quarta-feira, 11 de abril de 2012

Juventude (?) Perdida

Certa vez li uma reportagem de um colunista da revista Época cujo título dizia, num tom desesperado: "O que mais dizer aos jovens?"
Comecei a leitura com a esperança de que fosse algo positivo, do gênero "o que mais dizer aos jovens para que continuem firmes e fortes" ou alguma coisa animadora, reanimadora, estimulante. Engano... "O mundo está perdido nos dias de hoje" era a frase basilar que deu margem a toda baboseira ali redigida. Como se os horrores do universo tivessem surgido no século XXI, na modernidade, na contemporaneidade. Há de se convir que sim, existe uma atualidade jovial que segue resquícios de um passado inesquecível. Mas, repito: resquícios de um passado inesquecível. Não foi um bando de jovens revoltados que escravizou metade da África por acreditar que os negros não tinham alma. Hitler não se encontrava no auge de sua adolescência perdida quando matou os alguns milhões de pessoas que, segundo ele, despurificavam a raça. Tampouco as Ditaduras da maioria das regiões foi feita por pessoas novas desprovidas de discernimento. Há um contraponto: os guerrilheiros, militantes, os heróis das nações, esses sim, eram jovens. Perdidos, alucinados, fora de si. Mas com um propósito e um foco que nem a tortura conseguiu afastar: a liberdade. A democracia, a justiça. Muitas vezes e muitos deles, pelo simples prazer de revolucionar, de tentar mudar. Ou de bagunçar, tumultuar, piorar. Mas há os que orgulham a nossa raça, sendo eternamente heróis de pouca idade... Longe de ter pouca experiência. Olga Benario ingressou no movimento comunista com 15 anos. Anne Frank escreveu um diário que comoveu o mundo de norte a sul, também com 15 anos. Che Guevara foi um dos principais ideólogos e comandantes da Revolução Cubana de 53, com 25 anos. Tanto no Estado Novo em 37 quanto na Ditadura Militar de 64, no Brasil, a maioria da força da guerrilha era formada por estudantes, que têm inclusive o respeito pelo nome da UNE (União Nacional dos Estudantes), onde muitos morreram sendo torturados mas lutando pela democracia até a última gota de sangue. A jovem americana Jan Rose que, usando de sua ousadia de adolescente pensava colocar uma flor no cano da arma de um dos soldados a sua frente durante o protesto anti-Vietnã, tinha 17 anos. As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia) têm uma atuação não muito passível de admiradores, mas, ainda assim, é uma força de guerrilha que luta contra o governo colombiano formada por jovens de às vezes até mesmo dez anos de idade, sem força física ou mental, que são obrigados a deixar suas famílias pra lutar a favor de seu ideal... A princípio, forçados. Num segundo momento, buscando um objetivo liberal, pautado no socialismo.
Bom... Na conclusão, aconselho pensar duas vezes antes de abrir a boca pra reclamar da sociedade atual. Existe muita barbaridade no mundo. Muita. Feitas também por pessoas no auge da idade, que um dia já foram jovens, é claro. Mas cometeram suas atrocidades depois de certa experiência adquirida.
Os jovens estão perdidos? NÃO. Se existe algum grupo que pode salvar essa humanidade suja de sangue e afogada em lágrimas, somos nós. Com toda a certeza, não utilizando de meios como matar uns aos outros pra implantar ideologias ou preferências religiosas. Mas se expressando através da música, da arte, do estudo, do esforço, da dedicação...
Nós temos força suficiente pra mover o mundo.
"Nenhum de nós é tão forte quanto todos nós juntos."
Pelo amor à uma geração heróica, nem tão perdida quanto alguns gostariam que ela fosse.