terça-feira, 21 de junho de 2011

Um minuto de silêncio

"Gente, que silêncio! Alguém diz alguma coisa pra quebrar esse clima..." Quem nunca disse ou ouviu essa frase, que atire a primeira pedra. Em épocas da minha vida estive convencida de que era a pessoa mais barulhenta que eu mesma já conheci. Porém, quando descobri o significado do barulho, percebi que minha busca é por um silêncio interno e eterno. Certa vez, lendo palavras de Max Ehrmann, me peguei pensando profundamente no silêncio:
"Siga placidamente em meio ao barulho e à pressa e lembre-se da paz que se encontra no silêncio. [...] Evite as pessoas escandalosas e agressivas; elas afligem o espírito. [...]"
O silêncio muitas vezes pode significar paz de espírito. Pode também significar um vazio imenso entre duas ou mais pessoas onde as mesmas não tem idéia do que dizer, num momento de dúvida, de aflição, de tensão; mas, na maioria das vezes, por achar que o silêncio é o ócio total das nossas mentes, bem como das alheias, julgamo-no como algo nocivo a nós mesmos. Fazendo uma analogia a uma frase muito corriqueira, interpretando de uma forma mais aberta, "passou um anjo por aqui, todo mundo se calou", quer dizer que o anjo trouxe paz ao ambiente - talvez falemos tão superficialmente sobre o silêncio, que não percebemos o bem imenso que ele nos faz. As pessoas solitárias sentem falta do barulho, porque ele faz alusão a algum tipo de companhia. Sem generalizar, percebamos as que moram sozinhas. Quase todas passam a maior parte do tempo com a televisão ligada, como se a voz de outras pessoas naquela caixa eletrônica trancafiadas, fosse arrancar um pouco dessa solidão eterna que invade suas casas. Seguir placidamente em meio ao barulho e à pressa, quer dizer continuar pacífico e calmo, mesmo que imerso nas aflições mundanas que enfrentamos no dia-a-dia, e que se tornam uma poluição sonora irremediável ao nosso espírito. A pressa nos faz esquecer do que nos faz bem, apenas nos deixando sobreviver do jeito que nos cabe no tempo que nos resta das vinte e quatro horas democráticas com as quais somos presenteados desde o primeiro dia de nossa vida. Lembre-se da paz que se encontra no silêncio. Lembre-se, mas de NUNCA se esquecer dessa paz. O silêncio representa a sua profunda união de você com você mesmo. Do seu corpo, alma, mente, carne, ossos, órgãos, células, átomos. Dentro do silêncio você encontra as respostas das perguntas que, em meio aos ruídos cotidianos, não consegue responder a si mesmo e nem àqueles a sua volta. O que acontece muitas vezes é que, as pessoas têm a ciência de que o silêncio é uma máquina de consciência, mas a sua vida se faz tão afoita e embaraçosa que, preferem permanecer em meio ao barulho, sem pensar com intensidade em tudo que lhes cerca. Há um exercício interessante para valorarmos o silêncio com perfeição. Imagine um homem. Um empreiteiro. Um empreiteiro um dia inteiro perto de uma britadeira. Um empreiteiro com 4 filhos. Um empreiteiro com 4 filhos, uma esposa, uma amante, morando num conjugado e uma britadeira. Naturalmente os empreiteiros não têm tempo para meditar e pensar no universo, na consciência, na paz de espírito. Mas, mesmo eles, sem esse espaço, ainda que prefiram estar na companhia de britadeiras a de suas mulheres reclamando e 4 filhos gritando, conseguem valorar mais o silêncio do que nós, que temos tempo suficiente para pensar e praticar o silêncio com destreza e atenção. Perceba em cada segundo de silêncio quantos barulhos apaziguadores existem no mundo. Sem britadeiras, campainhas, furadeiras, choros de criança, latidos e marteladas. Perceba, com totalidade, o namorar dos grilos, o ressonar do sol à noite e o da lua, ao dia. O ruído de sua própria respiração, o trabalho que seus órgãos fazem com precisão para lhe manter vivo e forte em meio a toda essa pressa. Evite as pessoas escandalosas e agressivas; elas afligem o espírito. Ouvi também alguém muito iluminado dizer, certa vez, num lugar cheio de paz, algo que tomou conta de meus pensamentos por muitos dias. Explicou que, quando gritamos uns com os outros, é sinal de que nossos corações estão afastados. Esse fato, é processual. Começa com um grito, o coração se assusta, e se afasta um pouco. No segundo grito, o coração sai de perto. Com o passar o tempo, os corações se afastam de forma que não conseguem encontrar mais o caminho de volta. E assim, você afasta as pessoas de você. Quanto mais pacificamente você se comunica, mais corações trará para perto de si. Quanto menos você fala, e mais acaricia as pessoas com a sua voz, os corações começam a fazer parte do seu, não a ficar apenas perto de você. E quando você já não precisa falar, apenas consegue olhar em seus olhos para compartilharem juntos essa dádiva que é o silêncio, vocês se tornam quase a mesma pessoa. Com essa frase do poeta, hei de discordar: não evite essas pessoas. Ajude-as, no que puder, a serem silenciosas, amorosas, serenas e plácidas como você. Evite sim, ser tão apressado e barulhento a ponto de não conseguir mais ouvir os seus amores, apenas os gritos apavorados das tristezas e dores que, mesmo que poucas, você, como qualquer outro, adquiriu com o tempo. Respeite o silêncio alheio, e acima de tudo, respeite-se. Respeite o silêncio que você precisa, a cada dia. E respeite, mais ainda, o silêncio que o mundo precisa ouvir. Faça o seu silêncio, e, assim, contagiará cada ser do universo aos poucos, com essa paz de espírito que conseguirá exalar no vazio das palavras.

10 comentários:

  1. Gostei MUITO, como sempre... e identifiquei-me em várias partes; é por isso, sem dúvidas, que por diversas vezes a minha escolha é o silêncio!

    "Dentro do silêncio você encontra a resposta das perguntas que, em meio aos ruídos cotidianos, não consegue responder a si mesmo e nem àqueles a sua volta."

    Parabéns flor, maravilhoso!

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  2. flor, vc COMO SEMPRE LINDAAAAAAAAA!!!!!!
    PERFEITO seu post!!!! *.*

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  3. GAROTAAAAAAAAAAAAAAAAA, vc é insuperável! Amei amei amei amei, parabéns querida!

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  4. Mais um pra sua coleção de relíquias em palavras. Meus parabéns!

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  5. A-DO-REI! Vcc tem o dom de organizar as ideias que mtas vezes ficam turvas em nossas mentes. É um dom único, faça proveito dele. Beijos!

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  6. Fico tão emocionada lendo essas coisas que me fogem as palavras, só resta lhe parabenizar.

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  7. Minha linda filha!! Que bom que hoje vc pode perceber que o silêncio é primordial em nossas vidas, principalmente quando retornamos de nossa "rotina" barulhenta para o nosso sacrosântico lar. Fico muito feliz ao perceber que vc está começando a ter essa sensibilidade ao silêncio, tão eficaz na renovação das nossas energias, no encontro com a nossa paz e equilibrio interior! Vc realmente era a pessoa mais barulhenta que nós duas já conhecemos...rsrsrs mas, mamãe te ama assim mesmo, barulhentinha, que está descobrindo por si só as maravilhas da vida e, tenho certeza, não colocaria tão bem explícito no papel, suas sábias palavras, se não fosse ele "o silêncio", um aliado. Amo-te...

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  8. Linda, Voce sempre tem esse dom de ensinar sutilezas da vida com muita propriedade. Te amo muito, continue assim, sempre inspirada, seja pelo barulho, pelo silêncio ou por qualquer sutileza que Deus apresente e só voce com sensiblidade peculiar.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Acho que eu soube, muito antes de você mesmo se dar conta, o quanto você era e é talentosa com as palavras. Sempre dispostas à ajudar o próximo, deixando claro esse dom. Amiga, parabéns! Amo ler seus post's por dois simples motivos: Primeiro porque são de fato, ÓTIMOS. E depois porque me sinto mais próxima da minha Alice que antes podia ver, ouvir e admirar todo-santo-dia.
    Saiba que me identifiquei com essa parte: "Quanto menos você fala, e mais acaricia as pessoas com a sua voz, os corações começam a fazer parte do seu, não a ficar apenas perto de você." Exatamente por achar que sempre o fizemos, a nossa amizade (mesmo que nós sejamos ou não barulhentas rs) sempre foi algo que nos permitiu aproximação ainda que distantes...


    Parabéns novamente!
    Amo-te sz'

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