinar sobre coisas que não acredito. As crenças, de forma geral, podem ser boas ou ruins. No sentido de serem boas, são às vezes, confortáveis, como a da religião por exemplo. É melhor pensar que vamos pra um jardim lindo e colorido se passarmos a vida indo à missa todos os domingos, do que não ter a mínima idéia do que vai acontecer quando passarmos desta pra melhor. É menos intrigante acreditar nas coisas que sempre nos foram ditas, desde os nossos primeiros anos de entendimento vital, do que tentar entender sozinhos e morrer numa chuva de "porquês", "comos" e "ondes". Pois bem, existem crenças que nos deixam indignados, em seu lado negativo. Coisas que não conseguimos deixar de acreditar, mesmo que essas nos machuquem e nos deixem desconfortavelmente incomodados. Tipo você acreditar que o amor da sua vida, só vem uma vez. Essa é uma crença que nem sempre é saudável demais. Se você vive com esse tal amor, te faz bem. Mas a partir do momento que você não o tem mais, se torna um carma, e você se prende a isso de tal forma que não se entrega à vida para que ache outros amores. Acreditar, por exemplo, em fantasmas, espíritos ruins, te faz pensar em mil e uma coisas na hora de dormir, e muitas vezes nem te deixa em paz para que você possa fazê-lo. Mas quem disse que conseguimos deixar de acreditar? Não há luz acesa, nem beijo de boa noite, nem coberta em cima da cabeça que faça deixar de ter medo dessas coisas. E, infelizmente, ou não, não há quem mude aquilo que decidimos acreditar, e isso permite que nossos pensamentos não sejam unificados, de forma que passem a convergir ao mesmo ponto, caracterizando mais uma vez, as nossas diferenças. Cada um com sua crença, cada um com sua descrença, com sua falta ou com sua religião. Acreditar é algo que faz parte da vida, nos baseamos na crença para que possamos viver. Não é só crer em um fato, ou em uma história. É crer que o que você acredita é realmente a sua verdade. O que a Bíblia, os livros, os papas, os oráculos, os monges, os nossos pais, nossos antepassados impõem, não tem absolutamente nenhuma relação direta com a verdade. A maioria do povo acredita num lado, e nem por isso você é obrigado a concordar. Em nenhum aspecto. O bom é contrariar, não por motivo de simples rebeldia, mas por coragem. Contestar é uma virtude. Não existe nenhuma certeza nessa vida além da morte. Portanto, sinto muito se alguns acreditaram nisso por toda vida, mas a melhor saída não é aceitar o que te impõem e apenas deixar que isso te angustie a cada dia. Ou pode ser, até, pra aqueles que não possuem a coragem de questionar, e de ir a fundo em cada assunto. Talvez seja mais inteligente não acreditar em nada. Ou acreditar em tudo, quem sabe. Concorde com tudo. Acredite na religião, mas não desacredite na ciência. Reze para Deus, mas visite Jerusalém periodicamente. Vá a missa todos os domingos, mas não esqueça de fazer aquelas besteiras diárias que seus companheiros denominam pecados. Não adianta, se você toma por absoluta uma verdade, mais cedo ou mais tarde vai acabar se contradizendo. Então.. na verdade o melhor caminho a se seguir não existe, depende de cada um. O caminho que você acredita, é o melhor. Independente do que te falem, do que tentem te convencer. Quem tem que acreditar com todas as suas forças, é você. No dia em que você se interessar inexplicavelmente por um assunto qualquer, e sentir uma vontade insana de estudar sobre ele loucamente, vai saber que acredita nele com uma força maior do que todas as outras coisas que acreditou antes. Como eu fiz com esse assunto. Acreditar é algo que se faz ao longo de todos os dias. Você dorme acreditando que vai acordar vivo amanhã. Se não fizer isso, sua vida não anda. Mas não deixe nunca de questionar, de contestar, de ir a fundo em cada centímetro daquilo que você acredita - isso funciona, e muito. Não se sinta mal se um dia você deixar de acreditar em algo que todo mundo acredita. E se um dia você resolver expressar em sua descrença, todos se virarem contra você, e te perguntarem o porquê dessa contestação, a resposta é uma só: você é alguém com muita personalidade.

{Escrito com grande ajuda do maior amigo do mundo, através de muitas discussões, conversas, vídeos, fotos, e etc., Pedro Feital}

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mais uma lição..

Talvez a decepção seja um dos piores sentimentos capazes de se sentir na vida. É um buraco sem fim, um vazio sem final, que te empurra no abismo sem querer deixar que você volte.. O pior é que pra ela não tem cura, ou pelo menos, ainda não encontrei. Por mais que você consiga esquecer temporariamente a dor da decepção, sempre que lembrar dela estará decepcionado como nunca esteve antes. Decepcionado além de tudo, por não ter conseguido ainda esquecer. De repente não haja um remédio, mas uma solução prévia. Andei imaginando uma, pra evitar de me sentir assim mais vezes. Estando decepcionados com alguma coisa, é óbvio que há um sentimento bom que o antecede. Se ficamos decepcionados, é porque acreditamos em algo, e este não aconteceu com o sucesso que esperávamos.. Ou, às vezes, pode ser que nem tenha acontecido. A expectativa é uma coisa gostosa de se sentir. Ela se faz presente na maioria dos sentimentos bons, e é ela que tira nosso sono à noite, quando pensamos no que fazer no dia seguinte em relação a alguém, por exemplo, e a reação que esse alguém vai ter diante a nossa atitude. Planejamos tudo. O tom da voz, a cor do sorriso, a textura do abraço, até as mínimas palavras. Fazemos muito, mas como podemos fazer? É confortável pensar que toda reação alheia vai ser positiva em relação a uma atitude nossa, e em virtude disso, criamos a tal da expectativa. Geralmente acontece comigo nas provas. Estudando muito, ou não, coloco toda minha esperança naquela folha de resposta. Saio mega confiante, mesmo que sabendo que no fundo não fui tão bem assim. Nossa, e como me faz mal quando o resultado não é o esperado. Você se culpa, xinga seu ego, e se deprecia por ter sido tão idiota a ponto de acreditar que aquilo realmente iria acontecer. E se decepciona com o acontecido, e consigo mesmo. Portanto, como tudo que eu já vi nesse pequeno tempo de vivência, a expectativa também tem seus prós e contras. Quando ela é referente a uma pessoa, se torna simplesmente burra. Pelo simples fato de que nos é impossível ler o pensamento alheio. Como vamos antecipar um acontecimento proveniente do pensamento de outra pessoa? Hoje nem sabemos o que nós mesmos vamos acordar pensando amanhã! Imagine na cabeça de qualquer um que seja. Pensei nisso de montão. Como se na prática fosse tão fácil quanto na teoria. Não que seja algo inalcançável, mas é bem difícil.. É quase que involuntário. É inerente a nós guardar pelo menos um pouco de otimismo na cabeça, apesar de saber que este muitas vezes, sem que percebamos, já nos fez sofrer por várias vezes. O melhor mesmo é deixar que as coisas aconteçam naturalmente, sem querer interferir em nada. Sem tentar adivinhar o que vai acontecer, o que você vai ter vontade de falar na hora, o que a pessoa vai lhe responder, quanto tempo vocês vão ficar conversando, se a conversa vai ser produtiva, e assim sucessivamente. Desculpe se estou sendo uma pedra no seu sapato, mas a expectativa é simplesmente ineficaz. Só serve pra que você se decepcione até com a chuva que cai no dia seguinte, quando você dormiu pensando naquele sol maravilhoso que com certeza ia te deixar com o bronze mais lindo do mundo no dia de amanhã. Aí você acorda com aquele barulhinho maravilhoso da água batendo na janela, e, em vez de aproveitar o que realmente está acontecendo, se prende ao que ontem você gostaria que tivesse acontecido. A ordem natural das coisas é a coisa mais linda que existe, sem interferências, sem expectativa. Não digo que você tenha que ficar exteriorizado aos acontecimentos que te rodeiam, a ponto de não querer que tudo dê certo. Mas não exija que tudo saia exatamente como você planejou. Porque não vai ser assim. E mais uma vez, você vai se decepcionar. Talvez, do jeito que tiver que acontecer, vai ser muito mais bonito, completo e colorido do que você imaginou. E aí, acontece ao contrário: você se sente feliz com aquilo. Quando você não põe expectativa, a coisa flui melhor do que você esperava, e aí, você se sente radiante. "Nossa, foi bem melhor do que pensei". Posso estar falando besteira, mas ao meu ver, é muito mais inteligente. A sensação da surpresa é muito mais gostosa. Se prevêssemos tudo o que fosse acontecer, nos decepcionaríamos com a falta de novidade que iria nos cercar. Acho que tive poucas decepções na vida. O ser humano tem mania de só parar pra pensar em determinado assunto quando algo referente ao assunto acontece. Não escrevi isso porque sou uma pessoa frustrada com a vida, é claro que não. Sempre penso que as coisas vão dar certo. Mas tenho em mim a consciência de que, se não for do jeito que pensei, vai ser melhor ainda. E se não for, eu dou um jeito de ficar. Não adianta ficar depositando tudo na coitada da expectativa. Quem faz a cor, o brilho, o sol, a chuva, as palavras, os sorrisos - é você. Você e só você. Quando você descobre que a matéria-prima da sua felicidade é o seu interior, nenhuma expectativa se torna ineficaz, e as decepções, que tanto te incomodavam, agora têm até o seu lado bom: lhe servem como lição.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Inconstante

Porque pensava, porque vivia, porque ouvia, porque errava, porque aprendia, porque falava, porque cantava, porque escolhia, porque queria, porque fazia, porque sonhava .. Sentimentos constantes eram simplesmente exteriores à ela, que tanto mudava, dia após dia. Mudava rápido de idéia, de vontade, de opinião. Não que fosse volúvel, e que não tivesse personalidade sólida, era apenas muito suscetível ao movimento da vida, que consequentemente trazia muitas mudanças a ela. Caracterizava-se a si própria como um ser permanentemente mutável, que, por mais que às vezes não quisesse, estava sempre mudando. Às vezes era bom, pois não deixou nunca que a vida a levasse, sempre tinha controle sobre ela, e fazia da sua própria vida o que bem entendia, sem deixar que ninguém interferisse nas suas escolhas. Mas por vezes, ela se sentia incomodada, pois achava que nunca estaria satisfeita com nada. Algumas coisas lhe aconteceram em seu pouco tempo de vida, e essas coisas lhe fizeram aprender muito - aprendera sobre pessoas, sobre sentimentos, sobre erros, sobre perdões .. Aprendera a dar valor a certas coisas que nunca havia percebido ter valor antes. Houve uma época em sua vida, em que tudo era perfeito. Os pássaros cantavam mais alto, os dias eram ensolarados mesmo debaixo de chuva forte. O cheiro que sentia era sempre agradável, a música que ouvia sempre era a melhor melodia do mundo. Acordava a cada dia com mais vontade de viver, ia se deitar para dormir louca para logo acordar, a viver mais um dia com tanta alegria. Essa felicidade que sentia, era plena. Foi o único momento de sua vida, que se sentira constante. Constante no sentido de ser feliz. Aquela felicidade era imutável, ninguém tirava dela. Foram 730 dias de pura plenitude. Não sabia explicar o porquê de tanta felicidade. Ela só sentia.. Os dias eram tão perfeitos, cada acontecimento se encaixava com perfeição. A vontade de viver florescia no seu coração como as flores na primavera, e a alegria disso tudo até tinha um motivo, e ela sabia exatamente qual. Todos sabiam. Ela exalava essa alegria. Os dias passavam de forma explêndida, e nada a incomodava. Sua inconstância não a perturbava, se sentira completa, como se nada pudesse mudar sua vontade de estar ali. A vida se tornara mais fácil. Os momentos difíceis eram bonitos, as escolhas complicadas eram fáceis, as atitudes eram tomadas com a maior certeza possível. Se sentia segura, amada, plena, feliz. No entanto, infelizmente nesse momento, a mutabilidade que era uma característica inerente à ela, começou a incomodar seus pensamentos. E aos poucos, sem perceber, começou a destituir essa plenitude, e quando foi perceber, já não era mais feliz. Tanto fez, que conseguiu. Aprendeu que às vezes, é preciso sossegar e dormir aos braços daquele momento que mais te deixa feliz. Nem sempre é preciso mudar a toda hora. Aprendera que aquele momento, um momento de pouco mais de 730 dias, fora o melhor de sua vida. E um dia, de repente, acordara com o tempo nublado. E dia seguinte também. E no outro também nublado. Todos os dias o eram, mesmo que debaixo de um sol de quarenta graus. Todas as músicas eram enjoativas, menos as que mais tocaram nos 730 dias. As vozes alheias eram desagradáveis. A comida perdeu o gosto. As pessoas eram simplesmente monótonas. Todas, sem grau de exceção. Os dias ou eram muito frios, ou muito quentes. Não existia clima ameno. Até as aulas de História do Brasil, de que tanto gostava, perderam o tom. A vida perdera a cor, o brilho, a claridade. Os cachorrinhos pelo chão, perderam a graça. Os livros que amava ler, as coisas que costumava fazer, só tiveram amor, nos 730 dias mais felizes e completos da sua vida. Ela não era mais ela. Queria descobrir o porquê daquela tristeza, mas não conseguia. Planejava uma forma de consertar tudo, de voltar no tempo. Por mais que todos dissessem que era impossível, ela pensava contra o mundo, e tentava, tentava, tentava. Caiu, levantou, e as feridas não fechavam mais. Aquela ferida, do maior erro que cometera, não fechava, não sarava, não curava. Quando ela achava que a cicatrização havia começado, a ferida sangrava de novo, sem explicação. Ela queria sair daquele poço que a arrastava pro seu fundo escuro, e roubava o brilho do seu sorriso, que sempre fora tão intenso.. Agora ela sorria sem querer sorrir. Cantava sem querer cantar, ouvia sem querer ouvir, falava sem querer falar. Acordava sem vontade de viver. Sonhava acordada de dia, e dormindo à noite com a mesma coisa. Não tinha mais vontade de contar suas conquistas, muito menos suas derrotas. Não da mesma forma que nesses 730 dias. A esperança a machucava a cada dia. Não conseguia mais curtir o presente, pois só pensava no futuro. Só conseguia pensar em ser feliz novamente, quando conseguisse retomar à sua vida esses dias que lhe foram tão felizes. Lembranças, fotos, músicas. Telefonemas, conversas, promessas. Todas essas matérias-primas da esperança que sentia, pinicavam sua vontade de viver todos os dias. Da hora que acordava, à hora que ia dormir. Ela queria esquecer, pra viver melhor, mas não se permitia. Fora tudo tão perfeito, que não queria nem pensar em esquecer. E mesmo que quisesse, não conseguiria. E mais uma vez, não sabia explicar o porquê. Ela só sentia.. E sente. Ainda sente, ainda dói. Ela quer mudar, quer usar sua inconstância pra conseguir ser feliz de novo. Mas não muda. Muda de ambiente, muda de opinião, muda de gosto. Mas nunca muda de amor. Nunca se desprende desse passado lindo e colorido que lhe entristece mais e mais. Os ares novos que compõem a sua nova vida não têm o poder de tirar da sua cabeça o erro que cometeu, e que acabou pra sempre com a maior chance que tivera, de ser plenamente feliz. Há 455 dias ela se sente assim. Quando vê as pessoas tão felizes, tão completas, tão amadas. Sempre que vê, sua ferida sangra mais. E o sangue não estanca, nunca. Seu coração, durante esses 455 dias, adquiriu sérios problemas na coagulação.. Há 455 dias ela acorda com dias nublados, com o sorriso amarelo. Ao se olhar no espelho consegue enxegar nitidamente o arrependimento. E a cada dia, ela quer mudar. E sua mutabilidade a deixou na mão. A traiu. Deixou-a no chão, sangrando, sofrendo, sem nem lhe dar a mão para que possa levantar e seguir em frente. Nem pra abraçá-la quando acorda de madrugada com seu travesseiro empoçado pelas lágrimas. Pra pegar na sua mão e encorajá-la a levantar a cada manhã, pra tentar sorrir de novo. Ela agora está sozinha.. E a esperança não a abandona. As lembranças, são suas únicas amigas. Só elas. Elas são as que, nos momentos de tristeza, a fazem lembrar que um dia fora a menina mais feliz desse mundo. Por isso, ainda lhe resta lá no fundo uma mínima vontade de acordar todos os dias. Pela segunda vez na sua vida, ela tem um sentimento constante: a culpa.

domingo, 3 de outubro de 2010

ENC:(Sem assunto)

A ausência de idéias iniciais pra escrever, talvez possa parecer um bom motivo para fazê-lo, visto que o melhor jeito de começar um texto, na minha humilde concepção, é não ter a mínima idéia do que se escreve. Não no tocante ao assunto que se trata, é claro que pra defender determinado ponto de vista, precisamos ter conhecimento sobre tal assunto, mas não necessariamente a sistematização da estrutura do texto. Apenas a idéia central é suficiente para que o texto flua com naturalidade. Geralmente começo escrevendo sobre nada. A criatividade é uma figura crucial na escritura, mas não é ela a principal. Só tenho um esboço vago do que vou escrever quando vou contar uma história, que já é algo fixado pela memória.. Fora isso, começo sempre com um texto (sem assunto). Ao contrário do que deveria, o título é o que escrevo por último, depois de ter organizado todas as idéias e no final, ter conseguido assimilar finalmente qual é o assunto do texto que acabo de escrever - porque só o consigo no final. Enquanto escrevo, não sei quem sou, não sei o que escrevo, não sei de onde vêm todas as idéias, toda habilidade, toda destreza.. Simplesmente desconheço a procedência de todas as citações anteriores. A única coisa que sei, é que escrever é o que mais amo fazer. Não sei como comecei, nem onde, nem quando, nem por quê. Mas amo. Ao terminar, e ler, muitas vezes nem acredito que fui eu que escrevi. Não por falta de modéstia, evidentemente. Apenas porque não lembro de onde vieram as idéias. Escrevo com tanta paixão, que as palavras florescem de forma que não sinto. Quando percebo minha tamanha empolgação, estou no final do quarto parágrafo, e aí me desespero porque vejo que escrevi demais. Não que seja um mal, mas em textos grandes, geralmente a idéia central se perde; você fala sobre diversas coisas, e o assunto inicial já não é mais o mesmo que norteia o parágrafo final. Expôr suas idéias num papel, não é a mesma coisa de expressá-las usando o dom da fala. Na oratória você tem a facilidade de articular as palavras com os movimentos da voz, tenta expressar pela fala exatamente a imagem que te passa na mente. Ao escrever, não é assim que a banda toca. Às vezes penso até em deixar de escrever por ter um assunto na mente, aliás. Se torna tão impossível de transformá-lo em palavras, que quase desisto, deixando-o só na idéia. Mas a fome de utilizar todas as palavras conhecidas por mim pra tentar de vez expressar o que penso é tanta, que escrevo. Mesmo que não fique bom. Escrever não é só um modo de mostrar que você sabe. Não é só um meio através do qual você enriquece seu vocabulário. Nem mesmo uma ferramenta que se usa pra convencer alguém de alguma coisa decorrente da habilidade nítida que se vê, por exemplo, a de escrever. Escrever é uma terapia. É uma forma de tentar entender a si próprio. Escrevendo, você é obrigado a organizar suas idéias de forma a compactá-las e entender de uma vez por todas que raio de pensamento é esse que tanto te aflige dia após dia. Não tendo alguém que te entenda nessas aflições, a arte de escrever sempre te é solícita. As palavras são, de longa data, minhas melhores amigas. É nelas que deposito minhas dores, e alegrias, e histórias, e admirações. É com elas que me entendo. É por elas que tenho grande carinho, elas são as que preenchem minhas tardes vazias (quando as são). Um dia se me pedissem para descrever a sensação de ler um texto meu, eu não saberia fundamentar a resposta. É uma sensação única. De orgulho, satisfação, alívio. Quando você escreve realmente com sentimento, transmite-os às pessoas leitoras dos seus textos, e, se você próprio é uma delas, consegue entender-se. Envolve as pessoas nos laços entre as palavras e os sentimentos, entre as dores e os verbos, os amores e as concordâncias. Fácil ter habilidade na gramática. Saber de cabeça todas as definições complicadas de orações subordinadas, coordenadas, e suas adjacências. Não sou formada em faculdade de Letras. Tampouco pretendo. O que tenho em mim não é habilidade, nem conhecimento da estrutura de uma redação. O que eu escrevo é repleto de vida, de amor. Não é sistematizado nem bolado um dia antes. É improvisado, na mesma hora em que é transformado nessas palavras. E o melhor presente que posso ganhar com eles, é ver que minhas palavras fazem algumas das pessoas que lêem, encantadas - seja por orgulho, compreensão, ou apenas admiração. Minha relação com as palavras é das melhores possíveis, e é por isso que tenho tanta paixão por elas. Por saber que elas me confortam, e me prendem num mundo onde nunca são elas insuficientes para caber no limite das minhas idéias, da minha história, das minhas paixões. Deposito aqui, nesse texto, bem como nos outros todos que já escrevi e hei de escrever, todo o amor que houver dentro de mim, e principalmente, todo o amor que eu encontrar dentro do meu mundo.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Todo amor que houver

Recebê-lo, é muito bom. Um gesto de amor, uma gentileza, um beijo, um abraço, um agrado, um presente. Coisas que nos deixam felizes, que nos façam sorrir. É bom, sempre muito bom. Mas tão bom quanto, e quem sabe até mais, é praticá-lo. Corresponder um sorriso, doar um abraço, dar um presente. Gratificante, na verdade; principalmente quando o receptor percebe o quão felicitado está sendo, e consegue retribuir com pelo menos um sorriso de atenção, de obrigado. É engraçado quando chega perto do aniversário, por exemplo, de alguém muito querido.. Queremos ser os primeiros a dar parabéns, começando por ligar na meia noite do dia anterior; ou até mesmo quando compramos o presente uma semana antes e contamos os dias para que possamos entregá-lo. Isso é decorrente da certeza que temos, que nos conforta muito fazer bem aos outros. E não só às pessoas que conhecemos: é preciso fazê-lo até mesmo aqueles que nos são desconhecidos. Por que não? Todos somos dignos de recebê-lo. Todos temos dores diárias, e somos possuidores de virtudes incríveis, de modo a sermos parabenizados uns pelos outros frequentemente. E isso se dá através desses agrados. Nos sentimos estimulados a pensar que somos boas pessoas, ao recebermos certas palavras de afeto, ao recebermos coisas boas de pessoas com quem convivemos, ou até mesmo de quem nunca tivemos contato antes. Aprendi em toda minha vida a fazer o bem. Um dia, quando pequena, estava no mercado com meu pai.. Ele passou por um moço e deu boa noite, e eu sem entender, perguntei se ele conhecia. E ele majestosamente, mais uma vez, me respondeu:'Não, nem nunca o vi. Mas todos somos dignos de um boa noite.' Hoje, sorrir para pessoas na rua e dar boa noite para desconhecidos é uma atitude de plena normalidade, ao meu ver. Comecei a pensar que, há pessoas nesse mundo que estão sozinhas.. E sozinhas, mesmo. Sem ninguém, pra receber um presente, um beijo, um abraço, e até mesmo um boa noite. Ouvindo um boa noite de alguém que nunca tenha visto, talvez por alguns segundos possa pensar que, na verdade, ela não está tão sozinha assim. E dessa forma, podemos talvez transformar a solidão da pessoa em uma alegria momentânea, que seja. Quando puder, faça isso. A melhor retribuição possível vai chegar até você em algum momento. Aquelas frases que vemos no orkut, entituladas "Sorte de Hoje", pra mim parecem irrefutavelmente patéticas. Porém, um dia fui surpreendida com uma que dizia:'O melhor presente que se pode dar é um abraço. Ele é tamanho único, e ninguém vai se importar se você quiser devolvê-lo'. Não são exatamente as mesmas palavras, mas a essência é essa. Presentes são sempre ótimos de serem devolvidos. Sejam abraços, beijos, elogios, palavras - todos as lembranças que pudermos dar às pessoas. Quando fazemos mal a alguém, é claro que esse alguém ficará ansioso também para devolver-nos nossa infeliz atitude, portanto, cutucar os outros de forma errada não é hospicioso.. Bom, mas isso é mais uma forma de te convencer a praticar o bem. Entretanto, você e só você tem que se convencer disso. Faça todo o bem que puder. Sem esperar nada em troca.. Um dia, ele volta quando você menos espera, e felizmente, dez vezes melhor do que o dia de quando você o mandou. Talvez, no dia que o receber, esteja precisando muito. Assim como fez questão de fazer o bem, aquele dia, àquela pessoa que estava realmente precisando dele.

"A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira." (Léon Tolstoi)

* [Em homenagem à Patricia Lagôas..]

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nada

De que adianta serem lindos os jardins, se assim não os vejo? De que adianta coloridos serem os arco-íris, se para mim torna-se preto e branco tudo à minha volta? Não importa se minhas palavras se encontram num laço de alegria e gentileza, elas são secas e tristes por dentro, ao falar de você. De que adianta tentar me enganar, tentar sorrir, tentar não chorar, se a dor invade meus pensamentos quando vem à minha cabeça a certeza do nunca mais? Não adianta ter tudo nessa vida, amigos, músicas, fotos, sonhos realizados, risadas engraçadas .. Os dias se tornam iguais e vazios sem você aqui. Preciso, quero, necessito. Como o ar que eu respiro, se torna essencial essa presença impossível de você ao meu lado. A vida me jogou de um abismo quilométrico ao saber que outra pessoa toma meu lugar agora, pra nunca mais deixar que eu volte... E seu coração nem se lembra mais que um dia eu existi, de forma que caio por fim nesse abismo a não mais voltar, deixando tudo pra trás. A dor toma conta não só desse órgão pateticamente sensível e infelizmente necessário, pois se não o fosse arrancaria-o de mim, mas de todos os outros que me compõem, tornando meu corpo apenas escravo de toda essa dor que no fundo, eu fiz por onde sentir. Mereço sentí-la. De uns tempos pra cá já não dói mais, decorrente do costume, do hábito. Tenho me sentido bem, no fundo, muito profundamente. Como toda dor que de tão forte se anestesia por si só, essa se torna pífia comparada a outras dores maiores como a certeza de que nunca mais te terei ao meu lado. A certeza de que você não vai voltar. Nunca. Nunca mais. Nunca mais vou ouvir suas palavras doces ao telefone nos momentos difíceis. Nunca mais vou sorrir contigo, simultanemente. Nunca mais, da mesma coisa. Nunca mais vou sentir teu abraço caloroso e em seguida um 'eu te amo'. Nunca mais sentir teus lábios nos meus, numa dança sistematizada onde a melodia é o nosso amor. Nunca mais minha alma te sorrirá, e meu coração. Jamais outra vez. Não adianta me enganar. Eu não te esqueço e nunca vou, até meu último suspiro de adeus, que talvez possa estar chegando perante tanta dor que torce esse coração até a última gota, sem deixá-lo sequer escolher se ainda prefere viver, ou deixar esse corpo que já não é nada, sem tuas mãos pra tocá-lo, seus braços pra abraçá-lo, e seu amor pra protegê-lo. É apenas objeto. Vazio, oco, descolorido, sem alma, sorriso, coração, e principalmente, amor.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Epitáfio

"Sem grandes arrependimentos, bela vida por mim foi vivida, belas coisas por mim foram feitas. Chorei por muitas alegrias e ri, depois, de muitas tristezas. Deixei heranças de amor, carinho, paixão, afeto, gentileza, e com certeza, felicidade plena. Vivi cada momento intensamente e aproveitei cada minucioso minuto de alegria e também de desamor que me foi presente. Talvez tenham me faltado poucas coisas para a perfeição de vivência, como enxergar que o ser humano às vezes nem sempre é tão humano, ou enxergar que nem todas as flores são tão coloridas, ou que nem todo carnaval é folia. Mas com certeza vivi momentos que me proporcionaram uma enorme bagagem para que pudesse agora, no caminho da vida eterna, descansar com a certeza de que cumpri minha missão onde fui mandada a fazê-lo. Amei, chorei, sofri, me arrependi, caí, levantei, aprendi, ajudei, fui ajudada, abracei, beijei, sorri (muito), agradeci, gratifiquei, usei, comprei, gastei, estudei, escrevi, li, cantei, dancei, desfilei, falei, pulei, amei de novo, sorri de novo, abracei, beijei e ajudei, de novo. Admirei muitas coisas e pessoas, muitos livros e gravuras, muitas músicas e fotos. Chorei com músicas, assim como também as ri. Tirei as dúvidas que me pinicaram a todo momento assim que tive oportunidade. Congratulei muitas pessoas, e critiquei bastante delas. Conscientizei. Ah, isso com certeza. Deixei textos de puro amor, sutilíssimos, cujas mensagens foram compreendidas por quem lia com o coração. Tenho certeza que já pratiquei muito o bem. Muito, mesmo. Minha vida foi um universo onde cada pequeno astro sem luz própria depois se tornou auto-iluminado pelo maior de todos: o amor. O único que me guiou e não soltou minha mão em nenhum dos momentos, até os de maior desespero. Me iluminou este em tudo que me cercara. Não o amor de uma forma abstrata, mas transpassado através de pessoas que me doaram-no durante essa longa estrada que acabei hoje de percorrer, com o maior alívio possível, decorrente da certeza de que a essa herança foi a melhor coisa que pude deixar pra trás. Meu pretérito foi muito, mas muito 'mais-que-perfeito'. Minha vida não poderia ter sido melhor. E tenho dito."

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Outra vez, novamente ..

Mais uma vez, aprendizado cotidiano. Outro dia normal, apesar da prova de hoje que foi um diferencial a mais, e que me fez acordar outra vez com aquela cara de poucos amigos (ainda bem, só a cara, diga-se de passagem). E fui à faculdade, fiz a prova, saí segura, recebi ligações de boa sorte que foram super bem-vindas e em função disto e também do meu estudo, saí satisfeita com o possível resultado. Já nervosa com a prova de hoje à noite, e mais, com a prova de quinta-feira, andei para o ponto de ônibus rumo à minha casa ... Lembrei no caminho de pagar uma conta, passei na loteria, comprei duas raspadinhas, não ganhei nem cinquenta centavos (pra variar), e aí sim, fui pegar o ônibus. Engraçadas, histórias de ônibus. É que vejo tanta coisa nova, tanta gente diferente.. Me sinto às vezes uma jeca no meio da cidade, como se eu nunca tivesse visto um monte de gente na minha vida. Enfim .. é que essas diferenças me encantam, a forma como as pessoas vêem as coisas, e as fazem, de forma que se divergem cada vez mais; E hoje, mais uma vez vendo pessoas de cara feia, que acabaram de acordar, que talvez estivessem indo trabalhar, ou não, apenas passeando, ou indo fazer outras coisas... E vendo outras que te sorriem um 'bom dia' meio oculto, outras solícitas que perguntam se quer que segure sua bolsa, pasta e adjacências (incluo-me nessas), outras que te olham com nojo daquela gente, que olham pra tudo como se estivessem a 89 graus de superioridade. Reparando tudo isso, as pessoas solícitas te confortam em detrimento das outras que, se pudessem, nem andariam no mesmo patamar que simples pessoas mortais. Parando em um ponto de ônibus, hoje tendo a oportunidade de manter os pés no chão porque esqueci meu iPOD, que me faz esquecer da vida quando o trago comigo, reparei na sapatilha de oncinha de uma bela moça que entrou, depois no all star de uma menina que eu tô louca pra comprar mas não acho, e depois numa senhora, outra vez, muito, mas muito fofa. Essa era diferente da outra, não era aquela cara de vovó pedindo proteção, apesar da muita idade. Era uma mulher decidida, com as marcas de expressão bem fortes, bem arrumada, e portanto, passava uma imagem de durona, de séria, de rigidez. Como estava eu apenas com uma pasta e minha habitual bolsa levinha, fiz mais do que segurar as duas bolsas pesadas que ela carregava, mais uma vez levantei-me e ofereci o lugar. Esperando apenas um aceno com a cabeça significando aquele 'obrigada' tímido que geralmente fazemos, principalmente no ônibus, fiquei surpresa quando ela, muito gentil, sorriu-me uma linda sinceridade e agradeceu com reciprocidade o meu gesto de gentileza, afetuosa e simplesmente linda, outra vez. Na mesma hora, pegou minha pasta sem mesmo pedir e a segurou, antes que eu pudesse dizer não. Pediu pra segurar minha bolsa, e eu respondi que era leve, não havia necessidade, e em seguida, agradeci. Muito gentil, mais uma vez, ela me respondeu: "Obrigada você, pois a minha está realmente pesada". E depois disso, me vi participando da conversa baixinha em que estavam envolvidos ela e o homem ao seu lado, que antes estava ao meu lado, e confesso que nem reparei. Pude entender pela conversa que ela trabalha há doze anos no Hospital do Câncer. E não entendia ainda o porquê das bolsas pesadas. No desenrolar da conversa, entendi depois que ela apenas trabalha artesanalmente; Fazia sabonetinhos bonitinhos com toalhinhas, pois lá eles dão presentinhos para as pessoas em estado terminal. Ela sai da Freguesia para Vila Isabel de segunda a segunda, há doze anos, levando cinquenta sabonetinhos e toalhinhas em CADA bolsa. E passava-nos isso com tanta alegria, mas tanta.. Com uma satisfação inexplicável, irrefutável, indescritível. Sabe, orgulho próprio? E com razão. Carregava consigo um aperto no coração, de saber que aqueles presentinhos, seriam os últimos das vidas daquelas pessoas. Mas, ao mesmo tempo, um conforto incrível, que provinha da certeza de que ajudara todas elas de alguma forma, com sua pequena contribuição, linda, linda e linda. Na hora não caiu nenhuma lágrima, e fiquei outra vez surpresa com isso. Na verdade fiquei mais feliz do que triste, mais satisfeita do que balançada. Mais orgulhosa, dela, e principalmente, de saber que ainda existem pessoas assim.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

" Só se vê bem com o coração...

... o essencial é invisível aos olhos." Célebre frase de Antoine De Saint-Exupéry, carrega consigo uma mensagem tão subliminar que chega a ser, talvez para alguns, imperceptível. Em seu filme 'Pequeno Príncipe' repassa a mensagem através de uma personagem que descreve a frase como sendo o segredo do amor; E nada mais certo do que isso, não? Como mais podemos distribuir amor por aí, senão usando o coração?
O texto de hoje talvez seja pequeno, por falar de algo tão simplório, porém, mais uma vez, basta prestar atenção em cada fato da história pra que possamos entender a profundidade do que o texto quer passar; Ouvi um dia alguém contar que viu uma plaqueta em cima da mesa de uma pessoa cujo interior não demonstrava sequer preocupações com assuntos profundos no que tange à sentimentos, amor, afeição e outras coisas mais. Era ela, coberta de futilidade. De ouros, grifes, pose, dentre outros. E esse alguém, narrador da história que me contara um dia, pensou com seus próprios botões se uma pessoa tão desprovida de sensibilidade teria capacidade suficiente para entender a plaquinha que fora posta sobre a sua mesa de trabalho. Quem sabe essa pessoa tenha ganho de presente, sendo assim, nem se dado ao trabalho de lê-la e perceber as sutilezas ali intrínsecas. Porventura, pode até ter achado bonitinha e ter comprado - mas pura e simplesmente por este motivo. E escutando essa história que na verdade acabou de uma forma meio que incompleta, por assim dizer, - pois quem me contou apenas quis contar um fato, sem intuito de discutir sobre ele - comecei a pensar, agora com os meus botões, que às vezes precisamos substituir os cinco sentidos que nos foram concedidos por um órgão de vital importância não só física, mas mormente emocional: o coração. Em quase tudo que escrevo cito o coração, é fácil perceber. Pra mim é algo tão importante, que vale ressaltar a cada mensagem que tento passar. Precisamos ouvir com o coração, pra que a história, o pedido, a súplica ou até mesmo uma simples conversa, se torne motivo de nossa atenção e sensibilidade. É extremamente necessário que falemos com o coração... Com uma bela dose de amor em cada um dos vocábulos que pronunciarmos, tudo se tornará mais fácil de ser ouvido. Precisamos usar o tato, que é um deles, com amor; até um aperto de mão se torna caloroso se for realmente sincero. Até mesmo o olfato, quando sentimos um perfume, que mesmo que suave, se torna uma essência dos deuses se prestamos atenção à tão boa sensação que nos proporciona; ou uma comida de vovó que se torna muito mais cheirosa se pararmos pra pensar em quanto amor ali ela colocou. É preciso que enxerguemos tudo à nossa volta também com o coração; até porque, há coisas hoje em dia que nos cegam profundamente, e os olhos apenas tornam-se insuficientes para enxergar a fundo algumas das coisas. Não basta tentar ouvir apenas com a forma física dos nossos ouvidos, nem falar apenas palavras vazias e ensaiadas que nos são ensinadas ao longo da vida. Discursos pífios, frases automatizadas sem realmente possuir alma ao falar. Tudo o que nos é realmente essencial, se torna invisível aos olhos de alguns, aos olhos de quem não quer e nem faz questão de querer enxergar. Quando conseguirmos olhar para crianças abandonadas com olhos doces, saberemos que nosso coração está ali, participando tacitamente. Quando ouvirmos histórias tristes de pessoas necessitadas para que posteriormente possamos ajudá-las, na verdade nosso coração assumirá mais uma vez sua função. Quando nossas palavras forem pronunciadas com amor, com carinho, com cautela, preocupação... Na verdade poderemos notar que quem está falando não é realmente o nosso corpo físico, nossas cordas vocais; e sim as palavras que compõem esse coração, que é tão importante pra consquistarmos coisas e pessoas ao longo da vida, e viver cada dia com a maior quantidade de amor possível; Para isso é preciso usar o coração, de verdade. Ele não é só mais uma peça vital do corpo humano que serve apenas para bombear sangue. As piores assístoles acontecem na verdade, com quem não sabe agir com o coração. Quem está cego pela ambição, pela avareza, tem seu coração estagnado num mundo de futilidades, supérfluos e malícias sem importância alguma. Há pessoas que, mesmo sem um tostão no bolso, sabem usar o coração. Essas pessoas são abençoadas. Abençoadas com o dom de ver, sentir, tocar, falar, ouvir, e principalmente amar com a parte mais importante que nos constitui. Um pedaço lindo, que nos dá vida, que nos mantêm vivos, acima de tudo; Essa chama que não nos deixa nunca no escuro. É ela que nos dá a desculpa de cometermos boas ações de vez em quando, mesmo os receptores desta não sendo merecedores. O coração é cego de maldade - só enxerga as melhores coisas, e só funciona realmente, pra quem acredita no seu poder. O poder mais lindo, que nos foi concedido: o de amar.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Historifícios

Poucas vezes retrato, escrevendo, assuntos que dizem respeito especificamente a mim; Essa é uma das poucas, talvez uma das únicas. Na verdade, não é tão 'sobre mim' assim... É sobre uma das coisas que mais efetivamente fazem parte de mim. A História. História do mundo, história da vida, história de tudo. Até mesmo histórias alheias me interessam, contos de fadas, fábulas, crônicas ... Fictícias ou baseadas em fatos reais, me encantam, todas. Mas em principal, as verdadeiras. A do Brasil chega a me entontecer, ao estudá-la. Cada detalhe me prende incrivelmente e me puxa pro passado, de forma como se eu tivesse vivido cada dia, de 1500, até os dias atuais. Amo a transição das épocas; as mudanças políticas, econômicas; as modas, os estilos musicais - tudo. Simplesmente tudo me faz ter vontade de arrumar uma máquina do tempo pra curtir cada época passada. Escutar músicas dos anos 80 me faz chorar, e assistir filmes no Tele Cine Cult me emocionam só de ver aqueles pontinhos na tela em função da antiguidade do filme. É tão bom ver como as coisas evoluem... Como as pessoas se viravam antigamente, como eram tão felizes apenas com as poucas coisas que tinham. Dá vontade de nascer e renascer e lembrar de tudo que fiz em outras vidas, pra conseguir curtir os diferentes momentos da história. Porém, pessoas como eu, bastante ligadas à história de uma forma geral, tendem a ser um pouco nostálgicas. Estudar história, ler sobre ela, principalmente a contemporânea, acaba me lembrando momentos da minha vida, que foram relativamente poucos, comparados à por exemplo, os da minha avó, em 68 anos. Afinal, só vivi 18. Mas meu coração é tão saudoso que tenho a oportunidade de sentir falta de tudo que já vivi; Era tudo tão gostoso, que dá um aperto no peito só de lembrar. Quando eu era um pinguinho de gente tão frágil, e chorava horas quando minha mãe me deixava no colégio e ia embora; Quando eu passava muitas tardes vendo Castelo Rá-Tim-Bum, ou até mesmo muitas manhãs vendo TV Colosso. Minha maior ambição, à época, era aprender a ler, pra entender aquelas palavrinhas que vinham debaixo das figuras que eu adorava olhar... Saudade de quando eu cabia no colo da minha mãe, de forma que podia deitar em seu peito e dormir ali. Saudade de quando eu podia sair correndo de uma distância razoável e pular no colo do papai quando ele chegava lá pra me buscar. Eles ainda estão aqui, e eu tento caber em ambos os colos, é claro. Mas nunca é da mesma forma. Naturalmente, nosso cordão umbilical vai se extinguindo com o tempo. Começamos a perceber que nossa história vai sendo escrita com a nossa própria caligrafia, não mais com a mão macia de nossa mãe segurando para dar firmeza na escrita. Precisamos tomar certas decisões e atitudes, e pra isso, desvincularmo-nos pelo menos um pouco do que nos prende a eles, no tocante à responsabilidade sempre neles depositada. Nossa história de vida acaba se fundindo à outras histórias que temos oportunidade de conhecer, de ler sobre, e acabamos associando uma à outra. Pode ser que seja só comigo, mais uma vez me depreciando, mas, meio retardado da minha parte pensar nessas coisas. Só que escutando Beatles essa semana voltando da faculdade, me veio à cabeça imagens dessa época que nem eu sei de onde tirei, mas me fez pensar muito no assunto. Assim como me fez pensar que eu queria voltar atrás pra me aproximar de novo dos meus pais de maneira totalmente dependente. Essa dependência, de amor, carinho, afeto, é saudável. Plenamente saudável. Fico pensando, quando estudo as datas, sempre meu primeiro raciocínio é lembrar se determinado acontecimento ocorreu depois do nascimentos dos meus pais; e fico imaginando os dois em meio àquilo tudo... Depois imaginando quando nasci, e tudo vem à tona de novo. Sou suspeita pra falar, mas a História, além de conhecimento, proporciona uma saudade gostosa demais - que faz rir, faz chorar. Faz a gente tentar se aproximar, coisa que talvez não façamos há um bom tempo. É bom às vezes fazer uma forcinha pra caber no colo da mamãe como fazia a 15 anos atrás. É meio triste, a nostalgia. Mas é necessária. Sua história tem que ser escrita com as próprias mãos, como eu já havia dito. Por mais que não sintas mais aquela mão macia te apoiando, nunca vais deixar de lembrar dela. Não se permita deixar de lembrar. As primeiras páginas da sua história são as ferramentas mais importantes pra que você possa escrever o epílogo com a maior destreza possível. Assim como precisamos dos capítulos iniciais para entender uma história qualquer, precisamos da nossa base pra construir a nossa história. Cada foto do passado, cada artifício que te faça lembrar da sua história, é fundamental para que nas últimas páginas, você possa voltar à introdução e se lembrar de como foi bom escrever cada página desse livro. Esse livro particular, de história. Essa história de cada um. Essa história, essa saudade, esses momentos, essa nostalgia, essa destreza, essa saudade, esse afeto, essas fotos, essas cartas, essas músicas, essas lembranças. Essa história, que dá vida à nossa história. Essa história que é a vida.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

De corpo e, principalmente, alma

Entregar-se. É um ato que devíamos praticar diariamente, em todas as nossas atitudes. Todas mesmo, desde o beijinho de bom dia, até às mais esforçadas horas de estudo e trabalho. A dedicação é de suma importância para fundamentar com exatidão as coisas que devemos que fazer; Quando passamos a fazer as coisas não só expondo em força nosso corpo, nosso lado físico, e sim concomitantemente nossa alma e coração, as coisas se tornam mais fáceis e até gostosas de serem feitas. Quando por exemplo, exercemos a profissão que gostamos, é muito prazeroso até mesmo acordar cedo para ir trabalhar. E não só isso, a má vontade é um empecilho e tanto para nossa felicidade em relação à rotina. Costumamos não gostar de ir pra escola, não gostar de acordar cedo, não gostar de trabalhar. Contudo, quem foi que disse que essas coisas precisam ser feitas sem um belo de um sorriso no rosto? Acordar cedo nem sempre precisa ser um martírio, muito menos, trabalhar e principalmente (no meu caso), estudar. Sabe quando comemos uma comida saborosa e alguém diz que é porque foi feita com amor? É disso que estou falando - quando nos empenhamos a fazer algo, mesmo que não dê certo, a sensação de ver aquilo pronto, dá gosto. Porque nesse caso, temos ao menos o consolo de que, apesar dos apesares, tentamos. E não só tentamos:dedicamo-nos, em cada minuto de nossa tentativa. Isso é taticamente animador para nossas próximas atitudes; Quando vemos que se entregar de corpo e alma em alguma coisa vale tanto a pena assim, nos sentimos com mais vontade ainda de nos fazê-lo, e assim sucessivamente. Portanto, tudo o que for fazer, faça com vontade, faça com a alma. Tire a força de bom espírito de dentro de você e pratique todos os seus atos com a maior boa vontade que conseguir. Estimula as outras pessoas a fazerem também as coisas com maior afinco, e principalmente, melhora sempre a qualidade das coisas que você se propõe a fazer. Mesmo. É um brilho incrível que emanamos quando temos a oportunidade de entregar nosso coração a algo que estamos realizando - além de o resultado ser maravilhoso, nos sentimos felizes pela nossa capacidade de fazer algo tão bem. Então, pense duas vezes na hora de xingar até a oitava geração da sua professora quando ela lhe mandar fazer um trabalho. Apenas olhe para si, e acredite que você consegue. Logo após, faça tudo com a mais pura luz da alma. Ilumina, clareia os caminhos pelos quais você vai percorrer a qualquer fase de sua vida, e torna mais fácil a despreocupação com os obstáculos que você vai enfrentar durante sua caminhada, em que muitas vezes você vai ter que realizar coisas contra a sua vontade, que se tornarão de plena facilidade e leveza, se você lembrar-se sempre de assinar no final junto ao seu nome, a participação especial dessa parte tão única de você, que se chama alma, e que por conseguinte, te proporciona algo incrível, cuja coisa costumamos apelidar de dedicação.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Até a piada, eles nos roubaram

Mais um absurdo político pra nossa coleção ... O legislativo, nos bastidores, é quase sempre obrigado a suprir as exigências dos políticos. Aliás, quase todos nós. Precisamos sempre mover nossos pauzinhos para nos enquadrar nesse padrão tão absurdo constituído pela política nacional. Novidade: políticos também têm sentimentos! Que lindo. Agora não podemos mais rir às custas deles. Às custas das promessas ridiculamente incumpríveis que eles fazem questão de nos fazer acreditar a cada época de eleição. E o pior de tudo é que nós acreditamos, algumas das vezes. Alguns políticos conseguem manter a cara lavada de honestidade, e nós acabamos finalmente doando votos para quem mais uma vez, não merece. Só tem um pequeno problema. Eles esquecem que algumas de suas campanhas eleitorais são realmente grandes piadas. E mais engraçado ainda do que a campanha, é a dificuldade imensa de pôr em prática aquilo que nos foi dito, e as caras perplexas que aparecem após o término das eleições. Confiamos, acreditamos, perseveramos. Porque infelizmente, a saída é essa. É obrigatório votar. Afinal, o Brasil é tão democrático que não podemos abrir mão da democracia: somos obrigados a votar isonomicamente, a não ser por algumas exceções previstas na lei. No entanto, ficamos às vezes sem muitas opções de candidatos. É claro, não quantitativamente. A qualidade prática principalmente, nos afasta de qualquer ânimo em relação a votar. Votamos na cunhada da nora da tia da nossa prima porque ela precisa de uma força; Lembrando que essas não são citações genéricas, as pessoas que têm o mínimo de senso, conseguem fazer uma forcinha pra tentar prestar atenção nas propostas políticas e votar com pelo menos uma gota de consciência. Contudo, mais uma vez infelizmente, a maioria da população não age assim. E há duas (para mim) explicações irrefutavelmente notáveis: a falta de educação estrutural pela maioria populacional, e em principal, a falta de interesse pelo assunto política. E é natural demais. Isso nos foi imposto, como todo mundo deve ou deveria saber. Essas maçantes propagandas políticas são propositais. Ou você acha que os políticos realmente querem que entendamos do assunto para protestar ou agir contra? Os que tentam fazer isso são rapidamente censurados, impedidos. E é disso que esse texto trata. A Lei 9.504 do ano de 1997, impede TV e rádio de ridicularizarem candidatos em campanha. Agora me respondam: aonde fica a Liberdade de Imprensa? E principalmente, a Liberdade de Expressão? Com certeza, eles conseguiram uma liminar, mais uma vez, para protestar contra nós, os vilões da história. Os humoristas, que são os únicos que tentam nos abrir os olhos de certa forma no tocante aos absurdos ditos pelos políticos que muitas das vezes são ininteligiveis a nós, mortais (não políticos), são censurados. São obrigados a calar a boca em função do respeito à eles. E eles merecem respeito? Se não respeitam à nós, a nossa sociedade, às nossas esperanças, às nossas esperas, eles não merecem respeito algum. Respeito é utilizar os anos de mandato para cumprir os projetos, para tentar ajudar nas melhoras do nosso país. Respeito é deixar que nos expressemos e falemos mesmo tudo o que pensamos. Porque, afinal, fazer tudo por baixo dos panos é muito fácil. Quando ninguém sabe o que acontece atrás da cortina, fica fácil convencer todo mundo de que tudo é feito na mais pura honestidade, apenas em prol de desenvolver cada vez mais nosso país. Alguns deles devem achar graça em si mesmos. Não é possível. É cansativo ter sempre que aturar a mesma coisa, de votar acreditando em uma mínima melhora, e não ter resultado algum. Vai chegar o dia em que os candidatos ainda vão guardar pra época das eleições um pingo de dignidade. Vai chegar o dia em que os projetos sejam finalmente postos em prática. Vai chegar o dia em que não seremos mais explorados financeiramente por eles, sem ver aonde nosso dinheiro vai parar. Vai chegar o dia em que eles investirão na saúde, segurança e educação de nós e de nossas futuras crianças. Vai chegar o dia em que as pessoas terão o mínimo de senso para concordar que nossos políticos precisam pelo menos de uma ficha limpa para se manterem dignos em seu cargo. Vai chegar o dia em que as palavras 'política' e 'corrupção' não se encaixarão na mesma frase. Só Deus sabe quando vai chegar. Enquanto não chega, o que nos resta é dentro de nossas própria palavras, seja em vídeos, textos, cartas, expressar nosso intenso pesar pela sociedade brasileira, que fica nas mãos sujas desses ícones da corrupção. E principalmente, torcer juntos para que a situação não piore, até que esse dia chegue...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sem querer, três lágrimas

Hoje, 19/08/10, quinta-feira, mais ou menos às 10:00 h da manhã, rotina básica de acordar, tomar um banho e ir pra faculdade. Não muito rotineiramente hoje, em função do mau-humor que me abraçou de madrugada em meu pesadelo, e só me largou depois de um fato muito interessante do meu dia. Levantei, fiz tudo que costumo fazer, desci, dei bom dia à vovó, dei bom dia pros três cachorros mais lindos desse mundo, e caminhei em direção ao ponto de ônibus, pois, apesar do mau-humor, restava um pouco de paciência para andar um pouco e tentar espairecer, ao invés de desistir de sorrir e pegar um táxi. Geralmente o mínimo de contato que tenho com pessoas na rua consegue destituir meu mau-humor transformando-o apenas em sono, o que já é um grande passo. Então eu fui... A aula começava às 10:20, e dava tempo ainda de caminhar devagar. Acordei hoje meio pensativa, meio filosófica. Muito perceptiva. Muito mesmo. Reparando cada coisa que aconteceu do caminho do meu portão até o ponto de ônibus. O quão volúvel minha cadela consegue ser em menos de cinco minutos, quando late feito louca ao ver um bichano passando na rua, e como abaixa as orelhas graciosamente quando sente minha mão fazendo carinho. Percebi o quanto é interessante fazer tanto sol e mesmo assim, minhas pernas tremerem de frio. Quanta peculiaridade há no mundo, quantas características diferentes configuram cada coisa ao nosso redor. Bom, resumindo essa parte do caminho, esperei o ônibus, e quando este chegou, nele entrei. Fui a primeira, e tive a oportunidade de ver todas as pessoas da fila entrando, podendo mais uma vez reparar em cada uma delas. Umas sorriam porque hoje finalmente fez sol e elas puderam de uma vez tirar o casaco. Outras carregavam a mesma cara amassada de sono que eu, e pude perceber que nem bom dia para o motorista elas deram. O ônibus foi andando, parando em cada ponto, e pessoas dos mais diferentes jeitos iam entrando. Comecei a reparar na minha camisa quadriculada em preto, branco e mostarda, em como as pessoas deviam me olhar também com aquela cara de sono dentro daquela camisa enorme, ou no meu esmalte vermelho-melancia, ou no habitual pacotinho de M&M's de chocolate branco que eu tinha aberto devia fazer uns 5 minutos. Comendo um por vez e reparando como são bonitinhas aquelas coisinhas coloridas e tão gostosas, entrei num momento de êxtase quando ao mesmo tempo, senti o gosto do chocolate, senti o sol batendo no meu rosto, e o mais importante: vi um casal de velhinhos entrando juntos no ônibus. Eu tenho uma síndrome louca de paixão por velhinhos. Especialmente os casais, acho que é porque sonho com isso. Ambos agasalhadinhos, em meio àquele sol, apesar do frio. Ela carregava uma bolsa, e ele também; isso dificultou um pouco a passagem pela roleta, mas para eles parecia fácil, porque estavam juntos. Se ajudaram, e passaram com facilidade. Ver os dois juntos e tão felizes me encantou, e tive a sensação de que conseguia ver o filme da vida deles passando na minha frente. Pareciam estar juntos há pelo menos uns cinquenta e poucos anos, e passado isso, ainda eram tão transparentemente felizes. Pensei em quantas coisas passaram juntos, em quantas tristezas, quantas perdas. Mas lembrei também de quantos momentos lindos tiveram a oportunidade de compartilhar, e conseguia ver tudo isso em um filme em preto e branco, imaginando-os com aquelas roupinhas que se usava antigamente; Então, o ônibus estava um pouco cheio, porém havia lugares separados. Aparentavam ter, os dois, uns oitenta anos, aí o motivo de minha maior emoção. A velhinha sentou-se, e esperou para ver onde ele se sentaria. Ninguém levantou porque havia lugares vagos em outros bancos. No entanto, ele não sentou. Ficou ao lado dela, de pé, apenas para ficar perto, mesmo que estivesse desconfortável. Fico imaginando que ele tenha consciência de quão ancião ele já é, então queira aproveitar cada segundo que ainda tem do lado de sua amada. Ao ver sua atitude, dei um sorriso, o primeiro do dia, e senti uma gota caindo em minha mão próxima à boca levando mais um M&M. Sem sentir, emocionei-me a ponto de fazer brotar uma lágrima, e de tão natural que foi, só percebi quando senti aquele pinguinho caindo em minha mão. Então, eu que tentei sentar o mais longe possível de todo mundo pois não estava afim de demonstrar sinais de simpatia hoje, me levantei e ofereci o lugar aos dois. Toda atrapalhada com o pacotinho de M&M's, dois cadernos na mão, a bolsa e o celular, levantei me segurando, e ainda com lágrima nos olhos, fui oferecer-lhes o lugar. Eles saíram de onde estavam e lá foram os dois, se ajudando para não cair, sentar juntinhos, um perto do outro. Ver os dois juntos e sorrindo me fez tão bem, mas tão bem, que se necessário fosse teria ido de pé na frente deles só para ver aquela cena tão linda. Eu não conseguia parar de olhá-los. Foi incrível, um momento único. Eles conversavam entretidamente, e pareciam nem lembrar que já eram tão velhinhos e infelizmente debilitados. A alegria era notória em seus olhos pequeninos, afogados em sua conversa que parecia tão interessante. Ainda sem conseguir despregar meus olhos daquela situação, e sem conseguir tirar o sorriso do rosto, fiquei ainda mais emocionada quando o velhinho tirou seu casaquinho de lã e passou em volta das costas dela, a fim de protegê-la do vento oriundo de outra janela. Ela se voltou para ele e sorriu, expressando o mais puro amor e gratidão. Suas mãos enrugadinhas entrelaçaram-se, e então recostaram-se no banco e seguiram viagem. Quando consegui voltar ao meu planeta, estava quase passando do ponto, então me levantei rápido, e mais uma vez atrapalhada me dirigi à porta do ônibus. Quis dar uma última olhadinha. Quando passei perto deles, olhei bem ao fundo dos olhos dela, e quis aquele olhar pra mim. Transmitia paz, felicidade, satisfação, amor, plenitude. A segunda lágrima caiu quando ela me sorriu, transmitindo ainda com mais efetividade a gratidão por eu tê-la ajudado a passar mais dez minutinhos ao lado do amor de sua vida. E pude nessa hora olhar tão fundo nos olhos dela que consegui ver ali meu futuro, minha felicidade daqui a alguns sessenta e poucos anos. Desci do ônibus com um aperto enorme no coração... Queria poder ficar ali, admirando. Queria saber pintar, pois faria um quadro daquela cena. Ou talvez uma foto. Qualquer coisa que me fizesse lembrar com clareza uma das coisas mais lindas que já tive a oportunidade de ver. Meu mau-humor se foi, pelo menos parcialmente, quando percebi que não havia motivos de estar assim já que tenho tanta estrada ainda para viver, com coisas tão bonitas de se ver. Fui caminhando em direção à faculdade e sorrindo para cada pessoa que me olhava. Acho que hoje fui tachada de retardada. Mas não importa, afinal... O mais incrível foi na terceira lágrima, que caiu quando consenti à mim mesma a promessa de nunca mais esquecer desse dia.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Literalmente, uma questão de tempo

São inúmeras as vezes em que ouvimos falar a palavra tempo em um dia. Na rua, no telefone, na televisão, nos jornais, revistas... Pode ser tempo de chuva, de sol, de vento. Um minuto, um dia, um mês, um ano. Alguém já parou pra se perguntar há quanto tempo existe o tempo? Se tudo gira em torno dele, como pode ele ter um começo, ou um fim? As indagações são infinitas quando pensamos nesse assunto como um todo, apesar de ser algo tão simples e tão fácil de falar sobre. Um dos conselhos que mais ouvi em minha vida, e acredito que a maioria de nós, é o bom e velho: "Relaxa, isso é questão de tempo". E acho que foi o que mais me serviu e o mais verdadeiro de todos, por mais que pareça meio piegas, ajuda a confortar-nos diante de situações complicadas no que diz respeito ao processo de nos acostumar com alguma coisa. Bom, eu costumo dizer que só há um remédio tão eficaz quanto o sorriso: o tempo. E aprendi isso pelos métodos mais empíricos possíveis. Hodiernamente, de tanto eu ouvir esse conselho ao longo destes dezoito anos, cinco meses e oito dias, sinto-me mais confortável e paciente perante o fato de que tudo leva um tempo para acontecer. Eu tinha um problema sério de desacreditar na eficácia das coisas em função de sua demora, e por muitas vezes nem experimentava por achar que não dariam resultado; de uns tempos para cá mudei, não sei bem o porquê. Mas com certeza, alguma coisa de muito diferente aconteceu. No entanto, a maioria das pessoas fica estagnada no tempo, ou tem medo do tempo. Medo que outro tempo volte, medo que esse tempo passe. Naturalíssimo. Temos esse medo. Por mais que tenhamos que ficar relaxados em função do 'tudo passa', precisamos entender que o tempo leva menos de um segundo pra passar. Menos de um milésimo de segundo. Na verdade, não leva nada. Quando menos esperamos ele já passou... E aí temos aquela sensação de 'Nossa, o Natal já é semana que vem?!', porque não damos tempo à nós mesmos. O tempo vai passando, passando, nos carrega pela mão e a gente nem sente... Ao nos dar conta disso, nossa infância passou, a adolescência, a fase adulta; E aos 50 anos, geralmente, resolvemos lamentar pelo tempo ter passado 'tão rápido'. É o que acontece com a maioria de nós, e o que temos a fazer é evitar que aconteça. Evitar que aconteça no tocante à dar tempo ao tempo, deixar que o tempo nos dê tempo. E principalmente, nos permitir ter tempo para nós mesmos. Parar um pouco de nos preocupar com todos à nossa volta, e lembrar sempre da pessoa que mais importa (ou pelo menos deveria) para cada um de nós: nós mesmos. E esse tempo é fundamental para todas as decisões, os cuidados, as atitudes... Tudo que nos envolve precisa de tempo. Por isso, aprenda a dar tempo aos outros, para que ganhe também o seu tempo. Aprenda que o tempo, por mais que seja algo tão comum, é uma das partes mais importantes de você; se não separar pelo menos 10 minutos do seu dia para si, acaba se esquecendo que o tempo passa a cada segundo... Cada hora que você esquece de você, é uma hora a menos que terá no futuro para aproveitar. Separe um tempo para si. Para se cuidar, para se amar. Para descobrir quem é você; Descobrir o que você mais gosta de fazer, o que te faz sorrir, seus medos, seus sonhos. Pode ser que, quando parar para fazê-lo, nem conheça realmente as pecinhas que constituem essa escultura maravilhosa que você é; E isso, como todas as outras coisas importantes da vida, leva tempo ... Mas, se você não se permitir esperar para ver o resultado, nunca vai descobrir realmente a falta que o seu tempo faz, e talvez quando perceber quando tempo desperdiçou por ocupar-se com os tempos alheios, já tenha passado tempo demais... E aí já não terás mais tempo suficiente nem para pensar em quanto tempo desperdiçou fazendo coisas que não eram de seu pleno interesse, mas já não haverá jeito. Portanto, não deixe passar mais tempo. O tempo mais importante que existe é o que envolve principalmente, você. Faça chuva ou faça sol, em um dia ou um milênio, sempre o tempo mais importante é tempo que você resolver chamar de seu.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Afinal amar, nunca é demais

Afeição profunda a outrem, a ponto de estabelecer um vínculo afetivo intenso, capaz de doações próprias, até o sacrifício. Dedicação extrema e carinhosa. Apego, carinho, ternura. Cuidado, zelo. Amor, amar. Amantes, amásias, amores. Como é difícil falar de algo tão complexo e delicado como o amor; tão simples, tão comum .. E ao mesmo tempo tão cheio de mistérios e detalhes. O amor não tem um significado próprio, uma definição que possa explicá-lo. Até porque, não precisamos entendê-lo, pois quando o sentimos, somos dominados por uma sensação única que nos tira o fôlego a ponto de nos roubar o oxigênio do cérebro e nos impedir que pensemos em tamanho sentimento tão forte. E é fácil saber quando amamos. O amor de uma forma geral é um fenômeno incrível pelo qual todos os seres da raça humana têm proximidade um dia; todos nos apegamos por algo, e esse apego se torna tão imenso que acaba se transformando com o tempo, em amor. Alguns amores não precisam de tempo - como os amores materno e paterno, cujo sentimento já vem entranhado em nossas veias desde o momento da fecundação, por mais que não tenhamos ainda nem corpo formado, somos banhados de amor desde já, visto que todos nos aguardam na maior ansiedade e carinho possível. Portanto, se é algo tão comum, por que não há explicação? É fácil notar que nos textos que escrevo, deixo no ar milhares de perguntas. Tento, à minha maneira, explicá-las em relação ao que penso. Posso conseguir explicar para mim, mas para muita gente, sei que não funcionam as explicações por diversas vezes. Essa pergunta, excepcionalmente, é uma das que não me proponho a tentar responder; Só fico guardando-a na cabeça para o dia que conseguir expressar em palavras esse sentimento de brilho tão forte que é o amor. Quando o afeto transborda do seu ser e você percebe que nada é tão belo quanto distribuir amor por aí. E a partir disso você não precisa de tempo nem espaço para amar - você ama cada cachorro que passa na rua e te faz sorrir, cada casal de velhinhos passeando, cada coisa emocionante que você vê. Você passa a ser tomado pelo amor de forma que não consegue mais fugir dele, e nem quer. É quando sentimos aquela vontade de ajudar aos outros, de puxar as pessoas para perto de nós, sem medir proximidade ou tempo de convivência, você apenas as ama. Independente de sua história, de seus erros: afinal, você não está no lugar delas para julgar portanto, se estão realmente erradas. Poucas pessoas têm o dom de amar profundamente tudo à sua volta. Em nossa maioria, nós, seres humanos, achamos hipocrisia dizer 'te amo' com pouco tempo de convivência. No sentido figurado, até está certa essa afirmação. Mas no aspecto sexual. De homem pra mulher e vice-versa. Porém, de pessoa à pessoa, não há exigências para o amor. Você pode amar alguém que conheceu há dois dias apenas por admirá-lo, pelos seus feitos, pela sua história. Pode-se amar alguém que nem conhece. Que já se foi. Que ainda virá. Não são necessários grandes esforços para que o amor floresça, é apenas preciso entregar-se à ele, de modo que ele consiga tomar conta de cada minuto de sua vida, de cada centímetro do seu coração. O amor não está ligado à relação direta que as pessoas têm umas com as outras; ele é caracterizado por uma ligação de uma alma à outra, sem escalas. Isso pode demorar para acontecer, ou não. Então, não fiquemos acanhados de amar. Amar cada coisa, dizer que ama, mesmo. Sem falar de efusividade ou hipocrisia, são coisas não participantes no amor. É um sentimento incondicional, portanto não possui nenhum pré-requisito para que aconteça. Visto isso, quando sentires vontade de abraçar um amigo novo e dizer que o ama, faça. Quando sentir aquele aperto no coração, aquele frio na barriga e seus olhos encherem-se de lágrimas e juntamente com isso você quiser ligar para seu amado(a) para dizer apenas 'te amo', faça. Quando ganhar um elogio, um presente, um beijo, um abraço tão forte que sentir vontade de gritar pro mundo que ama alguém, faça. E, principalmente, não esqueça do amor mais importante do mundo: o próprio. Quando se olhar no espelho a cada manhã, faça questão de lembrar que você é a pessoa mais amada do mundo. A cada conquista sua, a cada degrau que conseguir subir, lembre-se que isso é mérito seu, e portanto isso foi vitória sua e do amor que sentes por si mesmo. Porque, quando você é tomado de um sentimento que cultivou sozinho, a ponto de não caber mais dentro de si, sente uma necessidade enorme de dividí-lo com as pessoas que mais tem apreço. E isso, por fim, é o que chamamos de amor. Ame-se, primeiro. Depois, faça questão de distribuir esse sentimento tão lindo às pessoas, pois cada um de nós não só precisa como merece, essa sensação maravilhosa de amar, e principalmente, ser amado. ♥

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Boas novas me interessam

Quem é que não gosta de uma boooa novidade? Já que o diálogo é sempre baseado na mesma estrutura, do tipo: 'Oi, tudo bem comigo, e você? E aí, o que me conta de novo?'.. Não há quem não goste de uma novidade, as movimentações às coisas nos atraem, é da natureza humana, não tem jeito. Por mais que a novidade seja ruim, queremos sabê-la. Ainda que o indivíduo enrole para contar a tal novidade em função de não ser tão boa, insistimos até que fale. E por que isso acontece? Mais uma comprovação científica: o ser humano não consegue suportar a vida cercada de estagnação. Mesmo aqueles que não se relacionam muito com as pessoas de fora, em prol de saber as boas novas, fazem questão de ver toda noite o seu jornalzinho na televisão, ou comprar o jornal de manhã. Porque precisam ver uma novidade, mesmo que não tenha nenhuma mínima relação com a própria vida. Um dia percebemos que a mesmice é enjoativa, e isso causa uma sensação de grande dúvida em relação à 'O que estou fazendo nesse mundo?'. Quando caímos na rotina de tudo, e não sabemos de nada que acontece para que nos movimentemos em torno da vida, tudo se torna um estorvo. Mas por que todos não tentamos tornar cada ponto da vida uma grande novidade? Tentar inovar, mesmo. Experimentar coisas novas. Sair da mesmice, tentar renovar a mente, coisas desse gênero. Mesmo porque, melhor ainda do que ouvir uma novidade é poder contar uma. Que passou de ano direto, que conseguiu um emprego novo, que inacreditavelmente emagreceu 3kg em duas semanas, que comprou um sapato lindo na liquidação, que encontrou aquela sua amiga de anos que te contou que a ex do seu namorado tá grávida e tá uma baleia, ou até mesmo contar a evolução de algumas coisas, tipo do seu namoro, ou de uma briga, em torno disso. Nossa, a sensação é inigualável! Mas depois que você conta pra todas as suas 74 amigas mais íntimas a novidade, ela acaba. E agora? Precisamos inventar outra. Ou armar outra. Ou viver outra. Transformar um fato em novidade, pra que ele volte a ter graça. Pra que você possa rir de novo da mesma coisa, apaixonar-se novamente pela mesma coisa, orgulhar-se por ter se ajudado a renovar algo em sua vida. E como sempre acontece, é uma rotação de fatos. Portanto, tem que acontecer todos os dias. Todo dia tente fazer a diferença, ou fazer diferente. Diferente de tudo, diferente de todos. Diferente de você. Diferente do que você fez ontem .. Afinal, aquilo já não é mais novo. Nosso combustível é o movimento, a evolução, o novo. Tudo o que é novo nos interessa. Isso é tática de publicidade, inclusive. O que é velho, é passado, é conhecido, perdeu a graça. Só tem graça quando é lembrado em suas memórias. Fora isso, a inovação é o tempero da vida. Então, uma dica: renove-se. Faça de cada fato de sua vida, uma novidade. E aí, poderás ter a sensação maravilhosa de saber que você continua sendo você, com uma pequena pitada de movimento, brilho, e é claro, renovação.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Imprescindivelmente Feliz

O que é a felicidade? Como alcançá-la? O que devemos fazer para ser plenamente felizes? Parece que algumas perguntas desse gênero nos alfinetam a cada segundo, durante nossa vida. E o mais doloroso de tudo, é que não há um resposta. É uma variável, e depende das perguntas de cada um. Não há um manual, uma fórmula, um código a seguir. Sabemos que a felicidade é algo totalmente necessário para que vivamos em paz, e principalmente com saúde. Afinal, alguém já viu remédio melhor do que um sorriso? Com a felicidade você conquista TUDO. Abre portas, constrói castelos, muda coisas que nunca imaginou mudar. Mas o que te deixa feliz? Geralmente quando perguntamos às pessoas qual é seu maior sonho, a primeira resposta que vem à cabeça é: ser feliz. Entretanto, ser feliz tem seu significado? Como eu já disse, não é uma resposta geral e absoluta, que responde às perguntas de todos; cada um de nós precisa encontrar a sua própria fórmula, o seu próprio jeito de ser e fazer feliz. Há os que passam a vida esperando que a felicidade venha até nós... Esperam, esperam, esperam... Alguns morrem esperando, sem nunca terem sido felizes. Outros cansam de esperar e se entregam à profunda tristeza. Mas há outros, que se propõem a entender e encontrar essa tal dessa felicidade. Estes seres, que em minha concepção são unicamente iluminados, conseguem perceber que a felicidade reside em um lugar inacreditavelmente próximo e acessível: dentro de nós mesmos. A felicidade está dentro de cada um e ela pode ser incondicional, dependendo de cada um. Quando você a descobre dentro de si, passa a perceber que tudo à sua volta te faz feliz. Você não depende do tempo para estar feliz. Nem do dinheiro. Nem das pessoas. Nem da paisagem. Nem de realizações profissionais. É claro, todas essas coisas contribuem para o estímulo dessa felicidade, mas ela não depende de nenhuma delas. Ela é interna e única, como se fôssemos seres de luz própria. A felicidade é como o sol - aquece e ilumina, independente das coisas que estão à sua volta. Porém a tristeza é também necessária, em algumas horas da vida. Senão, seria fácil demais. Como tudo precisa dos dois lados pra funcionar, para sentir a felicidade fluir, nada melhor que sentir o gosto da tristeza. Decepções, saudades, ciúmes, raiva. Todas essas coisas, têm um único e onipotente antídoto: o sorriso. Ele resolve qualquer problema, tem o poder de mover montanhas. Mas, não é possível querer que ele venha até nós. Temos que ir em busca dele, a cada dia. A cada momento tentar enxergar as coisas boas, mesmo que o momento não seja dos melhores. Temos que fechar os olhos, sorrir, e nos concentrar num pensamento positivo de que tudo vai melhorar, se quisermos. Otimismo demais também não leva à nada, diga-se de passagem; é esse o mal das pessoas que esperam demais. O otimismo é o conforto de quem tem preguiça de buscar a felicidade... Ele induz as pessoas a pensarem que tudo vai dar certo porque o destino é assim. E aí a vida passa... Passa... E com 80 anos de idade a pessoa resolve virar o jogo e começar a sorrir pro mundo. Não que seja tarde; pelo contrário - acredito na concepção que sempre é cedo. Mas não é tão benéfico pois depois de muitos anos bate aquele arrependimento natural, aquela voz que fala ao seu ouvido sem querer, "Eu podia ter feito isso antes..", e aí já não tem mais jeito. Portanto, não é idiotice sorrir à toa. Sorrir só de ver um casal de velhinhos apaixonados. Sorrir quando um gato pede carinho acariciando sua perna. Sorrir quando um bebê vai no seu colo. Sorrir para uma pessoa com um olhar de afeto na rua, mesmo sem conhecê-la. Sorrir ao ver quão lindo é o pôr-do-sol. Sorrir contando as estrelas. Sorrir sentindo o vento no rosto. Sorrir percebendo como é incrível a luz da lua. Sorrir ao ganhar um elogio sincero. Sorrir ao sentir orgulho de si mesmo. Sorrir pensando em lembranças gostosas. Sorrir. Apenas sorrir. Sem causa, sem motivo. Sorrir é bom, é saudável, principalmente. Pois quando não há motivo pra isso, é notável que a felicidade então se torna algo independentemente constante e necessário. Quando começamos a sorrir à toa, percebemos que é tão bom, que faz tão bem, que não queremos mais parar de fazê-lo. Um dia uma sábia escritora pôs no papel uma ideia que admiro muito, e que uso também para minha vida. Eu analiso a frase todos os dias. Como uma terapia, um ritual: "Não tenho tempo para mais nada, ser feliz me consome muito." (Clarice Lispector); Não significa que temos que parar a vida, sentar no chão e passar todas as horas sorrindo como seres acéfalos. Logicamente não. Mas, na minha concepção essa frase tem uma sutileza muito bela, expõe o pensamento de que, não precisamos de tempo só pra sorrir. Podemos fazer isso acompanhado à outras coisas. Podemos não - devemos. Se tudo que nos propusermos a fazer, fizermos com uma boa dose de alegria, a única certeza é que no final vai funcionar. E mesmo que não funcione, poderemos ter o orgulho e capacidade de olhar pra trás, e com um enorme sorriso no rosto, dizer: eu tentei, com toda alegria que possuo no coração. Portanto, se um dia me vires sorrindo na rua sem motivo, apenas por sentir o sol batendo em meu rosto, não me pergunte o porquê. Só retribua com outro sorriso, isso será o bastante para que eu continue sorrindo por um bom tempo. Talvez esse bom tempo seja tão grande, que nunca tenha fim... Talvez esse seja o motivo do meu sorriso inicial. :)