quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Analogia

Como o clima aconchegante do inverno, tem barulho de chuva fraca e de folhas secas voando no chão. Com o corpo frágil de uma taça de cristal, quebra ao menor toque de pouca delicadeza. Exige um cuidado imenso ao ser manuseado, como um bebê recém-nascido abençoado com a inocência. De vez em sempre, precisa de manutenção, como um aparelho eletrônico que tem de ser reparado de tempos em tempos.
Tem cheiro de flor, cheiro de roupa limpa, cheiro de café-da-manhã, cheiro de chocolate... De um cheiro tão estonteante que inebria a rua inteira ao passar. É aquele cheiro que dá vontade de prender num potinho. Aquele que dá vontade de não se deixar esquecer.
Tem cor de arco-íris melhorado, mais detalhado, mais desenhado... Um pouco mais colorido, pra contrastar com o barulho da chuva. Quanto a esse aspecto, não existe nada tão absoluto: quando começa a perder a cor, você pode retocar, não se preocupe. Desde que seja recolorido com a maior calma do mundo.
Tem textura de pele macia, de travesseiro de pena, de colo de mãe, de soneca vespertina, de abraço de melhor amigo com saudade. É tão confortável quanto seja possível. E é ele que vai sempre te acolher em seus braços quando você precisar sorrir.
O mais interessante no
amor, é que ele continua colorido para os cegos. Continua soando agradavelmente aos ouvidos até de quem não pode escutar.
A gente sente o cheiro bom do amor mesmo numa crise de rinite daquelas em que não se sente o cheiro nem do perfume mais forte.
Podemos sentir suas mãos macias apertando com força nosso coração, por mais duro que ele seja.
Eu admiro o amor desde antes de vir ao mundo.
Desde quando fui carregada dentro do corpo de alguém, por nove meses inteiros, com amor.
Desde quando contaram as horas pra me ver chegar.
Desde do primeiro dia em que aprendi o que era um beijo, um abraço, um olhar.
O amor é tão perfeito, que ele nos perdoa por desacreditá-lo por diversas vezes. E é hipocrisia dizer que não o fazemos: mesmo que não seja nossa culpa, desacreditamos.
Quando a gente menos espera, ele levanta a gente no colo, lá no alto, só pra lembrar que ele esteve ali o tempo todo e não te deixou de lado nem um segundo sequer... Depois deixa a gente cair de novo. Aí a gente se machuca. E depois ele vem nos lembrar da sua existência interminável no nosso perto, todos os dias de nossas vidas.
Há quem ache que vive sem amor. Porque não namora. Porque mora sozinho. Porque não tem amigos.
Você não escolhe ter o amor... Ele nasce com você. Se você é rico, se você é pobre, se você é rodeado de pessoas ou se sua única amiga é a solidão. Alguém te fez, de carne e osso, pele, cor... Com todos os defeitos que você tem, e todas as suas incontáveis qualidades. Você pode não enxergar muito bem, não ter olhos azuis, e ter mais celulites do que gostaria. Mas você sempre será amado pelo amor... Não importa quão defeituoso sejas, interna ou externamente.
De fato, o amor é
alguém. Sem forma, sem cor, sem textura, sem som. Todas as características do amor, quem inventa é você. Se você quiser que ele seja claro e frágil, ele será. Se você quiser que ele seja cheiroso e soe como música clássica, assim será.
Incondicionalmente você será amado por ele. Do seu primeiro ao último dia de vida. Você foi um espermatozóide escolhido em milhares para vir ao mundo e ter a chance de admirar uma bela paisagem, comer uma boa comida e conhecer pessoas especiais. Ainda acha mesmo que te falta amor na vida?
Você pode até escolher ser cego pra não ver, surdo pra não escutar. Mas ele vai estar ali do seu lado. Vai dormir com você, vai te fazer sentir dor. Vai fazer seu coração quase saltar pela boca quando você se apaixonar. E depois quase se desmanchar inteiro quando você não mais estiver apaixonado. E, sendo bom ou ruim, ele estará com você.
Se eu tivesse que escolher algo pra lhe dizer, seria sobre o amor. Nada de muito complexo. É tão simples que chega a ser engraçado. Mas tão importante que se faz assustador: Ame-se. Hoje, agora, amanhã, sempre.
E o amor vai caminhar de mãos dadas com você. Lado a lado. Pessoalmente. Ao vivo e a cores. Até o final dessa longa e eterna estrada que estamos acostumados a chamar de
vida...