segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Resiliência

E voltamos à força da mente. À expectativa. À frustração. E à capacidade de lidar com ela. A resiliência é um conceito oriundo dos estudos físicos, que corresponde a uma característica que certos materiais têm, de acumular energia quando exigidos ou submetidos a estresse, sem que ocorra alguma ruptura. Para a psicologia, que adaptou o conceito, a resiliência se refere ao "processo e resultado de se adaptar com sucesso a experiências de vida difíceis ou desafiadoras, especialmente através da flexibilidade mental, emocional e comportamental e ajustamento a demandas externas e internas". A palavra é estranha, mas a essência é brilhante. O conceito parece vago e abstrato, mas, de fato, todos sabemos com exatidão o que ele significa, talvez mais empírica do que fundamentalmente. Por mais rígidos que julguemos ser, somos submetidos a diversas dificuldades diariamente. A maioria delas passa desapercebida, e por muitas vezes nos vinculam a mudanças intrínsecas mais difíceis ainda, o que implica num amadurecimento contínuo, sem que sequer notemos.
Flexibilizar-se não é a tarefa mais simples a ser realizada pelo ser humano. Quase sempre, uma necessidade assustadora de autoafirmar a força inatingível de nossas opiniões ou personalidades acaba por atrapalhar o processo de malemolência para com a vida. E isso complica tanto...
Ser resiliente é poder adaptar a mente a novas situações sem que isso cause uma guerra nuclear em nossa massa cinzenta. Sim, é difícil. É difícil aturar a patetice das pessoas do seu trabalho ou faculdade. É difícil ter que acordar cedo e ir dormir tarde. É difícil trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Dificuldades progressivamente infinitas. E a mudança não cai do céu. Se há insatisfação com situações corriqueiras, das duas uma: ou a gente desiste e sai fora, ou a gente se adapta, toma coragem e resolve. Ah, ou a gente continua mergulhado em toda aquela grande infelicidade, e assim permanece. Conheço muitos. Talvez esse último, seja o caminho menos tortuoso. Afinal, é muito mais fácil sentar na poltrona e reclamar até dizer chega. Levantar e procurar outra coisa dá muito trabalho. Respirar fundo e encarar de frente, então... Fora de cogitação.
Morro de inveja da água, que se adapta tão bem a todas as três formas. Consegue ser absolutamente útil sendo sólida ou líquida. Gasosa, nem tanto. Nas outras duas, não perde o gosto nem a qualidade. Não resiste ao fato de ser congelada, depois descongelada, depois misturada, filtrada, salgada. A água é só a água. Não deixa de ser ela mesma simplesmente porque teve de flexibilizar seu estado natural.
Não deixaremos de ser quem nós somos por nos deixar levar algumas vezes. Ceder a todo tempo também não me parece a melhor opção. Resilir, sim, mas no limite das nossas vontades, sem deixar de consumar nossos sonhos e desejos em função de situações ou pessoas alheias.
Acredito que seja simploriamente uma questão de inteligência. Se diante de toda e qualquer situação que importe em dificuldades a serem enfrentadas, nos tornarmos uma cômoda barra de ferro, provavelmente só dará certo quando conseguirmos aplicar àquele problema uma característica que já possuímos inclusa na matéria-prima dessa barra. Caso a situação exija maiores esforços, a guerra está declarada. Metade do seu cérebro vai te dizer que você é assim e não vai mudar, e a outra metade só vai conseguir começar a pensar em "podia ter agido diferente" quando o resultado da rigidez já for irresolúvel. Nessa fase, você já magoou alguém. Ou já perdeu o emprego. Ou já perdeu um amigo. Ou já se perdeu.
Seja resiliente com aquele velhinho que puxa papo no ônibus na volta pra casa. Seja resiliente com seu chefe que não foi educado a tratar bem aos seus. Seja resiliente com a sua mãe que não dorme enquanto você não chega. Seja resiliente com aquele professor que passa a prova mais impossível do mundo. Seja resiliente com seu irmão que pegou emprestado sem te pedir. Seja resiliente consigo mesmo.
Tempestades virão. Sempre. Todos os dias. Cada noite mal dormida, cada dia atribulado, cada pessoa desagradável, cada decepção. Flexibilize-os. Flexibilize-se. Ajude-se...  Tá longe de ser fácil. Mais longe ainda de ser impossível.  

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sonoro

Desde a noite quente
Do barulho do ventilador insistente
Que ajuda a refrescar pesadelos e sonhos
Enquanto os sons milhares da noite acalmam e assolam a mente

Até os cantos de pássaros matinais
Até os perfumes florais
Invasores do silêncio profundo
Que havia antes da beleza que o pôr-do-sol traz

A vida acordando...
Passos vagos pelas ruas
Onde a rotina continua
Como sempre na luta se vivia
Dia após dia

A multidão despertando
No outono, folhas farfalhando
Na primavera, flores brotando
No verão, sol iluminando
No inverno, frio reverberando...

As vozes baixas de sono enquanto
Não estalam-se os ossos do merecido descanso
Que pousa sob a lua num terno carinho manso
No som do amor dos grilos, no som do vento brando

O caminho alongado à vida central
Rodas no chão, buzinas no ar, carros parados no sinal
Atravessam os corpos ainda preguiçosos
Repletos de sonhos, planos, pensamentos desditosos

Vem o velhinho com seu leve caminhar
De bengala na mão, com mil lembranças no olhar
Atrás, um pobre de um cão cansado
Que teve a noite perturbada por frio e fome por todo lado
Ouve-se as ecoantes gargalhadas dos jovens
Na mocidade comprovada pelo brilho dos olhos
Que ofuscam as desesperanças velhas de quem pensa não mais ter jeito
De quem tem certeza de um mundo sufocado de defeitos

No meio dessa musicalidade natural
Existe maior uma voz que não se ouve
Só se sente na frequência das batidas do coração
Nas rotações por minuto em decibéis inescutáveis

Uma voz que grita, que sufoca, que ensurdece
Um grito abafado, de socorro, que entontece
Eterno, indefensável, mas bom de se escutar
Que invade cada célula dos corpos acordados
Na dificuldade de conjugar aquele verbo... 'Acreditar'

É aquela voz que te implora com toda força que há
"Não desista... Não desista de tentar
 Siga em frente, pode ir, te dou a mão
 Logo ali na frente seus sonhos te encontrarão"
Então se esquece os pássaros, as flores, os tiros, o farfalhar
E concentra todo o ouvir na doçura dessa voz

Que só quer te ver crescer
Que torce pelo vencer
Que chora no derrotar
Mas te levanta do chão
Que não solta da sua mão
E ilumina o caminhar
Até sua hora chegar
Até o caminho acabar
Até que se consiga
Depois de todas as cicatrizes e feridas
Seus sonhos realizar.









terça-feira, 25 de setembro de 2012

Sobretudo

Sobre as coisas que envolvem
Sobre as coisas que encantam
Sobre a simplicidade dos dias que passam

Sobretudo...
Sobre tudo o que se vê
Sobre tudo o que se sente
Sobre tudo de você

Diferente de tudo sobre o que já se viu
Tudo que ficou gravado com carinho nessa mente
Que esquece parte do importante
Que não lembra de nada do que vê pela frente

Pessoas, lugares, ruas e trajetos
Atenção para os detalhes
Inúmeros detalhes, inúmeros flagelos
Detalhes como bolhas de sabão
Que se perdem no vento deixando nada pra trás
Evaporando em sucessivos estouros pelo chão

Tentar lembrar do mais vago quanto possível
Nesse fundo subconsciente
No sobretudo da ideia nascente
Notando enfim que o valioso vive em todas as coisas
Que o milagroso habita no vazio
Em tudo o que se vê, em tudo o que se sente
Em tudo o que passa, em tudo o que estoura
E deixa nada
Pra trás, pra frente...
Pra sempre

Nas flores sem perfume
Nos mares sem brisa
Nos dias sem cores
Nas casas sem janelas
Nas falhas sem dores

Em tudo que existe
Qualquer coisa que persiste
Há beleza de se ver
Há milagre em perceber
Sobretudo, em você


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Conexão

É preciso viver com cuidado. Preocupando-se a cada passo, sem que isso atrapalhe a fluência natural do movimento da vida. Deixar as coisas acontecerem no seu tempo, na sua suavidade - sem perder o controle, sem empurrar toda a responsabilidade do fazer acontecer pra longe de si mesmo. Ainda que seja difícil demais viver nesse mundo... Nesse mundo onde as pessoas te procuram por conveniência. Nesse mundo onde se caminha pelas ruas com medo. Nesse mundo onde sempre se espera que algum dissabor aconteça repentinamente, afinal, a dor da decepção já acomodou-se integralmente em nosso corpo. Nesse mundo onde os sorrisos são admirados não pela sua pureza, mas pela sua raridade...
Um mundo onde se é carregado pelas idéias da população maciça que te pisoteia ao andar apressada pra chegar Deus sabe onde... Que vivem unicamente com a vaga ocupação eterna de nascer e morrer, sem aproveitar a fundo um sequer dia desse intervalo que lhes foi concebido. E mesmo que não se queira doar sua vida pra esse lugar obscuro que te faz esquecer que ainda existe algo de bom, a força do empuxo é bem maior que se imagina. Se você tem uma meta, é um em um milhão. Se existe alguma pretensão realmente positiva, de tentar fazer o que se tem vontade mesmo que seu maior sonho seja humanamente impossível, orgulhe-se. Muitos passaram por aqui. Alguns fizeram história. Não história mundial, pra serem lembrados e celebrados seus ideais séculos afora. Fizeram história em sua própria vida. Levaram sepultadas as lembranças de uma vida sentimentalmente saudável e a certeza de nunca ter se esquecido de abrir um sorriso nas mais simples situações cotidianas. Fundamentalmente, o melhor caminho é sempre esse. Leveza no coração, sinceridade no olhar, profundidade nas palavras e uma boa dose diária de gargalhadas que ecoam nos ouvidos alheios causando mais e mais gargalhadas, e assim sucessivamente, como uma cadeia infinita de doação direta da mais sincera alegria. Pra se viver com ternura, sem perder a compostura contente de quem gosta de viver, em meio a toda essa loucura, um método interessante... Criar-se um mundo próprio. Autônomo. Anexo. Independente do mundo real. Respeitando cada detalhe do interno e do externo. Sem misturar as coisas. É a famosa história do "eu-queria-que-fosse-assim". Queria que meu cabelo fosse mais liso, minha pele mais macia, meus olhos mais claros. Queria ganhar na loteria, queria uma casa grande, queria um carro de causar inveja. Queria não ter que acordar cedo. Queria não precisar fazer metade das coisas que me foram impostas. Mas elas foram, de fato. E algumas têm de ser seguidas à risca.
Queria trocar de vida com alguém, como em algum filme interessantemente utópico que devo ter visto um dia. Queria. Queria. Queria. Queria... Do verbo "não posso querer porque tá fora do meu alcance" ou "é mais fácil viver num querer eterno do que procurar fazer por onde". De fato, existem coisas que, se colocadas num universo parelelo, fogem à realidade e acabam machucando... Coisas translúcidas que, ao longe, nem conseguem ser distinguidas. Coisas que trazem expectativas não-saudáveis, calcadas em fatos que jamais serão possíveis. Como trazer de volta alguém amado que já partiu pro outro lado desse mundo em chamas. Como curar corações com feridas tão profundas que se tornam crônicas com o tempo... Como querer mudança sem buscar mudar. A maioria do que precisa acontecer depende mais de nós mesmos do que de qualquer outro fato alheio. Parece absurdo porque passamos muito mais tempo com outras pessoas (que têm mais "poder" sobre cada um de nós) do que tentando descobrir quem nós somos, o que queremos, do que gostamos. Acabamos pautando nossas escolhas e objetivos refletindo-nos em vidas externas que em realidade não terão muita serventia se não houver nem um pingo de vontade própria. E passamos a vida fazendo o que o mundo todo faz... Sem se preocupar com o que os habitantes do nosso mundo, esse que é só nosso e que esteve conosco a todo tempo, querem que seja feito de nossas vidas.
Esse mundo interno que é uma confluência de "órgãos" imaginários que, juntos, dão origem a um espaço magnífico. Talvez seja formado por coração, alma e mente. Nessa ordem. Pra que os sentimentos sejam a posição mais alta na pirâmide, a alma seja o filtro de linha fina que só deixe passar as melhores coisas e a mente esteja ali pura e exclusivamente pra organizar as funções de cada vontade ou idéia dos habitantes do seu próprio mundo.
A conexão do seu com o meu, e com o dela, e com o dele, talvez possa transformar esse universo despertencente em algo que queira ser trazido pra perto. Se a sua base for o amor, a minha o respeito, a dela a gentileza e a dele a harmonia, não precisaremos nada além.
Chegará uma hora em que os mundos estarão todos conectados em transversalidade. Juntos, cruzados, apoiando-se um no outro.
Como deve ser. Como sempre deveria ter sido.


"Como é doce morrer nesse mar, de lembrar... E nunca esquecer
 Que se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria... Isso pra mim, é viver."

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Cumulus Nimbus


Que venha devagar e sempre
Se em cada gota traga uma imensidade de sonhos bons
Ou ruins, se traga junto a estes esperança para seguir em frente
O barulho da nostalgia acalme cada coração agitado dos belos dias ensolarados
Que roubam toda beleza que há de se ver também nos pingos gelados dessa precipitação
Lavando almas, renovando ciclos
Desmoronando vidas e reerguendo pensamentos
Quando leva embora a luz e deixa só a insossa escuridão
Ao mesmo tempo cheia de vazios preenchidos com idéias claras
Que não se tem vez de pensar enquanto nossos olhos iluminados estão.

Não é de bom grado se ausentar tempo demais
Já que tudo o que vem do céu há de ser sagrado
Se as nuvens já não carregam tua água vital
É certo que o sol alegrias pressupõe
Quando um céu azul anima manhãs em massa
E a escuridão ao acordar aflora desgosto no levantar
Por entre lençóis e travesseiros
Lamenta-se a presença dos pingos firmes e ligeiros
Saibamos tão lindas serem as coisas agraciadas pelos raios do sol vindos
Mas que nos seja fácil perceber a beleza deste conjunto de lágrimas que caem do céu
Aliviando nuvens e fazendo brotar tantas flores que dependentes lhe são.  

Tanto quanto seja possível um dia claro em sol
Ser desbotado pela incessante queda das moléculas vítreas
Dessa substância essencialmente viva
Possível seja reconhecer a atuação pluviométrica
No presente que nos é concedido ao posterior deste espetáculo descrente
A etérea beleza dos arco-íris
Tão frágeis que se vão sorrateiramente
Apenas para nos lembrar de lembrar
Que não há de se ver sempre a faceta do raio que destrói
Mas por vezes o lado bom da chuva que cai
Onde a beleza se encontra desmeteorologicamente
Dentro de cada um que queira vê-la florescer
Independentemente se a chuva, o vento, o sol
Faz viver, faz brotar, faz amar, faz morrer.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Juventude (?) Perdida

Certa vez li uma reportagem de um colunista da revista Época cujo título dizia, num tom desesperado: "O que mais dizer aos jovens?"
Comecei a leitura com a esperança de que fosse algo positivo, do gênero "o que mais dizer aos jovens para que continuem firmes e fortes" ou alguma coisa animadora, reanimadora, estimulante. Engano... "O mundo está perdido nos dias de hoje" era a frase basilar que deu margem a toda baboseira ali redigida. Como se os horrores do universo tivessem surgido no século XXI, na modernidade, na contemporaneidade. Há de se convir que sim, existe uma atualidade jovial que segue resquícios de um passado inesquecível. Mas, repito: resquícios de um passado inesquecível. Não foi um bando de jovens revoltados que escravizou metade da África por acreditar que os negros não tinham alma. Hitler não se encontrava no auge de sua adolescência perdida quando matou os alguns milhões de pessoas que, segundo ele, despurificavam a raça. Tampouco as Ditaduras da maioria das regiões foi feita por pessoas novas desprovidas de discernimento. Há um contraponto: os guerrilheiros, militantes, os heróis das nações, esses sim, eram jovens. Perdidos, alucinados, fora de si. Mas com um propósito e um foco que nem a tortura conseguiu afastar: a liberdade. A democracia, a justiça. Muitas vezes e muitos deles, pelo simples prazer de revolucionar, de tentar mudar. Ou de bagunçar, tumultuar, piorar. Mas há os que orgulham a nossa raça, sendo eternamente heróis de pouca idade... Longe de ter pouca experiência. Olga Benario ingressou no movimento comunista com 15 anos. Anne Frank escreveu um diário que comoveu o mundo de norte a sul, também com 15 anos. Che Guevara foi um dos principais ideólogos e comandantes da Revolução Cubana de 53, com 25 anos. Tanto no Estado Novo em 37 quanto na Ditadura Militar de 64, no Brasil, a maioria da força da guerrilha era formada por estudantes, que têm inclusive o respeito pelo nome da UNE (União Nacional dos Estudantes), onde muitos morreram sendo torturados mas lutando pela democracia até a última gota de sangue. A jovem americana Jan Rose que, usando de sua ousadia de adolescente pensava colocar uma flor no cano da arma de um dos soldados a sua frente durante o protesto anti-Vietnã, tinha 17 anos. As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia) têm uma atuação não muito passível de admiradores, mas, ainda assim, é uma força de guerrilha que luta contra o governo colombiano formada por jovens de às vezes até mesmo dez anos de idade, sem força física ou mental, que são obrigados a deixar suas famílias pra lutar a favor de seu ideal... A princípio, forçados. Num segundo momento, buscando um objetivo liberal, pautado no socialismo.
Bom... Na conclusão, aconselho pensar duas vezes antes de abrir a boca pra reclamar da sociedade atual. Existe muita barbaridade no mundo. Muita. Feitas também por pessoas no auge da idade, que um dia já foram jovens, é claro. Mas cometeram suas atrocidades depois de certa experiência adquirida.
Os jovens estão perdidos? NÃO. Se existe algum grupo que pode salvar essa humanidade suja de sangue e afogada em lágrimas, somos nós. Com toda a certeza, não utilizando de meios como matar uns aos outros pra implantar ideologias ou preferências religiosas. Mas se expressando através da música, da arte, do estudo, do esforço, da dedicação...
Nós temos força suficiente pra mover o mundo.
"Nenhum de nós é tão forte quanto todos nós juntos."
Pelo amor à uma geração heróica, nem tão perdida quanto alguns gostariam que ela fosse.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Infinito Carnaval

Não é muito sensato no ser humano o fato de esperar trezentos e sessenta e cinco dias pra pular de alegria por apenas três ou quatro dias em um ano. Esse clima descompromissado agrada e atrai a atenção da maioria, mas junto com isso, uma boa dose de felicidade vem embutida no pacote. É sério que isso tem que ser assim? Ironicamente, carnaval é época de se esconder atrás de máscaras e sair pulando na rua... E verdadeiramente, é a época onde todos nós jogamos as nossas máscaras no chão e brincamos a alegria de viver, nesse cenário despropositado de cantar marchinhas e seguir a massa. Mas, essa é uma pergunta interessante... Por que esse fenômeno sensacional de felicidade só acontece (em sua maioria) nos míseros dois, três ou quatro dias de carnaval? Por Deus... No carnaval, sorrimos pra cinco pessoas a cada esquina, damos bom dia pros moradores de rua, torramos no sol e andamos quilômetros em meio a enormes multidões sem reclamar de nada, gargalhando e transbordando de felicidade ao fazer isso. E por que não fazemos isso o resto do ano inteiro? Seria inimaginavelmente agradável se durante os doze meses do ano, as pessoas percebessem o quanto a vida é maravilhosa, o quanto nascemos com a incumbência de sermos foliões da hora que acordamos até a hora de irmos dormir... O milagre da vida é pra ser celebrado a cada segundo. Sem depender de serpentinas, confetes, ceias de Natal ou fogos de Réveillon. Se você consegue respirar sozinho, brinde. Se você consegue andar com suas próprias pernas, festeje. Se você consegue ouvir a risada de uma criança e se emocionar, comemore. Se você consegue sorrir apenas por sorrir, sem algum motivo ou comemoração especial, continue sorrindo até que seus músculos faciais não possam mais suportar. Deixe que a alegria colorida do carnaval invada seus dias sem dó, como o sol que te desperta iluminando a janela pela manhã. Ou a chuva. Porque afinal, a felicidade é um sentimento absolutamente independente. Vamos abolir a quarta-feira de cinzas das nossas vidas e "não ter a vergonha de ser feliz" não só no meio da multidão foliã... Mas sempre que você se olhar no espelho e tiver a capacidade de entender como é maravilhoso ter sido abençoado com a vida e com todas as coisas boas que ela veio lhe trazer... Ou as ruins, que com certeza, lhe trarão coisas melhores um dia. Aliás, assim como os defeitos do carnaval, toda vida tem seus prós e contras. Quando tiver que ir trabalhar no sol e andar no meio da massa trabalhadora de terno e gravata, se imagine num bloco imenso de carnaval. Sorria pra cada uma delas como se estivessem comemorando algo. Ou sorria pra si mesmo... Mas não se esqueça de sorrir. Nem por um segundo sequer. E viva a alegria eterna da folia carnavalesca! :)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Analogia

Como o clima aconchegante do inverno, tem barulho de chuva fraca e de folhas secas voando no chão. Com o corpo frágil de uma taça de cristal, quebra ao menor toque de pouca delicadeza. Exige um cuidado imenso ao ser manuseado, como um bebê recém-nascido abençoado com a inocência. De vez em sempre, precisa de manutenção, como um aparelho eletrônico que tem de ser reparado de tempos em tempos.
Tem cheiro de flor, cheiro de roupa limpa, cheiro de café-da-manhã, cheiro de chocolate... De um cheiro tão estonteante que inebria a rua inteira ao passar. É aquele cheiro que dá vontade de prender num potinho. Aquele que dá vontade de não se deixar esquecer.
Tem cor de arco-íris melhorado, mais detalhado, mais desenhado... Um pouco mais colorido, pra contrastar com o barulho da chuva. Quanto a esse aspecto, não existe nada tão absoluto: quando começa a perder a cor, você pode retocar, não se preocupe. Desde que seja recolorido com a maior calma do mundo.
Tem textura de pele macia, de travesseiro de pena, de colo de mãe, de soneca vespertina, de abraço de melhor amigo com saudade. É tão confortável quanto seja possível. E é ele que vai sempre te acolher em seus braços quando você precisar sorrir.
O mais interessante no
amor, é que ele continua colorido para os cegos. Continua soando agradavelmente aos ouvidos até de quem não pode escutar.
A gente sente o cheiro bom do amor mesmo numa crise de rinite daquelas em que não se sente o cheiro nem do perfume mais forte.
Podemos sentir suas mãos macias apertando com força nosso coração, por mais duro que ele seja.
Eu admiro o amor desde antes de vir ao mundo.
Desde quando fui carregada dentro do corpo de alguém, por nove meses inteiros, com amor.
Desde quando contaram as horas pra me ver chegar.
Desde do primeiro dia em que aprendi o que era um beijo, um abraço, um olhar.
O amor é tão perfeito, que ele nos perdoa por desacreditá-lo por diversas vezes. E é hipocrisia dizer que não o fazemos: mesmo que não seja nossa culpa, desacreditamos.
Quando a gente menos espera, ele levanta a gente no colo, lá no alto, só pra lembrar que ele esteve ali o tempo todo e não te deixou de lado nem um segundo sequer... Depois deixa a gente cair de novo. Aí a gente se machuca. E depois ele vem nos lembrar da sua existência interminável no nosso perto, todos os dias de nossas vidas.
Há quem ache que vive sem amor. Porque não namora. Porque mora sozinho. Porque não tem amigos.
Você não escolhe ter o amor... Ele nasce com você. Se você é rico, se você é pobre, se você é rodeado de pessoas ou se sua única amiga é a solidão. Alguém te fez, de carne e osso, pele, cor... Com todos os defeitos que você tem, e todas as suas incontáveis qualidades. Você pode não enxergar muito bem, não ter olhos azuis, e ter mais celulites do que gostaria. Mas você sempre será amado pelo amor... Não importa quão defeituoso sejas, interna ou externamente.
De fato, o amor é
alguém. Sem forma, sem cor, sem textura, sem som. Todas as características do amor, quem inventa é você. Se você quiser que ele seja claro e frágil, ele será. Se você quiser que ele seja cheiroso e soe como música clássica, assim será.
Incondicionalmente você será amado por ele. Do seu primeiro ao último dia de vida. Você foi um espermatozóide escolhido em milhares para vir ao mundo e ter a chance de admirar uma bela paisagem, comer uma boa comida e conhecer pessoas especiais. Ainda acha mesmo que te falta amor na vida?
Você pode até escolher ser cego pra não ver, surdo pra não escutar. Mas ele vai estar ali do seu lado. Vai dormir com você, vai te fazer sentir dor. Vai fazer seu coração quase saltar pela boca quando você se apaixonar. E depois quase se desmanchar inteiro quando você não mais estiver apaixonado. E, sendo bom ou ruim, ele estará com você.
Se eu tivesse que escolher algo pra lhe dizer, seria sobre o amor. Nada de muito complexo. É tão simples que chega a ser engraçado. Mas tão importante que se faz assustador: Ame-se. Hoje, agora, amanhã, sempre.
E o amor vai caminhar de mãos dadas com você. Lado a lado. Pessoalmente. Ao vivo e a cores. Até o final dessa longa e eterna estrada que estamos acostumados a chamar de
vida...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sensibilizando

A cada dia. A cada hora. A cada amanhecer e a cada pôr-do-sol. Sensibilidade, ao contrário do que muitos (lê-se a maioria) pensam, está muito longe de ser sinônimo de fraqueza. Ser sensível significa estar vivo. Nossa alma é um depósito de emoções diárias que se transborda de sentimentos através das lágrimas, a melhor forma, junto com o silêncio, de se expressar taxativamente. As lágrimas purificam nosso ser. Sejam elas de felicidade, de satisfação. Ou de tristeza. Ou de raiva. É como se nosso coração fosse um jardim, e as lágrimas fossem a chuva que o mantém vivo, florescendo, iluminado. As lágrimas de alegria colorem as flores; as de tristeza, levam embora as folhas secas caídas pelo chão. Me orgulho do meu coração derretido. Faço questão de regá-lo periodicamente, sem vergonha de me sensibilizar até com uma criança que passa e me dá um sorriso de presente. Há quem banalize o sentido da sensibilidade por ter medo de enfraquecer. Enfrentar a vida com lágrimas nos olhos é de se orgulhar. Porque, debaixo de qualquer temporal de tristeza, você não vai fechar seu coração. Ainda que uma onda de coisas ruins passem na sua vida, seu jardim vai continuar sendo cuidado por você. Quem não sensibiliza, endurece o coração. Cristaliza nele uma série de sentimentos negativos, uma monte de folhas secas que se acumulam e fazem o jardim do coração secar. E, ironicamente, quanto mais rígido é o coração, mais fácil ele é de se quebrar. Experimente partir no meio uma folha saudável e uma folha seca, e observe qual das duas é mais sensível à agressão. Pois bem, ter medo da sensibilidade é uma estupidez sem fim. Se você se arrepia com uma música, se você chora vendo o mesmo filme pela quinta vez, se você se desequilibra da cabeça aos pés quando briga com seu pai, se você sente frio na barriga quando relê uma carta bonita, se você fica vidrado no olhar de um cachorro na rua... Você está vivo, de fato. Sua sensibilidade vive girando em torno de todos os seus ossos, e você vive essa vida com intensidade. Continue permitindo que sua alma transborde a cada dia... Seja sensível a ponto de perceber quando você precisa ficar sozinho, quando um amigo precisa de você. Sensibilize-se até sentir falta do que ainda nem perdeu, percebendo quanta saudade essas coisas vão lhe deixar um dia. Chore, sorria, grite, chore de novo, flexibilize-se, sensibilize-se. Se deixe transbordar. Seja forte sempre, e se preferir, seja sensível sem usar as lágrimas. Mas pode ter certeza que elas estarão ali para te ajudar quando você precisar. Nunca se esqueça que um órgão vital dentro de você necessita de cuidados pra te manter vivo, muito além dos termos médicos. Cuide dele com todo carinho do mundo, você só tem um.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Metas para 2012

É realmente curioso vermos uma perspectiva de melhora tão distante do presente. Por que, de verdade, precisa existir um motivo especial, como a passagem do ano, para que nosso espírito se anime a mudar? "Projeto Carnaval 2010", "Lista de Metas para o Ano que Vem"... Coisas desse naipe são típicas de depois do meio do ano. A verdade é que essa espera pela melhora devia ser menor. Melhor que do que menor, deveria ser inexistente. Não existe porquê esperar pra ser melhor, pra ser maior, pra ser mais forte. Esse desejo devia ser urgente. Já passou da hora de abrirmos os olhos pra enxergar quantas coisas ruins existem, e como a nossa parte no todo pode auxiliar uma evolução generalizada. A busca pela melhora, a revolução das expectativas ascendentes deve ser DIÁRIA. É bastante nítida e verdadeira a dificuldade desse pedido.. Os problemas são crescentes, e a solução dos mesmos parecem cada vez mais distantes, nos desanimando a acordar com vontade de melhorar, a cada dia. O discurso de desânimo é quase sempre igual. "De que adianta eu emagrecer, engordar, estudar, melhorar, piorar, melhorar de novo, cair, levantar (...) se ninguém vai notar?". Agora, a pergunta que não quer calar: Por que alguém tem que notar? Basta que você acredite na sua melhora, na sua perseverança, no seu querer. E quando você se notar, você perceber que mudou, você perceber que vem acordando disposto a ser cada dia melhor, o mundo vai te olhar com outros olhos. Pode ter certeza absoluta disso. Deixar pro ano que vem, pro carnaval, pro Natal ou seja lá pra quando for, é uma estupidez completa. Abra os olhos, todas as manhãs, querendo ser mais belo, mais forte, mais culto e mais feliz. A cada dia, a cada noite. Isso dá movimento à aquiescência que muitas vezes a vida traz... Pra que esperar trezentos e sessenta e cinco dias pra virar seu mundo de cabeça pra baixo? Não precisamos ser iguais todos os dias. Não precisamos nascer preconceituosos e morrer assim. Nem precisamos nascer conformados e morrer assim. Amanhã ou depois, com um pingo de esperança, você pode perceber que a cor da pele pouco importa e que a falta de questionamento à vida torna nossas mentes cada vez mais atrofiadas. Isso não é obrigatório, é claro. Podemos viver oitenta anos da mesma vida como imbecis, vestindo sempre os mesmos estilos de roupa, acomodados com o nosso ser cristalizado. Mas, se quiser um conselho de alguém que tem pensamentos retardados que não têm absolutamente NADA a ver com a verdade... Mude. Renove-se, inove-se, questione e não deixe nunca de lembrar de não se acomodar com a sua falta de conhecimento sobre algum assunto, com aquela gordurinha que te incomoda ou com aquela pequena discussão que você teve ontem com seu chefe. A acomodação é o primeiro sinal de que você está deixando a vida te levar, sem ter domínio sobre ela... E se eu tivesse que fazer um pedido a você, seria exatamente que você se agarrasse à vida como quem agarra um amigo verdadeiro que não se vê há anos. Porque a vida, é isso. Sua eterna e melhor amiga. Você só tem a ela... O seu carro não é seu, nem a sua cama, nem as suas roupas, nem as suas opiniões petrificadas e imutáveis. Você só tem a vida. Por isso, faça valer a pena cada dia dela, pra que no último dia em que fechar os olhos, a sua retrospectiva seja das melhores possíveis. Comece por mudar agora.