quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sem querer, três lágrimas

Hoje, 19/08/10, quinta-feira, mais ou menos às 10:00 h da manhã, rotina básica de acordar, tomar um banho e ir pra faculdade. Não muito rotineiramente hoje, em função do mau-humor que me abraçou de madrugada em meu pesadelo, e só me largou depois de um fato muito interessante do meu dia. Levantei, fiz tudo que costumo fazer, desci, dei bom dia à vovó, dei bom dia pros três cachorros mais lindos desse mundo, e caminhei em direção ao ponto de ônibus, pois, apesar do mau-humor, restava um pouco de paciência para andar um pouco e tentar espairecer, ao invés de desistir de sorrir e pegar um táxi. Geralmente o mínimo de contato que tenho com pessoas na rua consegue destituir meu mau-humor transformando-o apenas em sono, o que já é um grande passo. Então eu fui... A aula começava às 10:20, e dava tempo ainda de caminhar devagar. Acordei hoje meio pensativa, meio filosófica. Muito perceptiva. Muito mesmo. Reparando cada coisa que aconteceu do caminho do meu portão até o ponto de ônibus. O quão volúvel minha cadela consegue ser em menos de cinco minutos, quando late feito louca ao ver um bichano passando na rua, e como abaixa as orelhas graciosamente quando sente minha mão fazendo carinho. Percebi o quanto é interessante fazer tanto sol e mesmo assim, minhas pernas tremerem de frio. Quanta peculiaridade há no mundo, quantas características diferentes configuram cada coisa ao nosso redor. Bom, resumindo essa parte do caminho, esperei o ônibus, e quando este chegou, nele entrei. Fui a primeira, e tive a oportunidade de ver todas as pessoas da fila entrando, podendo mais uma vez reparar em cada uma delas. Umas sorriam porque hoje finalmente fez sol e elas puderam de uma vez tirar o casaco. Outras carregavam a mesma cara amassada de sono que eu, e pude perceber que nem bom dia para o motorista elas deram. O ônibus foi andando, parando em cada ponto, e pessoas dos mais diferentes jeitos iam entrando. Comecei a reparar na minha camisa quadriculada em preto, branco e mostarda, em como as pessoas deviam me olhar também com aquela cara de sono dentro daquela camisa enorme, ou no meu esmalte vermelho-melancia, ou no habitual pacotinho de M&M's de chocolate branco que eu tinha aberto devia fazer uns 5 minutos. Comendo um por vez e reparando como são bonitinhas aquelas coisinhas coloridas e tão gostosas, entrei num momento de êxtase quando ao mesmo tempo, senti o gosto do chocolate, senti o sol batendo no meu rosto, e o mais importante: vi um casal de velhinhos entrando juntos no ônibus. Eu tenho uma síndrome louca de paixão por velhinhos. Especialmente os casais, acho que é porque sonho com isso. Ambos agasalhadinhos, em meio àquele sol, apesar do frio. Ela carregava uma bolsa, e ele também; isso dificultou um pouco a passagem pela roleta, mas para eles parecia fácil, porque estavam juntos. Se ajudaram, e passaram com facilidade. Ver os dois juntos e tão felizes me encantou, e tive a sensação de que conseguia ver o filme da vida deles passando na minha frente. Pareciam estar juntos há pelo menos uns cinquenta e poucos anos, e passado isso, ainda eram tão transparentemente felizes. Pensei em quantas coisas passaram juntos, em quantas tristezas, quantas perdas. Mas lembrei também de quantos momentos lindos tiveram a oportunidade de compartilhar, e conseguia ver tudo isso em um filme em preto e branco, imaginando-os com aquelas roupinhas que se usava antigamente; Então, o ônibus estava um pouco cheio, porém havia lugares separados. Aparentavam ter, os dois, uns oitenta anos, aí o motivo de minha maior emoção. A velhinha sentou-se, e esperou para ver onde ele se sentaria. Ninguém levantou porque havia lugares vagos em outros bancos. No entanto, ele não sentou. Ficou ao lado dela, de pé, apenas para ficar perto, mesmo que estivesse desconfortável. Fico imaginando que ele tenha consciência de quão ancião ele já é, então queira aproveitar cada segundo que ainda tem do lado de sua amada. Ao ver sua atitude, dei um sorriso, o primeiro do dia, e senti uma gota caindo em minha mão próxima à boca levando mais um M&M. Sem sentir, emocionei-me a ponto de fazer brotar uma lágrima, e de tão natural que foi, só percebi quando senti aquele pinguinho caindo em minha mão. Então, eu que tentei sentar o mais longe possível de todo mundo pois não estava afim de demonstrar sinais de simpatia hoje, me levantei e ofereci o lugar aos dois. Toda atrapalhada com o pacotinho de M&M's, dois cadernos na mão, a bolsa e o celular, levantei me segurando, e ainda com lágrima nos olhos, fui oferecer-lhes o lugar. Eles saíram de onde estavam e lá foram os dois, se ajudando para não cair, sentar juntinhos, um perto do outro. Ver os dois juntos e sorrindo me fez tão bem, mas tão bem, que se necessário fosse teria ido de pé na frente deles só para ver aquela cena tão linda. Eu não conseguia parar de olhá-los. Foi incrível, um momento único. Eles conversavam entretidamente, e pareciam nem lembrar que já eram tão velhinhos e infelizmente debilitados. A alegria era notória em seus olhos pequeninos, afogados em sua conversa que parecia tão interessante. Ainda sem conseguir despregar meus olhos daquela situação, e sem conseguir tirar o sorriso do rosto, fiquei ainda mais emocionada quando o velhinho tirou seu casaquinho de lã e passou em volta das costas dela, a fim de protegê-la do vento oriundo de outra janela. Ela se voltou para ele e sorriu, expressando o mais puro amor e gratidão. Suas mãos enrugadinhas entrelaçaram-se, e então recostaram-se no banco e seguiram viagem. Quando consegui voltar ao meu planeta, estava quase passando do ponto, então me levantei rápido, e mais uma vez atrapalhada me dirigi à porta do ônibus. Quis dar uma última olhadinha. Quando passei perto deles, olhei bem ao fundo dos olhos dela, e quis aquele olhar pra mim. Transmitia paz, felicidade, satisfação, amor, plenitude. A segunda lágrima caiu quando ela me sorriu, transmitindo ainda com mais efetividade a gratidão por eu tê-la ajudado a passar mais dez minutinhos ao lado do amor de sua vida. E pude nessa hora olhar tão fundo nos olhos dela que consegui ver ali meu futuro, minha felicidade daqui a alguns sessenta e poucos anos. Desci do ônibus com um aperto enorme no coração... Queria poder ficar ali, admirando. Queria saber pintar, pois faria um quadro daquela cena. Ou talvez uma foto. Qualquer coisa que me fizesse lembrar com clareza uma das coisas mais lindas que já tive a oportunidade de ver. Meu mau-humor se foi, pelo menos parcialmente, quando percebi que não havia motivos de estar assim já que tenho tanta estrada ainda para viver, com coisas tão bonitas de se ver. Fui caminhando em direção à faculdade e sorrindo para cada pessoa que me olhava. Acho que hoje fui tachada de retardada. Mas não importa, afinal... O mais incrível foi na terceira lágrima, que caiu quando consenti à mim mesma a promessa de nunca mais esquecer desse dia.

9 comentários:

  1. Tá explicado o porque das gargalhadas mais gostosas do mundo, dadas na hora do almoço de hoje! LINDA a história loira =)

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  2. Esse cara aí de cima disse o quê?!?!?!? Só ele o o Gil??? Não sou mais amiga dele, só sua, tá??
    mamy

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  3. espetacular prestigiarmos coisas cotidianas que passam geralmente ocultas aos nossos olhos babacas e mal acostumados. é tao bom podermos ser mais gentis, até conosco mesmo. inigualável vermos e nos emocionarmos com coisas que geralmente ninguém perde o tempo de ver, muito menos pensar a respeito. gostei loira.

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  4. Obrigada, amo vocês! :)
    Mamãe, sem ciúmes, sei que antes ainda deles dois juntos vem você! rs

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  5. li de novo e chorei de novo. HAHAHAHAHA

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  6. li de novo e chorei de novo. HAHAHAHAHAHA [2]

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  7. li de novo e chorei de novo. HAHAHAHAHA [3]

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  8. Lindo, vc é linda, a história é linda, seu coração é lindo................. vc é PERFEITA, meu orgulho =) te amo!!!

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