quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Conexão

É preciso viver com cuidado. Preocupando-se a cada passo, sem que isso atrapalhe a fluência natural do movimento da vida. Deixar as coisas acontecerem no seu tempo, na sua suavidade - sem perder o controle, sem empurrar toda a responsabilidade do fazer acontecer pra longe de si mesmo. Ainda que seja difícil demais viver nesse mundo... Nesse mundo onde as pessoas te procuram por conveniência. Nesse mundo onde se caminha pelas ruas com medo. Nesse mundo onde sempre se espera que algum dissabor aconteça repentinamente, afinal, a dor da decepção já acomodou-se integralmente em nosso corpo. Nesse mundo onde os sorrisos são admirados não pela sua pureza, mas pela sua raridade...
Um mundo onde se é carregado pelas idéias da população maciça que te pisoteia ao andar apressada pra chegar Deus sabe onde... Que vivem unicamente com a vaga ocupação eterna de nascer e morrer, sem aproveitar a fundo um sequer dia desse intervalo que lhes foi concebido. E mesmo que não se queira doar sua vida pra esse lugar obscuro que te faz esquecer que ainda existe algo de bom, a força do empuxo é bem maior que se imagina. Se você tem uma meta, é um em um milhão. Se existe alguma pretensão realmente positiva, de tentar fazer o que se tem vontade mesmo que seu maior sonho seja humanamente impossível, orgulhe-se. Muitos passaram por aqui. Alguns fizeram história. Não história mundial, pra serem lembrados e celebrados seus ideais séculos afora. Fizeram história em sua própria vida. Levaram sepultadas as lembranças de uma vida sentimentalmente saudável e a certeza de nunca ter se esquecido de abrir um sorriso nas mais simples situações cotidianas. Fundamentalmente, o melhor caminho é sempre esse. Leveza no coração, sinceridade no olhar, profundidade nas palavras e uma boa dose diária de gargalhadas que ecoam nos ouvidos alheios causando mais e mais gargalhadas, e assim sucessivamente, como uma cadeia infinita de doação direta da mais sincera alegria. Pra se viver com ternura, sem perder a compostura contente de quem gosta de viver, em meio a toda essa loucura, um método interessante... Criar-se um mundo próprio. Autônomo. Anexo. Independente do mundo real. Respeitando cada detalhe do interno e do externo. Sem misturar as coisas. É a famosa história do "eu-queria-que-fosse-assim". Queria que meu cabelo fosse mais liso, minha pele mais macia, meus olhos mais claros. Queria ganhar na loteria, queria uma casa grande, queria um carro de causar inveja. Queria não ter que acordar cedo. Queria não precisar fazer metade das coisas que me foram impostas. Mas elas foram, de fato. E algumas têm de ser seguidas à risca.
Queria trocar de vida com alguém, como em algum filme interessantemente utópico que devo ter visto um dia. Queria. Queria. Queria. Queria... Do verbo "não posso querer porque tá fora do meu alcance" ou "é mais fácil viver num querer eterno do que procurar fazer por onde". De fato, existem coisas que, se colocadas num universo parelelo, fogem à realidade e acabam machucando... Coisas translúcidas que, ao longe, nem conseguem ser distinguidas. Coisas que trazem expectativas não-saudáveis, calcadas em fatos que jamais serão possíveis. Como trazer de volta alguém amado que já partiu pro outro lado desse mundo em chamas. Como curar corações com feridas tão profundas que se tornam crônicas com o tempo... Como querer mudança sem buscar mudar. A maioria do que precisa acontecer depende mais de nós mesmos do que de qualquer outro fato alheio. Parece absurdo porque passamos muito mais tempo com outras pessoas (que têm mais "poder" sobre cada um de nós) do que tentando descobrir quem nós somos, o que queremos, do que gostamos. Acabamos pautando nossas escolhas e objetivos refletindo-nos em vidas externas que em realidade não terão muita serventia se não houver nem um pingo de vontade própria. E passamos a vida fazendo o que o mundo todo faz... Sem se preocupar com o que os habitantes do nosso mundo, esse que é só nosso e que esteve conosco a todo tempo, querem que seja feito de nossas vidas.
Esse mundo interno que é uma confluência de "órgãos" imaginários que, juntos, dão origem a um espaço magnífico. Talvez seja formado por coração, alma e mente. Nessa ordem. Pra que os sentimentos sejam a posição mais alta na pirâmide, a alma seja o filtro de linha fina que só deixe passar as melhores coisas e a mente esteja ali pura e exclusivamente pra organizar as funções de cada vontade ou idéia dos habitantes do seu próprio mundo.
A conexão do seu com o meu, e com o dela, e com o dele, talvez possa transformar esse universo despertencente em algo que queira ser trazido pra perto. Se a sua base for o amor, a minha o respeito, a dela a gentileza e a dele a harmonia, não precisaremos nada além.
Chegará uma hora em que os mundos estarão todos conectados em transversalidade. Juntos, cruzados, apoiando-se um no outro.
Como deve ser. Como sempre deveria ter sido.


"Como é doce morrer nesse mar, de lembrar... E nunca esquecer
 Que se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria... Isso pra mim, é viver."

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Cumulus Nimbus


Que venha devagar e sempre
Se em cada gota traga uma imensidade de sonhos bons
Ou ruins, se traga junto a estes esperança para seguir em frente
O barulho da nostalgia acalme cada coração agitado dos belos dias ensolarados
Que roubam toda beleza que há de se ver também nos pingos gelados dessa precipitação
Lavando almas, renovando ciclos
Desmoronando vidas e reerguendo pensamentos
Quando leva embora a luz e deixa só a insossa escuridão
Ao mesmo tempo cheia de vazios preenchidos com idéias claras
Que não se tem vez de pensar enquanto nossos olhos iluminados estão.

Não é de bom grado se ausentar tempo demais
Já que tudo o que vem do céu há de ser sagrado
Se as nuvens já não carregam tua água vital
É certo que o sol alegrias pressupõe
Quando um céu azul anima manhãs em massa
E a escuridão ao acordar aflora desgosto no levantar
Por entre lençóis e travesseiros
Lamenta-se a presença dos pingos firmes e ligeiros
Saibamos tão lindas serem as coisas agraciadas pelos raios do sol vindos
Mas que nos seja fácil perceber a beleza deste conjunto de lágrimas que caem do céu
Aliviando nuvens e fazendo brotar tantas flores que dependentes lhe são.  

Tanto quanto seja possível um dia claro em sol
Ser desbotado pela incessante queda das moléculas vítreas
Dessa substância essencialmente viva
Possível seja reconhecer a atuação pluviométrica
No presente que nos é concedido ao posterior deste espetáculo descrente
A etérea beleza dos arco-íris
Tão frágeis que se vão sorrateiramente
Apenas para nos lembrar de lembrar
Que não há de se ver sempre a faceta do raio que destrói
Mas por vezes o lado bom da chuva que cai
Onde a beleza se encontra desmeteorologicamente
Dentro de cada um que queira vê-la florescer
Independentemente se a chuva, o vento, o sol
Faz viver, faz brotar, faz amar, faz morrer.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Juventude (?) Perdida

Certa vez li uma reportagem de um colunista da revista Época cujo título dizia, num tom desesperado: "O que mais dizer aos jovens?"
Comecei a leitura com a esperança de que fosse algo positivo, do gênero "o que mais dizer aos jovens para que continuem firmes e fortes" ou alguma coisa animadora, reanimadora, estimulante. Engano... "O mundo está perdido nos dias de hoje" era a frase basilar que deu margem a toda baboseira ali redigida. Como se os horrores do universo tivessem surgido no século XXI, na modernidade, na contemporaneidade. Há de se convir que sim, existe uma atualidade jovial que segue resquícios de um passado inesquecível. Mas, repito: resquícios de um passado inesquecível. Não foi um bando de jovens revoltados que escravizou metade da África por acreditar que os negros não tinham alma. Hitler não se encontrava no auge de sua adolescência perdida quando matou os alguns milhões de pessoas que, segundo ele, despurificavam a raça. Tampouco as Ditaduras da maioria das regiões foi feita por pessoas novas desprovidas de discernimento. Há um contraponto: os guerrilheiros, militantes, os heróis das nações, esses sim, eram jovens. Perdidos, alucinados, fora de si. Mas com um propósito e um foco que nem a tortura conseguiu afastar: a liberdade. A democracia, a justiça. Muitas vezes e muitos deles, pelo simples prazer de revolucionar, de tentar mudar. Ou de bagunçar, tumultuar, piorar. Mas há os que orgulham a nossa raça, sendo eternamente heróis de pouca idade... Longe de ter pouca experiência. Olga Benario ingressou no movimento comunista com 15 anos. Anne Frank escreveu um diário que comoveu o mundo de norte a sul, também com 15 anos. Che Guevara foi um dos principais ideólogos e comandantes da Revolução Cubana de 53, com 25 anos. Tanto no Estado Novo em 37 quanto na Ditadura Militar de 64, no Brasil, a maioria da força da guerrilha era formada por estudantes, que têm inclusive o respeito pelo nome da UNE (União Nacional dos Estudantes), onde muitos morreram sendo torturados mas lutando pela democracia até a última gota de sangue. A jovem americana Jan Rose que, usando de sua ousadia de adolescente pensava colocar uma flor no cano da arma de um dos soldados a sua frente durante o protesto anti-Vietnã, tinha 17 anos. As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia) têm uma atuação não muito passível de admiradores, mas, ainda assim, é uma força de guerrilha que luta contra o governo colombiano formada por jovens de às vezes até mesmo dez anos de idade, sem força física ou mental, que são obrigados a deixar suas famílias pra lutar a favor de seu ideal... A princípio, forçados. Num segundo momento, buscando um objetivo liberal, pautado no socialismo.
Bom... Na conclusão, aconselho pensar duas vezes antes de abrir a boca pra reclamar da sociedade atual. Existe muita barbaridade no mundo. Muita. Feitas também por pessoas no auge da idade, que um dia já foram jovens, é claro. Mas cometeram suas atrocidades depois de certa experiência adquirida.
Os jovens estão perdidos? NÃO. Se existe algum grupo que pode salvar essa humanidade suja de sangue e afogada em lágrimas, somos nós. Com toda a certeza, não utilizando de meios como matar uns aos outros pra implantar ideologias ou preferências religiosas. Mas se expressando através da música, da arte, do estudo, do esforço, da dedicação...
Nós temos força suficiente pra mover o mundo.
"Nenhum de nós é tão forte quanto todos nós juntos."
Pelo amor à uma geração heróica, nem tão perdida quanto alguns gostariam que ela fosse.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Infinito Carnaval

Não é muito sensato no ser humano o fato de esperar trezentos e sessenta e cinco dias pra pular de alegria por apenas três ou quatro dias em um ano. Esse clima descompromissado agrada e atrai a atenção da maioria, mas junto com isso, uma boa dose de felicidade vem embutida no pacote. É sério que isso tem que ser assim? Ironicamente, carnaval é época de se esconder atrás de máscaras e sair pulando na rua... E verdadeiramente, é a época onde todos nós jogamos as nossas máscaras no chão e brincamos a alegria de viver, nesse cenário despropositado de cantar marchinhas e seguir a massa. Mas, essa é uma pergunta interessante... Por que esse fenômeno sensacional de felicidade só acontece (em sua maioria) nos míseros dois, três ou quatro dias de carnaval? Por Deus... No carnaval, sorrimos pra cinco pessoas a cada esquina, damos bom dia pros moradores de rua, torramos no sol e andamos quilômetros em meio a enormes multidões sem reclamar de nada, gargalhando e transbordando de felicidade ao fazer isso. E por que não fazemos isso o resto do ano inteiro? Seria inimaginavelmente agradável se durante os doze meses do ano, as pessoas percebessem o quanto a vida é maravilhosa, o quanto nascemos com a incumbência de sermos foliões da hora que acordamos até a hora de irmos dormir... O milagre da vida é pra ser celebrado a cada segundo. Sem depender de serpentinas, confetes, ceias de Natal ou fogos de Réveillon. Se você consegue respirar sozinho, brinde. Se você consegue andar com suas próprias pernas, festeje. Se você consegue ouvir a risada de uma criança e se emocionar, comemore. Se você consegue sorrir apenas por sorrir, sem algum motivo ou comemoração especial, continue sorrindo até que seus músculos faciais não possam mais suportar. Deixe que a alegria colorida do carnaval invada seus dias sem dó, como o sol que te desperta iluminando a janela pela manhã. Ou a chuva. Porque afinal, a felicidade é um sentimento absolutamente independente. Vamos abolir a quarta-feira de cinzas das nossas vidas e "não ter a vergonha de ser feliz" não só no meio da multidão foliã... Mas sempre que você se olhar no espelho e tiver a capacidade de entender como é maravilhoso ter sido abençoado com a vida e com todas as coisas boas que ela veio lhe trazer... Ou as ruins, que com certeza, lhe trarão coisas melhores um dia. Aliás, assim como os defeitos do carnaval, toda vida tem seus prós e contras. Quando tiver que ir trabalhar no sol e andar no meio da massa trabalhadora de terno e gravata, se imagine num bloco imenso de carnaval. Sorria pra cada uma delas como se estivessem comemorando algo. Ou sorria pra si mesmo... Mas não se esqueça de sorrir. Nem por um segundo sequer. E viva a alegria eterna da folia carnavalesca! :)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Analogia

Como o clima aconchegante do inverno, tem barulho de chuva fraca e de folhas secas voando no chão. Com o corpo frágil de uma taça de cristal, quebra ao menor toque de pouca delicadeza. Exige um cuidado imenso ao ser manuseado, como um bebê recém-nascido abençoado com a inocência. De vez em sempre, precisa de manutenção, como um aparelho eletrônico que tem de ser reparado de tempos em tempos.
Tem cheiro de flor, cheiro de roupa limpa, cheiro de café-da-manhã, cheiro de chocolate... De um cheiro tão estonteante que inebria a rua inteira ao passar. É aquele cheiro que dá vontade de prender num potinho. Aquele que dá vontade de não se deixar esquecer.
Tem cor de arco-íris melhorado, mais detalhado, mais desenhado... Um pouco mais colorido, pra contrastar com o barulho da chuva. Quanto a esse aspecto, não existe nada tão absoluto: quando começa a perder a cor, você pode retocar, não se preocupe. Desde que seja recolorido com a maior calma do mundo.
Tem textura de pele macia, de travesseiro de pena, de colo de mãe, de soneca vespertina, de abraço de melhor amigo com saudade. É tão confortável quanto seja possível. E é ele que vai sempre te acolher em seus braços quando você precisar sorrir.
O mais interessante no
amor, é que ele continua colorido para os cegos. Continua soando agradavelmente aos ouvidos até de quem não pode escutar.
A gente sente o cheiro bom do amor mesmo numa crise de rinite daquelas em que não se sente o cheiro nem do perfume mais forte.
Podemos sentir suas mãos macias apertando com força nosso coração, por mais duro que ele seja.
Eu admiro o amor desde antes de vir ao mundo.
Desde quando fui carregada dentro do corpo de alguém, por nove meses inteiros, com amor.
Desde quando contaram as horas pra me ver chegar.
Desde do primeiro dia em que aprendi o que era um beijo, um abraço, um olhar.
O amor é tão perfeito, que ele nos perdoa por desacreditá-lo por diversas vezes. E é hipocrisia dizer que não o fazemos: mesmo que não seja nossa culpa, desacreditamos.
Quando a gente menos espera, ele levanta a gente no colo, lá no alto, só pra lembrar que ele esteve ali o tempo todo e não te deixou de lado nem um segundo sequer... Depois deixa a gente cair de novo. Aí a gente se machuca. E depois ele vem nos lembrar da sua existência interminável no nosso perto, todos os dias de nossas vidas.
Há quem ache que vive sem amor. Porque não namora. Porque mora sozinho. Porque não tem amigos.
Você não escolhe ter o amor... Ele nasce com você. Se você é rico, se você é pobre, se você é rodeado de pessoas ou se sua única amiga é a solidão. Alguém te fez, de carne e osso, pele, cor... Com todos os defeitos que você tem, e todas as suas incontáveis qualidades. Você pode não enxergar muito bem, não ter olhos azuis, e ter mais celulites do que gostaria. Mas você sempre será amado pelo amor... Não importa quão defeituoso sejas, interna ou externamente.
De fato, o amor é
alguém. Sem forma, sem cor, sem textura, sem som. Todas as características do amor, quem inventa é você. Se você quiser que ele seja claro e frágil, ele será. Se você quiser que ele seja cheiroso e soe como música clássica, assim será.
Incondicionalmente você será amado por ele. Do seu primeiro ao último dia de vida. Você foi um espermatozóide escolhido em milhares para vir ao mundo e ter a chance de admirar uma bela paisagem, comer uma boa comida e conhecer pessoas especiais. Ainda acha mesmo que te falta amor na vida?
Você pode até escolher ser cego pra não ver, surdo pra não escutar. Mas ele vai estar ali do seu lado. Vai dormir com você, vai te fazer sentir dor. Vai fazer seu coração quase saltar pela boca quando você se apaixonar. E depois quase se desmanchar inteiro quando você não mais estiver apaixonado. E, sendo bom ou ruim, ele estará com você.
Se eu tivesse que escolher algo pra lhe dizer, seria sobre o amor. Nada de muito complexo. É tão simples que chega a ser engraçado. Mas tão importante que se faz assustador: Ame-se. Hoje, agora, amanhã, sempre.
E o amor vai caminhar de mãos dadas com você. Lado a lado. Pessoalmente. Ao vivo e a cores. Até o final dessa longa e eterna estrada que estamos acostumados a chamar de
vida...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sensibilizando

A cada dia. A cada hora. A cada amanhecer e a cada pôr-do-sol. Sensibilidade, ao contrário do que muitos (lê-se a maioria) pensam, está muito longe de ser sinônimo de fraqueza. Ser sensível significa estar vivo. Nossa alma é um depósito de emoções diárias que se transborda de sentimentos através das lágrimas, a melhor forma, junto com o silêncio, de se expressar taxativamente. As lágrimas purificam nosso ser. Sejam elas de felicidade, de satisfação. Ou de tristeza. Ou de raiva. É como se nosso coração fosse um jardim, e as lágrimas fossem a chuva que o mantém vivo, florescendo, iluminado. As lágrimas de alegria colorem as flores; as de tristeza, levam embora as folhas secas caídas pelo chão. Me orgulho do meu coração derretido. Faço questão de regá-lo periodicamente, sem vergonha de me sensibilizar até com uma criança que passa e me dá um sorriso de presente. Há quem banalize o sentido da sensibilidade por ter medo de enfraquecer. Enfrentar a vida com lágrimas nos olhos é de se orgulhar. Porque, debaixo de qualquer temporal de tristeza, você não vai fechar seu coração. Ainda que uma onda de coisas ruins passem na sua vida, seu jardim vai continuar sendo cuidado por você. Quem não sensibiliza, endurece o coração. Cristaliza nele uma série de sentimentos negativos, uma monte de folhas secas que se acumulam e fazem o jardim do coração secar. E, ironicamente, quanto mais rígido é o coração, mais fácil ele é de se quebrar. Experimente partir no meio uma folha saudável e uma folha seca, e observe qual das duas é mais sensível à agressão. Pois bem, ter medo da sensibilidade é uma estupidez sem fim. Se você se arrepia com uma música, se você chora vendo o mesmo filme pela quinta vez, se você se desequilibra da cabeça aos pés quando briga com seu pai, se você sente frio na barriga quando relê uma carta bonita, se você fica vidrado no olhar de um cachorro na rua... Você está vivo, de fato. Sua sensibilidade vive girando em torno de todos os seus ossos, e você vive essa vida com intensidade. Continue permitindo que sua alma transborde a cada dia... Seja sensível a ponto de perceber quando você precisa ficar sozinho, quando um amigo precisa de você. Sensibilize-se até sentir falta do que ainda nem perdeu, percebendo quanta saudade essas coisas vão lhe deixar um dia. Chore, sorria, grite, chore de novo, flexibilize-se, sensibilize-se. Se deixe transbordar. Seja forte sempre, e se preferir, seja sensível sem usar as lágrimas. Mas pode ter certeza que elas estarão ali para te ajudar quando você precisar. Nunca se esqueça que um órgão vital dentro de você necessita de cuidados pra te manter vivo, muito além dos termos médicos. Cuide dele com todo carinho do mundo, você só tem um.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Metas para 2012

É realmente curioso vermos uma perspectiva de melhora tão distante do presente. Por que, de verdade, precisa existir um motivo especial, como a passagem do ano, para que nosso espírito se anime a mudar? "Projeto Carnaval 2010", "Lista de Metas para o Ano que Vem"... Coisas desse naipe são típicas de depois do meio do ano. A verdade é que essa espera pela melhora devia ser menor. Melhor que do que menor, deveria ser inexistente. Não existe porquê esperar pra ser melhor, pra ser maior, pra ser mais forte. Esse desejo devia ser urgente. Já passou da hora de abrirmos os olhos pra enxergar quantas coisas ruins existem, e como a nossa parte no todo pode auxiliar uma evolução generalizada. A busca pela melhora, a revolução das expectativas ascendentes deve ser DIÁRIA. É bastante nítida e verdadeira a dificuldade desse pedido.. Os problemas são crescentes, e a solução dos mesmos parecem cada vez mais distantes, nos desanimando a acordar com vontade de melhorar, a cada dia. O discurso de desânimo é quase sempre igual. "De que adianta eu emagrecer, engordar, estudar, melhorar, piorar, melhorar de novo, cair, levantar (...) se ninguém vai notar?". Agora, a pergunta que não quer calar: Por que alguém tem que notar? Basta que você acredite na sua melhora, na sua perseverança, no seu querer. E quando você se notar, você perceber que mudou, você perceber que vem acordando disposto a ser cada dia melhor, o mundo vai te olhar com outros olhos. Pode ter certeza absoluta disso. Deixar pro ano que vem, pro carnaval, pro Natal ou seja lá pra quando for, é uma estupidez completa. Abra os olhos, todas as manhãs, querendo ser mais belo, mais forte, mais culto e mais feliz. A cada dia, a cada noite. Isso dá movimento à aquiescência que muitas vezes a vida traz... Pra que esperar trezentos e sessenta e cinco dias pra virar seu mundo de cabeça pra baixo? Não precisamos ser iguais todos os dias. Não precisamos nascer preconceituosos e morrer assim. Nem precisamos nascer conformados e morrer assim. Amanhã ou depois, com um pingo de esperança, você pode perceber que a cor da pele pouco importa e que a falta de questionamento à vida torna nossas mentes cada vez mais atrofiadas. Isso não é obrigatório, é claro. Podemos viver oitenta anos da mesma vida como imbecis, vestindo sempre os mesmos estilos de roupa, acomodados com o nosso ser cristalizado. Mas, se quiser um conselho de alguém que tem pensamentos retardados que não têm absolutamente NADA a ver com a verdade... Mude. Renove-se, inove-se, questione e não deixe nunca de lembrar de não se acomodar com a sua falta de conhecimento sobre algum assunto, com aquela gordurinha que te incomoda ou com aquela pequena discussão que você teve ontem com seu chefe. A acomodação é o primeiro sinal de que você está deixando a vida te levar, sem ter domínio sobre ela... E se eu tivesse que fazer um pedido a você, seria exatamente que você se agarrasse à vida como quem agarra um amigo verdadeiro que não se vê há anos. Porque a vida, é isso. Sua eterna e melhor amiga. Você só tem a ela... O seu carro não é seu, nem a sua cama, nem as suas roupas, nem as suas opiniões petrificadas e imutáveis. Você só tem a vida. Por isso, faça valer a pena cada dia dela, pra que no último dia em que fechar os olhos, a sua retrospectiva seja das melhores possíveis. Comece por mudar agora.

sábado, 10 de setembro de 2011

A Era Negativista

Há de existir, brevemente, graças ao ininterrupto crescimento da nossa tecnologia, um medidor da nossa capacidade incrível de problematizar as situações. Até que ponto vai o nosso dom inato de tornar as coisas tão mais difíceis? Não há uma explicação direta porque, dependendo de nós, essa capacidade pode ser finita ou não. Qualquer imbecil consegue, de forma invejável, reclamar a esmo de qualquer coisa. Mas nem todos nós temos o potencial de resolver o que nos incomoda. E o nome desse mal, que pra mim é um dos piores da humanidade, é falta de atitude. Porque a gente reclama do frio, mas não veste um casaco. A gente reclama do calor, mas não liga o ar condicionado. A gente reclama do governo, mas vota no Macaco Tião. A gente reclama da violência, mas ensina aos nossos filhos a revidar se for agredido. A gente reclama da falta de educação no trânsito, mas avança um sinal a cada esquina. Então, é mole delegar e/ou afastar a nossa parcela de culpa nos defeitos do mundo, sentar na poltrona da sala e gastar 24h de um domingo reclamando da vida. Sem esquecer de mencionar que, daqui a meia hora quando sairmos para almoçar, a gente vai fechar os olhos pra não enxergar as cinco crianças subnutridas vendendo bala no sinal debaixo de um sol de 40°. Mas não é problema nosso, afinal. A nossa única participação nesse mundo é a de falar a toda hora "Aonde é que esse mundo vai parar?". É uma frase legal de se falar. Dentro dentro dela há muitas outras coisas intrínsecas que nos confortam, né? Como aquela história de que as pessoas até poderem querer te ver bem, mas nunca melhor do que elas. A gente reclama todo dia do vazamento na parede que vem da casa do vizinho, mas não quer nem saber se ele tem dinheiro pra consertar ou se realmente não faz porque não quer. Deixa do jeito que tá, afinal, você já tá fazendo sua parte em reclamar, e a vantagem é sua: você é um vizinho menos desprezível do que ele. Na verdade, a solução pra esse problema não é individual. No Direito Civil, chamamos de responsabilidade solidária. Adaptando para questões mundanas, podemos fazer a analogia. Essa culpa é coletiva. Sem falseado discurso ecológico, até porque eu detesto grilos e esperanças, jogando seu chiclete pela janela do carro você contribui pra caramba com a poluição das ruas. Buzinando por três minutos consecutivos, em vão pois o carro da frente não tem espaço pra andar, você contribui pra deixar o motorista da frente mais irritado e bater num poste a um quilômetro dali. Parece banal e ostensivo, mas não é. Essa sucessão de coisas desencadeia em problemas intermináveis, e num cenário onde ninguém é culpado e todo mundo faz a sua parte. O culpado é sempre o vizinho, sempre o próximo, sempre o cara do carro do lado, sempre. Sempre mesmo. Até porque, você sai muito tarde do trabalho.. Vai chegar em casa e comer comida fria, e acordar cedo pra trabalhar no dia seguinte. Só que o que você não sabe, é se o teu vizinho ou o cara que te xingou no trânsito vai ter uma casa pra dormir as suas míseras 4 horas por noite, ou alguma comida pra aquietar o estômago pelo menos até usar o tíquete alimentação no trabalho dia seguinte. Então, quer um conselho? Guarde sua negatividade pra você. De verdade, o mundo não precisa de mais. Vista um casaco, ligue o ar condicionado, pense antes de votar. Não reclame da miséria e da fome. Suba nos morros e doe parte do seu salário às crianças famintas. Pegue as roupas do seu armário e divida com elas. Leve cestas básicas a instituições de caridades que se propõem a fazer isso. Não quer fazer? Tudo bem, mas não diga que fez a sua parte. Tudo que você manda pro universo, o universo manda de volta para você. Em dobro, em triplo, dez vezes mais. Não sou eu que tenho que te ensinar como viver a sua vida, mas a minha parte é aqui, não te dizendo pra se acomodar com os problemas, mas sim abrir os olhos pra enxergá-los e levantar da poltrona da sala pra enfrentá-los de frente. Sem deixar o otimismo atrapalhar sua capacidade de deixar as coisas cada vez melhores. A sua parte nessa evolução, é simplesmente fundamental. Lembre-se disso, a cada discurso hipócrita que for fazer sobre a violência nas ruas depois de assistir ao Jornal Nacional. Pense duas vezes, deixe de lado a mediocridade, e lembre-se de quantas coisas boas nós temos a enaltecer, pra nos confortar com suavidade frente a todos esses problemas que, de fato, existem. Mas eles estão aí pra nós, como qualquer outra coisa. Eles estão aí pra serem encarados. E é isso que nos faz crescer, a cada dia. Acreditar que eles vão melhorar ou piorar não é suficiente. Após algumas tentativas, você tem toda propriedade do mundo pra reclamar o quanto quiser. Mas antes disso.. Nenhuma. Você perdeu a razão. Olhar pra si antes de falar do outro é um bom começo. E se contentar com estar bem, também. Sem se importar se o outro está melhor, pior ou igual. Apenas observe você, e a partir desse momento introspectivo, conseguirá dividir as coisas boas que você tem com todo o mundo a sua volta. Antes de reclamar do texto, tente colocar em prática esse conselho de amiga. Eu tentei, eu consegui. E funciona, mesmo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Vivo

Difícil não é amar e ser amado. Difícil é amar com a mesma intensidade e reciprocidade aquele que te ama. Difícil não é viver no sofrimento. Difícil é convencer a ti mesmo a se conformar com as coisas ruins que acontecem e sempre irão acontecer, a fim de isolar de uma vez por todas o que te faz sofrer. Difícil não é estudar o dia todo. Difícil é ter sede de aprender e ser incapaz até disso, por alguma deficiência física, mental ou mesmo financeira. Difícil não é ser casado com uma mulher feia. Difícil é encontrar uma mulher que, sendo bonita, feia, magra ou gorda, vá te fazer se sentir satisfeito sem precisar olhar pra mulher do vizinho. Difícil não é ter cinco filhos chorando em seu ouvido. Difícil mesmo, é ter o sonho de ter apenas um e não poder... Difícil não é acordar às quatro e meia da manhã pra trabalhar. Difícil é se sentir impotente por não ter condições nem de sair pra tentar colocar comida dentro de casa. Difícil não é julgar os outros. Definitivamente, não. Difícil, de verdade, é estar ali, na vida de cada um, passando pelos mesmos amores e desamores que lhes pertencem. Difícil não é amar as pessoas. Difícil é aceitá-las com seus prós e contras, entendendo que negativos e positivos fragmentos também fazem parte de nós. Difícil não é achar a melhor profissão. Difícil é entender que a perfeição não existe, e que em todo caminho há obstáculos, sejam estes grandes ou pequenos. Difícil não é ter saudade. Difícil é não ter tido oportunidade de aproveitar até a última gota da pessoa que se sente falta. Difícil não é sorrir. Difícil é perceber que o sorriso espanta quaisquer males que possam vir a embaçar teu caminho. Difícil não é chorar. Difícil é ter tantas mágoas, mas tantas, que estas acabam virando teu próprio consolo, e te impedem de derramar uma sequer lágrima. Difícil não é sentir frio no inverno. Difícil é não parar de sentir frio nunca. Difícil não é abrir os olhos pra enxergar os males do mundo. Difícil é manter os olhos abertos, e não ter a capacidade de enxergar nem as cores, nem as pessoas, nem as flores, nem o sol. Difícil não é ouvir insultos e ter que ficar calado. Difícil é querer ouvir qualquer som que seja e não poder, e querer responder até a algum elogio, e as palavras ficarem eternamente presas em sua garganta, sem que você queira. Difícil não é odiar alguém. Difícil é conseguir odiar uma pessoa depois que você a conhece, e percebe que ela também tem uma história pra contar. Difícil não é morrer. Difícil é olhar para trás e ver que ainda tinha tanta coisa a ser feita. Difícil não é viver... Difícil é querer viver. Sem reclamar, sem chorar, sem odiar, sem insultar. Sem medo de morrer. Apenas viver. Viver vivendo, viver sorrindo, viver amando. Viver querendo viver. Viver pensando, no fim: A vida é mesmo tão difícil que não possa ser vivida com avidez por viver mais a cada segundo? A resposta nem é tão difícil quanto parece...

domingo, 24 de julho de 2011

Multiplicando os Divisores

Confesso que não compreendo de verdade essa admiração subjacente que as pessoas têm pelas figuras dos heróis. Ficcionalmente, pessoas admiráveis e admiradas, que salvam o mundo em dois minutos com os super poderes que lhes foram concedidos. Nesse labirinto intransponível de expectativas ascendentes, sonhamos tanto com esses ditos poderes, que acabamos por não reparar o quão heroi cada um de nós, é. Evidentemente, generalizar neste caso, é sinônimo de irrealidade. Existem vilões por aí que, literalmente, não estão no gibi. Nem a ficção poderia imaginar mentes tão ávidas por maldade, que não se contentam apenas em dominar o mundo, mas têm por objetivo destruí-lo a cada dia. Em contrapartida, há o lado dos mocinhos. Somos verdadeiramente heroicos. Conseguimos partilhar nossos mil quatrocentos e quarenta minutos diários para realizar atividades inadiáveis, no sufoco corrido das horas que não dão trégua nem por um milésimo de segundo. O relógio não pára, nem para folga do almoço. É... A maioria de nós acaba por viver nessa intensa correria de trabalho, estudo, comida, filhos, pais, vida, morte. E ainda almejamos com afinco a idéia de nos serem concedidos super poderes - é absurdo. Nos multiplicamos infinitamente para reduzir o tempo das resoluções, por dia. As mães, de uma, transformam-se em cinco. É roupa pra lavar, feijão pra escolher, arroz pra cozinhar, bife pra limpar, mochila pra arrumar, banho pra dar, filho pra vestir, escola pra levar. Os pais, lá de longe, têm três reuniões antes do almoço, quinze minutos pra almoçar, cinco segundos pra escovar os dentes, e o resto pra resolver quarenta mil coisas que têm de ser entregues ao final do dia. E qual é a surpresa? Eles fazem isso vendados. Não é de se admirar? Os filhos estão (quase) sempre alimentados, de barriga cheia. Chegam no dia seguinte com o trabalho de casa prontinho, a roupa impecavelmente limpa e engomada, com o cabelo e as unhas cortados e bem tratados. Inacreditavelmente, isso é feito sem a ajuda de nenhuma varinha de condão. Realmente, eles são herois. Nós, os estudantes. Numa proporção menor, precisamos também nos multiplicar pra dividir nós com nós mesmos, as tarefas do dia. Provas, trabalhos a entregar, monografia pra terminar, namorado pra fazer as pazes, cartão de crédito pra pagar até as 16:00h, juros do cartão de crédito que não deu pra pagar e não tem dinheiro, conversar com o pai explicando que realmente não deu tempo de ir ao banco ontem... É uma luta diária. Se tivéssemos o poder de voar, de escalar as paredes com teias, de nos esticar metros e mais metros, de ter a força de um leão, e ficar invisíveis de vem em quando, talvez não fizéssemos isso tudo com tanta destreza, como fazemos de fato. Exatamente por termos que aprender a contar apenas com nosso corpo pouco preparado para salvar o mundo, é que nos prendemos no nosso mundo, e somos assustadoramente capazes de fazer de TUDO pra fazer nossa vida não parar de andar. A anatomia do nosso corpo foi desenhada com uma perfeição indefectível, para nos ajudar a entender nossos limites e quando é a hora de parar de salvar nosso pequeno infinito particular. Talvez a nossa maior criptonita seja a idéia de não conseguir resolver por completo as funções que nos foram dadas. É o que nos deixa fraco, desanimados, sem força para seguir em frente e mostrar pra nós mesmos que nós somos capazes, sim. Pode ser que esse calvário de enfrentar a vida de cabeça erguida sem a ajuda de super poderes não seja tão duro assim. Na verdade, os sorrisos amarelos dos trabalhadores que saem de casa, já na labuta, às 5 da matina e voltam muito após o sol desaparecer, são os maiores incentivos para a conclusão de que nossos super poderes nasceram com a gente. Cada um tem o seu. Seja lutar contra o tempo, voar nas horas pra conseguir ver o seu filho acordado, seja ficar invisível para os desânimos, ou escalar as maiores montanhas de dificuldade com as próprias mãos. E nós os manifestamos, a cada dia, dentro de nós mesmos... Aos poucos, mas devagar e sempre. Acredite.