segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Coalescência, Combinação, Concordância

O fenômeno da união é realmente um assunto muito interessante a se pensar. Em alguns casos, ele necessita de alguns pré-requisitos muito básicos pra que possa acontecer. Famílias que se fazem distantes, por exemplo - e não digo distantes em quilômetros, mas distantes em sintonia, em sentimento. A união entre algumas só acontece em datas especiais e comemorativas, como por exemplo o Natal. Ao final do ano, é um bom exercício reparar como é bom estar junto a família. Mesmo que muitas vezes o pensamento seja negativo em ficar ouvindo os parentes distantes dizerem que você cresceu muito, que ficou lindo, que seu nariz é mais parecido com o da sua mãe, mas os olhos são do papai. Ou você ouvir todos aqueles assuntos que não dizem respeito a absolutamente nada que lhe interesse, e sente uma vontade gigante de sair daquela sala chata e estar em qualquer outro lugar do mundo que não seja ali. Tirando essas sensações chatinhas, que fazem parte afinal, de todo o contexto, o que ocorre é que, pelo menos aos meus olhos, que são malucos na maioria de suas visões e percepções, esse fenômeno em sua estrutura é simplesmente lindo de se ver, da maneira que for. Independentemente de Natal, Ano Novo, Páscoa ou Dia das Mães, a união deveria acontecer sempre. Em todos os 365 dias do ano. Ela é caracterizada pela preocupação e cuidado que você tem simultaneamente com todas as pessoas que você ama, e reciprocamente, o cuidado que elas têm com você e umas com as outras. Cuidado de ouvir, de ser amigo, de estar ali do lado pro que precisar. Ela não precisa acontecer apenas entre os membros da família, no seu sentido próprio, apesar de a família ser o órgão mais importante do seu sistema como um todo ao longo de sua vida, por ser o primeiro grupo de pessoas com quem você tem contato. Todavia, você adquire várias outras famílias ao longo de sua caminhada. Ao entrar no colégio, ganha tias, amigos que viram irmãos, irmãos de amigos que viram primos, e assim por diante. Na formatura, ganha padrinhos. Ao decorrer desse tempo que você passa convivendo com pessoas diferentes e encantadoras, cada uma ao seu jeito, você sente algo tão forte e especial por algumas, que tem vontade de tomá-las como parte do sangue que corre em suas veias. E a partir daí, considera-os como família. Eu não critico a união apenas às datas comemorativas porque para alguns, elas são as únicas oportunidades inclusive de estarem unidos aos outros; Por questões profissionais, temporais, etc. Então, elas acabam sendo importantes para que haja um pretexto onde a família precise estar reunida. O problema é deixar que essa união se esvaia no dia seguinte, e você se esqueça do quanto sua família e a união entre os membros desta te deixam feliz e satisfeito. Acho um fenômeno interessante pois, mesmo de longe, as pessoas que você puxa pro seu laço familiar ou as que já fazem parte deste naturalmente, não te deixam se sentir sozinho, jamais, quando a união verdadeiramente existe. Num momento de solidão que não seja saudável e deixe-nos cabisbaixos, é neles que devemos pensar pra nos sentir melhor. A união é confortável. Ver as pessoas entrosadas, amigadas e entretidas umas com as outras, dá uma plena sensação de felicidade, se essas pessoas fazem parte do seu ciclo afetuoso. Por isso uma vontade louca, às vezes, de que seus amigos da escola virem amigos dos seus amigos da faculdade, e do seu prédio, e do seu curso de inglês; Quando você junta num círculo só todas as pessoas que você ama, a cautela, o amor e o carinho que elas sentem por você, se fortalecem, trocando energia umas com as outras e revitalizando todos esses sentimentos. Contudo, existe a união daquelas pessoas que não se conhecem. E essa, pra mim, é a mais bonita que há. Pelo simples fato de que o sentimento floresce naturalmente. Você não se une a pessoa porque ela é da sua família, é sangue do seu sangue. Você se une a ela porque ela é tão ser humano quanto você, merece tanto quanto você estar aqui, compartilhando do mesmo mundo, das suas dores, das suas alegrias, tanto quanto você. E esse entendimento de que a união em si, na verdade não precisa de NENHUM requisito básico pra acontecer, é um sentimento que ultrapassa a beleza de todos os outros sentimentos juntos. Quando você entende que você ama só porque ama, ou você quer estar junto de algumas pessoas só porque quer estar, sem nenhuma necessidade essencial, é quando você, sem saber, une todos os sentimentos existentes dentro de você e sente algo que ainda não se definiu. Pode ser que isso que nós sentimos seja só esse espírito de união, do qual me refiro, e que se dá através dessa sensação de querer puxar pra perto de você todas aquelas pessoas que você tem vontade de dobrar e guardar num potinho, ou de pendurar no seu quadro de imã, pra você nunca esquecer que ainda existem pessoas extremamente especiais nesse mundo. Isso, não se compra com ovos de Páscoa, ceias de Natal e muito menos fogos de artifício no Ano Novo. Quando você entende o sentido disso tudo, você passa a enxergar a união como algo que necessita fazer parte do seu dia-a-dia, acolhendo-a como uma velha amiga, e querendo ensinar a todas as pessoas as quais você quer estar unido que, estar junto é uma simples troca de energia e amor, baseada na harmonia que os seus sentimentos bons conseguem ter com os sentimentos bons das pessoas que você ama. Piegas, porém intransponivelmente certo: A união sempre fez, faz e continuará fazendo a força.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Milagrosamente Vivo

O milagre, em seu entendimento, é uma coisa diretamente relacionada à divindade, ou a algo que diga respeito a ela, em via de regra. A palavra milagre, em sua fonte significativa, fundamenta uma intervenção divina, como uma dádiva dos céus. Mas.. se é assim, e para os descrentes, não há milagre? Não digo os descrentes no sentindo atrelado à religião na sua origem. Digo os descrentes de forma genérica. O que caracteriza um milagre, afinal? Algo extraordinário, incrível, impossível? É uma explicação que se deturpa cada vez que algum de nós tenta explicar, com nossas palavras tortas e entendimentos incompletos, talvez. Já ouvi diversas vezes a expressão "o milagre da vida"; que ao meu ver, significa o milagre do nascimento, o milagre de estarmos aqui, vivos, racionais, de carne, pele, osso, e para alguns, de espírito também. Penso ser um pouco evasiva essa significação. Não que a minha opinião faça algum sentido pra mais alguém além de mim mesma, é claro. Mas acredito que o mais grandioso milagre que possa vir a ser, é o da existência. A existência das coisas, a existência de tudo. De cada planta, de cada inseto, de cada cor, de cada sonho, de cada palavra, de cada vontade. Será que tudo isso não é o maior milagre que pode existir? A vida, de fato, é um milagre. Mas não no nascimento e na morte. E sim em sua jornada. Cada peculiaridade, é um milagre. Cada flor vermelha que nasce em meio a uma mata toda verde, é um milagre. O fato de ninguém nesse mundo inteiro ser igual a ninguém, é um milagre intransponível. Cada órgão do nosso corpo, cada centímetro, nos é único. Existimos de forma singular. Incontestavelmente singular. Em jeito, aparência e coração; pensamos, falamos, agimos. Somos seres humanos, com uma inteligência que supera qualquer tipo de tecnologia existente. Isso, indubitavelmente, é um milagre. E ainda há os que passam a vida esperando cair um milagre do céu. O milagre da salvação, o milagre da volta. Esperas, milagres e decepções. E perdemos tanto tempo esperando pelo tal milagre, que esquecemos de observar as dádivas que existem à nossa volta. O vento batendo no rosto.. É uma sensação única, difícil de explicar: é incolor, inodoro, não tem forma. Apenas nos causa uma plena sensação de alívio, de purificação, de frescor espiritual. Por mais que não saibamos, no fundo, o mais próximo da definição é isso. O milagre das cores.. Como conseguem ser tão únicas? Não há explicação para o que é o azul, nem o amarelo, nem o rosa. Qual é o mais bonito? Cada um deles é lindo, em sua forma de colorir. Milagres não significam apenas coisas inacreditáveis que nos acontecem ao dia-a-dia. Costumamos usar esse termo ao falar de coisas raras, que quase não acontecem.. Sem perceber que tudo - absolutamente tudo que nos rodeia é envolto de uma dose única de encanto, que não se iguala a nenhuma outra coisa. Pode ser até que não seja uma coisa boa. Mas é um milagre. Existindo, é um milagre. De onde veio, como começou, onde começou? Existem trilhares de explicações. Religiosas, históricas, científicas. Mas.. qual é a verdadeira? Nunca vamos saber.. e acho que, nesse caso, a melhor saída é guardar pra si a própria percepção do que realmente acontece nesse fenômeno da vida, que nos cerca desde o momento da nossa concepção até o nosso último suspiro dela. Cada minuto que passa, é incrível. Cada dia que deixamos pra trás, pelo fato de ser único e não voltar nunca mais, se faz incrível. O tempo passa, a cada milésimo de segundo.. E as flores vermelhas murcham, o vento pára e volta, as cores perdem o encanto. A cada dia, tudo se renova. Milagrosamente, se renova. E passamos cada minuto do nosso dia pensando no próximo dia, pensando no milagre que é a vida do nosso vizinho da frente, porque a casa dele é enorme, a família dele é linda.. e nossa vida é sempre a mais infeliz e sem graça, comparada a de alguns. A existência e o tempo são as únicas coisas indefectuosamente democráticas. Nascemos nas mesmas condições. Existindo, postos no mundo - e tendo 24 horas por dia: pra chorar, pra sorrir, pra viver do jeito que couber a cada um de nós. Esse jeito, essa maneira de levar a vida, é um milagre. Cada um segue um caminho, e é feliz do seu jeito. O milagre da vida é caracterizado por quantos sorrisos você consegue dar por dia, ao meu ver. Sem discurso hipócrita, é o que realmente eu acho. A vida não é medida por quantos anos você viveu. As pessoas costumam achar que são vividas por quanto elas já sofreram.. o que importa, na verdade, é que elas são vividas porque agora riem de tudo o que já sofreram um dia. O poder do sorriso, é um milagre. A sensação que nos proporciona uma gargalhada, não se compara com nenhuma outra sensação do mundo. Será que ainda assim nos cabe algum tipo de espera por qualquer milagre? Acho que a única espera que tenho em relação a isso, é que cada um perceba quão especial é a vida que vivemos, do jeito que for vivida, se for sofrida ou feliz, é a vida, e só existe uma. E esse milagre.. é uma chance única de perceber quantos milagres nos pertencem. É um milagre que não volta nunca mais.