terça-feira, 28 de setembro de 2010

Todo amor que houver

Recebê-lo, é muito bom. Um gesto de amor, uma gentileza, um beijo, um abraço, um agrado, um presente. Coisas que nos deixam felizes, que nos façam sorrir. É bom, sempre muito bom. Mas tão bom quanto, e quem sabe até mais, é praticá-lo. Corresponder um sorriso, doar um abraço, dar um presente. Gratificante, na verdade; principalmente quando o receptor percebe o quão felicitado está sendo, e consegue retribuir com pelo menos um sorriso de atenção, de obrigado. É engraçado quando chega perto do aniversário, por exemplo, de alguém muito querido.. Queremos ser os primeiros a dar parabéns, começando por ligar na meia noite do dia anterior; ou até mesmo quando compramos o presente uma semana antes e contamos os dias para que possamos entregá-lo. Isso é decorrente da certeza que temos, que nos conforta muito fazer bem aos outros. E não só às pessoas que conhecemos: é preciso fazê-lo até mesmo aqueles que nos são desconhecidos. Por que não? Todos somos dignos de recebê-lo. Todos temos dores diárias, e somos possuidores de virtudes incríveis, de modo a sermos parabenizados uns pelos outros frequentemente. E isso se dá através desses agrados. Nos sentimos estimulados a pensar que somos boas pessoas, ao recebermos certas palavras de afeto, ao recebermos coisas boas de pessoas com quem convivemos, ou até mesmo de quem nunca tivemos contato antes. Aprendi em toda minha vida a fazer o bem. Um dia, quando pequena, estava no mercado com meu pai.. Ele passou por um moço e deu boa noite, e eu sem entender, perguntei se ele conhecia. E ele majestosamente, mais uma vez, me respondeu:'Não, nem nunca o vi. Mas todos somos dignos de um boa noite.' Hoje, sorrir para pessoas na rua e dar boa noite para desconhecidos é uma atitude de plena normalidade, ao meu ver. Comecei a pensar que, há pessoas nesse mundo que estão sozinhas.. E sozinhas, mesmo. Sem ninguém, pra receber um presente, um beijo, um abraço, e até mesmo um boa noite. Ouvindo um boa noite de alguém que nunca tenha visto, talvez por alguns segundos possa pensar que, na verdade, ela não está tão sozinha assim. E dessa forma, podemos talvez transformar a solidão da pessoa em uma alegria momentânea, que seja. Quando puder, faça isso. A melhor retribuição possível vai chegar até você em algum momento. Aquelas frases que vemos no orkut, entituladas "Sorte de Hoje", pra mim parecem irrefutavelmente patéticas. Porém, um dia fui surpreendida com uma que dizia:'O melhor presente que se pode dar é um abraço. Ele é tamanho único, e ninguém vai se importar se você quiser devolvê-lo'. Não são exatamente as mesmas palavras, mas a essência é essa. Presentes são sempre ótimos de serem devolvidos. Sejam abraços, beijos, elogios, palavras - todos as lembranças que pudermos dar às pessoas. Quando fazemos mal a alguém, é claro que esse alguém ficará ansioso também para devolver-nos nossa infeliz atitude, portanto, cutucar os outros de forma errada não é hospicioso.. Bom, mas isso é mais uma forma de te convencer a praticar o bem. Entretanto, você e só você tem que se convencer disso. Faça todo o bem que puder. Sem esperar nada em troca.. Um dia, ele volta quando você menos espera, e felizmente, dez vezes melhor do que o dia de quando você o mandou. Talvez, no dia que o receber, esteja precisando muito. Assim como fez questão de fazer o bem, aquele dia, àquela pessoa que estava realmente precisando dele.

"A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira." (Léon Tolstoi)

* [Em homenagem à Patricia Lagôas..]

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nada

De que adianta serem lindos os jardins, se assim não os vejo? De que adianta coloridos serem os arco-íris, se para mim torna-se preto e branco tudo à minha volta? Não importa se minhas palavras se encontram num laço de alegria e gentileza, elas são secas e tristes por dentro, ao falar de você. De que adianta tentar me enganar, tentar sorrir, tentar não chorar, se a dor invade meus pensamentos quando vem à minha cabeça a certeza do nunca mais? Não adianta ter tudo nessa vida, amigos, músicas, fotos, sonhos realizados, risadas engraçadas .. Os dias se tornam iguais e vazios sem você aqui. Preciso, quero, necessito. Como o ar que eu respiro, se torna essencial essa presença impossível de você ao meu lado. A vida me jogou de um abismo quilométrico ao saber que outra pessoa toma meu lugar agora, pra nunca mais deixar que eu volte... E seu coração nem se lembra mais que um dia eu existi, de forma que caio por fim nesse abismo a não mais voltar, deixando tudo pra trás. A dor toma conta não só desse órgão pateticamente sensível e infelizmente necessário, pois se não o fosse arrancaria-o de mim, mas de todos os outros que me compõem, tornando meu corpo apenas escravo de toda essa dor que no fundo, eu fiz por onde sentir. Mereço sentí-la. De uns tempos pra cá já não dói mais, decorrente do costume, do hábito. Tenho me sentido bem, no fundo, muito profundamente. Como toda dor que de tão forte se anestesia por si só, essa se torna pífia comparada a outras dores maiores como a certeza de que nunca mais te terei ao meu lado. A certeza de que você não vai voltar. Nunca. Nunca mais. Nunca mais vou ouvir suas palavras doces ao telefone nos momentos difíceis. Nunca mais vou sorrir contigo, simultanemente. Nunca mais, da mesma coisa. Nunca mais vou sentir teu abraço caloroso e em seguida um 'eu te amo'. Nunca mais sentir teus lábios nos meus, numa dança sistematizada onde a melodia é o nosso amor. Nunca mais minha alma te sorrirá, e meu coração. Jamais outra vez. Não adianta me enganar. Eu não te esqueço e nunca vou, até meu último suspiro de adeus, que talvez possa estar chegando perante tanta dor que torce esse coração até a última gota, sem deixá-lo sequer escolher se ainda prefere viver, ou deixar esse corpo que já não é nada, sem tuas mãos pra tocá-lo, seus braços pra abraçá-lo, e seu amor pra protegê-lo. É apenas objeto. Vazio, oco, descolorido, sem alma, sorriso, coração, e principalmente, amor.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Epitáfio

"Sem grandes arrependimentos, bela vida por mim foi vivida, belas coisas por mim foram feitas. Chorei por muitas alegrias e ri, depois, de muitas tristezas. Deixei heranças de amor, carinho, paixão, afeto, gentileza, e com certeza, felicidade plena. Vivi cada momento intensamente e aproveitei cada minucioso minuto de alegria e também de desamor que me foi presente. Talvez tenham me faltado poucas coisas para a perfeição de vivência, como enxergar que o ser humano às vezes nem sempre é tão humano, ou enxergar que nem todas as flores são tão coloridas, ou que nem todo carnaval é folia. Mas com certeza vivi momentos que me proporcionaram uma enorme bagagem para que pudesse agora, no caminho da vida eterna, descansar com a certeza de que cumpri minha missão onde fui mandada a fazê-lo. Amei, chorei, sofri, me arrependi, caí, levantei, aprendi, ajudei, fui ajudada, abracei, beijei, sorri (muito), agradeci, gratifiquei, usei, comprei, gastei, estudei, escrevi, li, cantei, dancei, desfilei, falei, pulei, amei de novo, sorri de novo, abracei, beijei e ajudei, de novo. Admirei muitas coisas e pessoas, muitos livros e gravuras, muitas músicas e fotos. Chorei com músicas, assim como também as ri. Tirei as dúvidas que me pinicaram a todo momento assim que tive oportunidade. Congratulei muitas pessoas, e critiquei bastante delas. Conscientizei. Ah, isso com certeza. Deixei textos de puro amor, sutilíssimos, cujas mensagens foram compreendidas por quem lia com o coração. Tenho certeza que já pratiquei muito o bem. Muito, mesmo. Minha vida foi um universo onde cada pequeno astro sem luz própria depois se tornou auto-iluminado pelo maior de todos: o amor. O único que me guiou e não soltou minha mão em nenhum dos momentos, até os de maior desespero. Me iluminou este em tudo que me cercara. Não o amor de uma forma abstrata, mas transpassado através de pessoas que me doaram-no durante essa longa estrada que acabei hoje de percorrer, com o maior alívio possível, decorrente da certeza de que a essa herança foi a melhor coisa que pude deixar pra trás. Meu pretérito foi muito, mas muito 'mais-que-perfeito'. Minha vida não poderia ter sido melhor. E tenho dito."

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Outra vez, novamente ..

Mais uma vez, aprendizado cotidiano. Outro dia normal, apesar da prova de hoje que foi um diferencial a mais, e que me fez acordar outra vez com aquela cara de poucos amigos (ainda bem, só a cara, diga-se de passagem). E fui à faculdade, fiz a prova, saí segura, recebi ligações de boa sorte que foram super bem-vindas e em função disto e também do meu estudo, saí satisfeita com o possível resultado. Já nervosa com a prova de hoje à noite, e mais, com a prova de quinta-feira, andei para o ponto de ônibus rumo à minha casa ... Lembrei no caminho de pagar uma conta, passei na loteria, comprei duas raspadinhas, não ganhei nem cinquenta centavos (pra variar), e aí sim, fui pegar o ônibus. Engraçadas, histórias de ônibus. É que vejo tanta coisa nova, tanta gente diferente.. Me sinto às vezes uma jeca no meio da cidade, como se eu nunca tivesse visto um monte de gente na minha vida. Enfim .. é que essas diferenças me encantam, a forma como as pessoas vêem as coisas, e as fazem, de forma que se divergem cada vez mais; E hoje, mais uma vez vendo pessoas de cara feia, que acabaram de acordar, que talvez estivessem indo trabalhar, ou não, apenas passeando, ou indo fazer outras coisas... E vendo outras que te sorriem um 'bom dia' meio oculto, outras solícitas que perguntam se quer que segure sua bolsa, pasta e adjacências (incluo-me nessas), outras que te olham com nojo daquela gente, que olham pra tudo como se estivessem a 89 graus de superioridade. Reparando tudo isso, as pessoas solícitas te confortam em detrimento das outras que, se pudessem, nem andariam no mesmo patamar que simples pessoas mortais. Parando em um ponto de ônibus, hoje tendo a oportunidade de manter os pés no chão porque esqueci meu iPOD, que me faz esquecer da vida quando o trago comigo, reparei na sapatilha de oncinha de uma bela moça que entrou, depois no all star de uma menina que eu tô louca pra comprar mas não acho, e depois numa senhora, outra vez, muito, mas muito fofa. Essa era diferente da outra, não era aquela cara de vovó pedindo proteção, apesar da muita idade. Era uma mulher decidida, com as marcas de expressão bem fortes, bem arrumada, e portanto, passava uma imagem de durona, de séria, de rigidez. Como estava eu apenas com uma pasta e minha habitual bolsa levinha, fiz mais do que segurar as duas bolsas pesadas que ela carregava, mais uma vez levantei-me e ofereci o lugar. Esperando apenas um aceno com a cabeça significando aquele 'obrigada' tímido que geralmente fazemos, principalmente no ônibus, fiquei surpresa quando ela, muito gentil, sorriu-me uma linda sinceridade e agradeceu com reciprocidade o meu gesto de gentileza, afetuosa e simplesmente linda, outra vez. Na mesma hora, pegou minha pasta sem mesmo pedir e a segurou, antes que eu pudesse dizer não. Pediu pra segurar minha bolsa, e eu respondi que era leve, não havia necessidade, e em seguida, agradeci. Muito gentil, mais uma vez, ela me respondeu: "Obrigada você, pois a minha está realmente pesada". E depois disso, me vi participando da conversa baixinha em que estavam envolvidos ela e o homem ao seu lado, que antes estava ao meu lado, e confesso que nem reparei. Pude entender pela conversa que ela trabalha há doze anos no Hospital do Câncer. E não entendia ainda o porquê das bolsas pesadas. No desenrolar da conversa, entendi depois que ela apenas trabalha artesanalmente; Fazia sabonetinhos bonitinhos com toalhinhas, pois lá eles dão presentinhos para as pessoas em estado terminal. Ela sai da Freguesia para Vila Isabel de segunda a segunda, há doze anos, levando cinquenta sabonetinhos e toalhinhas em CADA bolsa. E passava-nos isso com tanta alegria, mas tanta.. Com uma satisfação inexplicável, irrefutável, indescritível. Sabe, orgulho próprio? E com razão. Carregava consigo um aperto no coração, de saber que aqueles presentinhos, seriam os últimos das vidas daquelas pessoas. Mas, ao mesmo tempo, um conforto incrível, que provinha da certeza de que ajudara todas elas de alguma forma, com sua pequena contribuição, linda, linda e linda. Na hora não caiu nenhuma lágrima, e fiquei outra vez surpresa com isso. Na verdade fiquei mais feliz do que triste, mais satisfeita do que balançada. Mais orgulhosa, dela, e principalmente, de saber que ainda existem pessoas assim.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

" Só se vê bem com o coração...

... o essencial é invisível aos olhos." Célebre frase de Antoine De Saint-Exupéry, carrega consigo uma mensagem tão subliminar que chega a ser, talvez para alguns, imperceptível. Em seu filme 'Pequeno Príncipe' repassa a mensagem através de uma personagem que descreve a frase como sendo o segredo do amor; E nada mais certo do que isso, não? Como mais podemos distribuir amor por aí, senão usando o coração?
O texto de hoje talvez seja pequeno, por falar de algo tão simplório, porém, mais uma vez, basta prestar atenção em cada fato da história pra que possamos entender a profundidade do que o texto quer passar; Ouvi um dia alguém contar que viu uma plaqueta em cima da mesa de uma pessoa cujo interior não demonstrava sequer preocupações com assuntos profundos no que tange à sentimentos, amor, afeição e outras coisas mais. Era ela, coberta de futilidade. De ouros, grifes, pose, dentre outros. E esse alguém, narrador da história que me contara um dia, pensou com seus próprios botões se uma pessoa tão desprovida de sensibilidade teria capacidade suficiente para entender a plaquinha que fora posta sobre a sua mesa de trabalho. Quem sabe essa pessoa tenha ganho de presente, sendo assim, nem se dado ao trabalho de lê-la e perceber as sutilezas ali intrínsecas. Porventura, pode até ter achado bonitinha e ter comprado - mas pura e simplesmente por este motivo. E escutando essa história que na verdade acabou de uma forma meio que incompleta, por assim dizer, - pois quem me contou apenas quis contar um fato, sem intuito de discutir sobre ele - comecei a pensar, agora com os meus botões, que às vezes precisamos substituir os cinco sentidos que nos foram concedidos por um órgão de vital importância não só física, mas mormente emocional: o coração. Em quase tudo que escrevo cito o coração, é fácil perceber. Pra mim é algo tão importante, que vale ressaltar a cada mensagem que tento passar. Precisamos ouvir com o coração, pra que a história, o pedido, a súplica ou até mesmo uma simples conversa, se torne motivo de nossa atenção e sensibilidade. É extremamente necessário que falemos com o coração... Com uma bela dose de amor em cada um dos vocábulos que pronunciarmos, tudo se tornará mais fácil de ser ouvido. Precisamos usar o tato, que é um deles, com amor; até um aperto de mão se torna caloroso se for realmente sincero. Até mesmo o olfato, quando sentimos um perfume, que mesmo que suave, se torna uma essência dos deuses se prestamos atenção à tão boa sensação que nos proporciona; ou uma comida de vovó que se torna muito mais cheirosa se pararmos pra pensar em quanto amor ali ela colocou. É preciso que enxerguemos tudo à nossa volta também com o coração; até porque, há coisas hoje em dia que nos cegam profundamente, e os olhos apenas tornam-se insuficientes para enxergar a fundo algumas das coisas. Não basta tentar ouvir apenas com a forma física dos nossos ouvidos, nem falar apenas palavras vazias e ensaiadas que nos são ensinadas ao longo da vida. Discursos pífios, frases automatizadas sem realmente possuir alma ao falar. Tudo o que nos é realmente essencial, se torna invisível aos olhos de alguns, aos olhos de quem não quer e nem faz questão de querer enxergar. Quando conseguirmos olhar para crianças abandonadas com olhos doces, saberemos que nosso coração está ali, participando tacitamente. Quando ouvirmos histórias tristes de pessoas necessitadas para que posteriormente possamos ajudá-las, na verdade nosso coração assumirá mais uma vez sua função. Quando nossas palavras forem pronunciadas com amor, com carinho, com cautela, preocupação... Na verdade poderemos notar que quem está falando não é realmente o nosso corpo físico, nossas cordas vocais; e sim as palavras que compõem esse coração, que é tão importante pra consquistarmos coisas e pessoas ao longo da vida, e viver cada dia com a maior quantidade de amor possível; Para isso é preciso usar o coração, de verdade. Ele não é só mais uma peça vital do corpo humano que serve apenas para bombear sangue. As piores assístoles acontecem na verdade, com quem não sabe agir com o coração. Quem está cego pela ambição, pela avareza, tem seu coração estagnado num mundo de futilidades, supérfluos e malícias sem importância alguma. Há pessoas que, mesmo sem um tostão no bolso, sabem usar o coração. Essas pessoas são abençoadas. Abençoadas com o dom de ver, sentir, tocar, falar, ouvir, e principalmente amar com a parte mais importante que nos constitui. Um pedaço lindo, que nos dá vida, que nos mantêm vivos, acima de tudo; Essa chama que não nos deixa nunca no escuro. É ela que nos dá a desculpa de cometermos boas ações de vez em quando, mesmo os receptores desta não sendo merecedores. O coração é cego de maldade - só enxerga as melhores coisas, e só funciona realmente, pra quem acredita no seu poder. O poder mais lindo, que nos foi concedido: o de amar.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Historifícios

Poucas vezes retrato, escrevendo, assuntos que dizem respeito especificamente a mim; Essa é uma das poucas, talvez uma das únicas. Na verdade, não é tão 'sobre mim' assim... É sobre uma das coisas que mais efetivamente fazem parte de mim. A História. História do mundo, história da vida, história de tudo. Até mesmo histórias alheias me interessam, contos de fadas, fábulas, crônicas ... Fictícias ou baseadas em fatos reais, me encantam, todas. Mas em principal, as verdadeiras. A do Brasil chega a me entontecer, ao estudá-la. Cada detalhe me prende incrivelmente e me puxa pro passado, de forma como se eu tivesse vivido cada dia, de 1500, até os dias atuais. Amo a transição das épocas; as mudanças políticas, econômicas; as modas, os estilos musicais - tudo. Simplesmente tudo me faz ter vontade de arrumar uma máquina do tempo pra curtir cada época passada. Escutar músicas dos anos 80 me faz chorar, e assistir filmes no Tele Cine Cult me emocionam só de ver aqueles pontinhos na tela em função da antiguidade do filme. É tão bom ver como as coisas evoluem... Como as pessoas se viravam antigamente, como eram tão felizes apenas com as poucas coisas que tinham. Dá vontade de nascer e renascer e lembrar de tudo que fiz em outras vidas, pra conseguir curtir os diferentes momentos da história. Porém, pessoas como eu, bastante ligadas à história de uma forma geral, tendem a ser um pouco nostálgicas. Estudar história, ler sobre ela, principalmente a contemporânea, acaba me lembrando momentos da minha vida, que foram relativamente poucos, comparados à por exemplo, os da minha avó, em 68 anos. Afinal, só vivi 18. Mas meu coração é tão saudoso que tenho a oportunidade de sentir falta de tudo que já vivi; Era tudo tão gostoso, que dá um aperto no peito só de lembrar. Quando eu era um pinguinho de gente tão frágil, e chorava horas quando minha mãe me deixava no colégio e ia embora; Quando eu passava muitas tardes vendo Castelo Rá-Tim-Bum, ou até mesmo muitas manhãs vendo TV Colosso. Minha maior ambição, à época, era aprender a ler, pra entender aquelas palavrinhas que vinham debaixo das figuras que eu adorava olhar... Saudade de quando eu cabia no colo da minha mãe, de forma que podia deitar em seu peito e dormir ali. Saudade de quando eu podia sair correndo de uma distância razoável e pular no colo do papai quando ele chegava lá pra me buscar. Eles ainda estão aqui, e eu tento caber em ambos os colos, é claro. Mas nunca é da mesma forma. Naturalmente, nosso cordão umbilical vai se extinguindo com o tempo. Começamos a perceber que nossa história vai sendo escrita com a nossa própria caligrafia, não mais com a mão macia de nossa mãe segurando para dar firmeza na escrita. Precisamos tomar certas decisões e atitudes, e pra isso, desvincularmo-nos pelo menos um pouco do que nos prende a eles, no tocante à responsabilidade sempre neles depositada. Nossa história de vida acaba se fundindo à outras histórias que temos oportunidade de conhecer, de ler sobre, e acabamos associando uma à outra. Pode ser que seja só comigo, mais uma vez me depreciando, mas, meio retardado da minha parte pensar nessas coisas. Só que escutando Beatles essa semana voltando da faculdade, me veio à cabeça imagens dessa época que nem eu sei de onde tirei, mas me fez pensar muito no assunto. Assim como me fez pensar que eu queria voltar atrás pra me aproximar de novo dos meus pais de maneira totalmente dependente. Essa dependência, de amor, carinho, afeto, é saudável. Plenamente saudável. Fico pensando, quando estudo as datas, sempre meu primeiro raciocínio é lembrar se determinado acontecimento ocorreu depois do nascimentos dos meus pais; e fico imaginando os dois em meio àquilo tudo... Depois imaginando quando nasci, e tudo vem à tona de novo. Sou suspeita pra falar, mas a História, além de conhecimento, proporciona uma saudade gostosa demais - que faz rir, faz chorar. Faz a gente tentar se aproximar, coisa que talvez não façamos há um bom tempo. É bom às vezes fazer uma forcinha pra caber no colo da mamãe como fazia a 15 anos atrás. É meio triste, a nostalgia. Mas é necessária. Sua história tem que ser escrita com as próprias mãos, como eu já havia dito. Por mais que não sintas mais aquela mão macia te apoiando, nunca vais deixar de lembrar dela. Não se permita deixar de lembrar. As primeiras páginas da sua história são as ferramentas mais importantes pra que você possa escrever o epílogo com a maior destreza possível. Assim como precisamos dos capítulos iniciais para entender uma história qualquer, precisamos da nossa base pra construir a nossa história. Cada foto do passado, cada artifício que te faça lembrar da sua história, é fundamental para que nas últimas páginas, você possa voltar à introdução e se lembrar de como foi bom escrever cada página desse livro. Esse livro particular, de história. Essa história de cada um. Essa história, essa saudade, esses momentos, essa nostalgia, essa destreza, essa saudade, esse afeto, essas fotos, essas cartas, essas músicas, essas lembranças. Essa história, que dá vida à nossa história. Essa história que é a vida.