sábado, 10 de setembro de 2011

A Era Negativista

Há de existir, brevemente, graças ao ininterrupto crescimento da nossa tecnologia, um medidor da nossa capacidade incrível de problematizar as situações. Até que ponto vai o nosso dom inato de tornar as coisas tão mais difíceis? Não há uma explicação direta porque, dependendo de nós, essa capacidade pode ser finita ou não. Qualquer imbecil consegue, de forma invejável, reclamar a esmo de qualquer coisa. Mas nem todos nós temos o potencial de resolver o que nos incomoda. E o nome desse mal, que pra mim é um dos piores da humanidade, é falta de atitude. Porque a gente reclama do frio, mas não veste um casaco. A gente reclama do calor, mas não liga o ar condicionado. A gente reclama do governo, mas vota no Macaco Tião. A gente reclama da violência, mas ensina aos nossos filhos a revidar se for agredido. A gente reclama da falta de educação no trânsito, mas avança um sinal a cada esquina. Então, é mole delegar e/ou afastar a nossa parcela de culpa nos defeitos do mundo, sentar na poltrona da sala e gastar 24h de um domingo reclamando da vida. Sem esquecer de mencionar que, daqui a meia hora quando sairmos para almoçar, a gente vai fechar os olhos pra não enxergar as cinco crianças subnutridas vendendo bala no sinal debaixo de um sol de 40°. Mas não é problema nosso, afinal. A nossa única participação nesse mundo é a de falar a toda hora "Aonde é que esse mundo vai parar?". É uma frase legal de se falar. Dentro dentro dela há muitas outras coisas intrínsecas que nos confortam, né? Como aquela história de que as pessoas até poderem querer te ver bem, mas nunca melhor do que elas. A gente reclama todo dia do vazamento na parede que vem da casa do vizinho, mas não quer nem saber se ele tem dinheiro pra consertar ou se realmente não faz porque não quer. Deixa do jeito que tá, afinal, você já tá fazendo sua parte em reclamar, e a vantagem é sua: você é um vizinho menos desprezível do que ele. Na verdade, a solução pra esse problema não é individual. No Direito Civil, chamamos de responsabilidade solidária. Adaptando para questões mundanas, podemos fazer a analogia. Essa culpa é coletiva. Sem falseado discurso ecológico, até porque eu detesto grilos e esperanças, jogando seu chiclete pela janela do carro você contribui pra caramba com a poluição das ruas. Buzinando por três minutos consecutivos, em vão pois o carro da frente não tem espaço pra andar, você contribui pra deixar o motorista da frente mais irritado e bater num poste a um quilômetro dali. Parece banal e ostensivo, mas não é. Essa sucessão de coisas desencadeia em problemas intermináveis, e num cenário onde ninguém é culpado e todo mundo faz a sua parte. O culpado é sempre o vizinho, sempre o próximo, sempre o cara do carro do lado, sempre. Sempre mesmo. Até porque, você sai muito tarde do trabalho.. Vai chegar em casa e comer comida fria, e acordar cedo pra trabalhar no dia seguinte. Só que o que você não sabe, é se o teu vizinho ou o cara que te xingou no trânsito vai ter uma casa pra dormir as suas míseras 4 horas por noite, ou alguma comida pra aquietar o estômago pelo menos até usar o tíquete alimentação no trabalho dia seguinte. Então, quer um conselho? Guarde sua negatividade pra você. De verdade, o mundo não precisa de mais. Vista um casaco, ligue o ar condicionado, pense antes de votar. Não reclame da miséria e da fome. Suba nos morros e doe parte do seu salário às crianças famintas. Pegue as roupas do seu armário e divida com elas. Leve cestas básicas a instituições de caridades que se propõem a fazer isso. Não quer fazer? Tudo bem, mas não diga que fez a sua parte. Tudo que você manda pro universo, o universo manda de volta para você. Em dobro, em triplo, dez vezes mais. Não sou eu que tenho que te ensinar como viver a sua vida, mas a minha parte é aqui, não te dizendo pra se acomodar com os problemas, mas sim abrir os olhos pra enxergá-los e levantar da poltrona da sala pra enfrentá-los de frente. Sem deixar o otimismo atrapalhar sua capacidade de deixar as coisas cada vez melhores. A sua parte nessa evolução, é simplesmente fundamental. Lembre-se disso, a cada discurso hipócrita que for fazer sobre a violência nas ruas depois de assistir ao Jornal Nacional. Pense duas vezes, deixe de lado a mediocridade, e lembre-se de quantas coisas boas nós temos a enaltecer, pra nos confortar com suavidade frente a todos esses problemas que, de fato, existem. Mas eles estão aí pra nós, como qualquer outra coisa. Eles estão aí pra serem encarados. E é isso que nos faz crescer, a cada dia. Acreditar que eles vão melhorar ou piorar não é suficiente. Após algumas tentativas, você tem toda propriedade do mundo pra reclamar o quanto quiser. Mas antes disso.. Nenhuma. Você perdeu a razão. Olhar pra si antes de falar do outro é um bom começo. E se contentar com estar bem, também. Sem se importar se o outro está melhor, pior ou igual. Apenas observe você, e a partir desse momento introspectivo, conseguirá dividir as coisas boas que você tem com todo o mundo a sua volta. Antes de reclamar do texto, tente colocar em prática esse conselho de amiga. Eu tentei, eu consegui. E funciona, mesmo.