terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Mortífera Verdade

Através da história da vida, desde que o mundo é mundo, e comporta em seu interior diversos tipos raros de pessoas que formam um grupo chamado de sociedade, nos são impostas várias restrições em relação a tratar de alguns assuntos. A sociedade nos impõe tabus, que limitam a liberdade que nos é pertencida desde sempre, e fazendo com que muitas vezes guardemos opiniões e dúvidas sobre esses assuntos, seguidos da impossibilidade de expandir as idéias sobre eles. E o assunto da morte, é um deles. Se não o pior, é um dos primeiros na lista do top 10. Sempre que começamos a falar de morte, é claro, por ser um fato triste por si só, alguém sempre dá a idéia de mudar de assunto, de falar de outra coisa, e o assunto acaba não tendo um desfecho explicativo; As opiniões ficam soltas no ar de modo que não se encaixam umas nas outras, e pequenos flashes de idéias vão tomando conta da nossa mente sem que percebamos, no escuro da noite e no silêncio da madrugada. Muitas vezes, esse assunto nos arrepia da nuca aos pés, ainda mais nessas circunstâncias escuras e caladas. Porém, é preciso pensar sobre. Infelizmente ou felizmente, a morte é a única certeza que encontramos na nossa caminhada durante sua antagônica amiga, a vida. É fato que de resto, as coisas são imprevisíveis. Entretanto, a morte, firme no propósito, nos espera algum dia em nossa vida.. No último, é claro. Já pensei diversas vezes em que mito contado sobre a morte eu acreditaria. Se existe realmente um pós-morte tridimensional dividido em céu, purgatório e inferno, ou se a morte é apenas um sono profundo e eterno, ou se voltamos na vida que vem pagando os pecados dessa vida.. São tantas explicações, interessantes e patéticas, impossíveis e cogitáveis; E, mais uma vez, a explicação que serve, é só uma: a que você acredita, e mais ninguém. Nem igreja, nem bíblia, nem pai, nem mãe, nem doutrina, nem nada - é você e você mesmo. Mesmo porque é extremamente atormentador 'cometer nossos pecados' diários, deitar a cabeça no travesseiro e imaginar onde vamos parar depois disso tudo. Contudo, apesar de cada um saber suas dores e temores, a viagem desta pra melhor quando tratada num plano consciente, sem medos e devaneios, é sonhada como uma grande cerimônia de final de vida. Quem nunca se imaginou vestido de toga branca até os pés, subindo aos céus ao som da Primavera de Vivaldi, num dia morno, carregado pela brisa fresca da neblina e pelas nuvens delicadamente confortáveis? Me imagino sendo levada pelos anjos, que por sua vez, têm as feições idênticas às daquelas pinturas arcaicas que de tão minuciosas detalham cada cacho dos cabelos aloirados desses seres pequenos e iluminados. Quando se consegue conceber a idéia dessa única certeza sem o mesmo medo que segue os nossos sonhos, é fácil imaginar o jeito como você acredita ser levado para o mundo de lá. Acho que na minha cabeça o que menos incomoda é a minha morte. Por ser apegada demais aos meus, acabo entrando numa síncope saudosa ao pensar que vou viver apenas uns 80 anos, com sorte, ao lado deles. Talvez a palavra certa não seja apego, dessa vez. De repente a satisfação de ter ao meu lado pessoas como eu tenho, e conseguir imaginar minha vida sem eles se torna realmente doloroso. Não por uma questão de dependência dramática, mas por uma companhia que se faz incomparável e uma felicidade desmedida ao lado deles, todos. Pais, irmãos, primos, tios, avôs - amigos, todos. A saudade que a morte provoca é uma dor incurável. E, circunstancialmente, um sentimento deveras egoísta nos possui quando queremos com todas as forças essas pessoas queridas ao nosso lado. Principalmente vovós e vovôs, que nos acompanham em apenas uma parte pequena da nossa vida, comparado ao que gostaríamos de compartilhar com eles. Porém é impossível conservá-los aqui além de seu limite. E abrindo a caixa de pandora que é esse assunto, a conclusão óbvia e previsível que tiramos é que o movimento da vida é a sua renovação; Imaginemos quão seria estranha a vida sem ter um fim.. E faríamos 100, 200, 300 anos.. As coisas iam mudar, sentiríamos saudades das antigas, conheceríamos as novas, exigiríamos mais da tecnologia. Lamentaríamos as gerações atuais serem diferentes das de antigamente, reclamaríamos dessa violência inconsertável e do aquecimento global devastadoramente preocupante. E quando acabaria toda essa angústia de amar, chorar, reclamar, gostar, admirar e viver? A certeza da morte deve ser um pretexto para que aproveitemos cada dia com a maior intensidade que conseguirmos. Dos 48 textos que tenho, pelo menos em 40 falo sobre 'aproveitar cada minuto com intensidade' - mas cada um deles trata de um assunto central diferente, o que nos faz concluir que em todos os aspectos dessa vida, que é só uma, o importante é viver o agora. O presente, além de ter esse nome porque realmente é um presente, uma dádiva, é o único tempo verbal que nos resta. Simples e bonito, por si só. Só existe o presente, sempre. O passado e o futuro são absoutamente abstratos e inexistentes. Lembramos do pretérito, planejamos o futuro, mas não há como vivê-los, efetivamente. Portanto, como quase tudo o que existe e já foi inventado até os dias de hoje, a morte tem sim o seu lado bom. Dica pra vida? Faça do seu pretérito muito 'mais-que-perfeito', só use o 'futuro do pretérito' para as provas de português e depois esqueça-o: no sentido figurado da expressão, não misture seu futuro nem presente com o que já aconteceu, no caso, o pretérito. O presente do indicativo é o que deve fazer parte da sua rotina. Ontem foi, hoje é, e amanhã também vai ser, no que depender de você mesmo. A morte te espera, em algum momento. Ali pertinho ou lá na frente, te espera. E encarar isso da maneira boa é um grande pensamento pra quem tem medo dela, como eu tinha. Antes de mais uma vez escutar palavras de uma grande pessoa que é com certeza uma das mais sábias que já pude conhecer; Me ensina a cada presente como viver o presente, a cada passado como lembrar só das coisas boas a cada futuro planejar só o que se faça de proveitoso, e principalmente, enxergar a positividade das coisas, como enxerguei nessa. Não que ela venha do jeito que eu imagino que venha. Mas, vai ser bem-vinda, como for, a qualquer tempo... Afinal, tenho toda ela planejada na cabeça. Cores, sons, melodias. Como se de alguma forma eu pudesse sentir algum deles nessa hora. Quando eu descobrir, eu escrevo lá de cima. Ou lá de baixo. Ou de onde eu estiver. Prometo.