sexta-feira, 9 de julho de 2010

Era uma vez ...

... o medo. Era ele um sentimento muito triste, e por mais que sempre estivesse acompanhado de outros sentimentos, tal como o desespero e a solidão, continuava a se sentir só. Talvez porque afastasse as pessoas. Ou talvez, porque nem dava tempo de estas se afastarem, elas simplesmente não queriam nunca tê-lo por perto. O medo vivia chorando pelos cantos, triste por estar sempre sozinho. Sabia que, mesmo que habitasse muitos corações, mais cedo ou mais tarde esses corações se veriam livres dele, pois em antagonismo ao medo existia um sentimento muito mais forte e bonito, que se chamava coragem. Era intenso, e quando invadia a alma de alguém, geralmente trazia consigo o orgulho e a felicidade, cujos sentimentos devastavam o medo sem precisar de muito tempo, e eram agradáveis a qualquer tipo de ser humano. Todos gostam de ter perto de si um sorriso que ilumine seus caminhos, e principalmente um grande percentual de orgulho que lhe dá forças para seguir em frente, portanto, o medo vivia com medo de um dia ter que abrir espaço para o tal sentimento da coragem. Mas, como sempre, havia exceções que alimentavam o medo, e não deixavam que ele fosse embora. Nunca. Ele encontrava naquele coração um abrigo, quando invadia-o com tanta força que era difícil arrancá-lo de lá; quando isso acontecia, costumava-se dizer que ele agiu com tanta intensidade que causara um trauma. O trauma é caracterizado por um medo muito forte que sentimos uma vez na vida, e em função de nossa memória psicológica, em nossos pensamentos ele habita por um bom tempo, ou às vezes, pela eternidade. Deixar traumas era o passatempo preferido do medo. Ele sabia que se juntasse suas forças para um dia conseguir fazê-lo, teria a garantia de que um dia poderia voltar a habitar naquele coração ferido, na primeira oportunidade que tivesse. A vida do medo então, resumia-se assim. Vivia triste e calado, e seu único medo era de ficar sozinho. Porém, um dia o medo conheceu uma menina. Ou uma menina conheceu o medo. Pela primeira vez ela conheceu o medo. Mas era uma menina diferente. Era forte como uma pedra, e corajosa como um leão. E tinha uma característica que só ela tinha: seu coração não era como os outros. Não era feito de carne, nem de sangue. Nem de veias e artérias. Seu coração era feito de cristal. Era frágil... Porém com um brilho peculiar, que só ela possuía, e era possível notá-lo através de seus olhos. Seu sorriso e seu olhar emanavam um brilho perfeitamente intenso e claro, que encantava a todos por onde ela passava, e consequentemente deixava marcas nos corações de todos que tinham a bela oportunidade de conhecê-la. Ela carregava consigo uma grande vontade de viver. De curtir, de amar, de sentir, de apaixonar, de ver, de sonhar... De conhecer. Conhecer o mundo, descobrir sobre tudo o que para ela mostrava-se misterioso. Como o medo. No primeiro dia em que ela se deparou com o medo, ela quis saber porque sentira aquilo. Se era tão corajosa e tão forte, por que tivera o sentimento de estar só? De desconhecer? Ou até mesmo de não ter a coragem de tentar conhecer? Porque o medo é isso. É o desconhecimento de algo. Temos medo de quase tudo aquilo que não é conhecido. Quando paramos para analisar a fundo sobre o que nos dá medo, ele se esvai. Ela parou para se perguntar porque o medo a invadia sempre que estava em plena escuridão. E depois de pensar, e pensar, e pensar, descobriu que era porque não conseguimos ver o que nos rodeia já que estamos na escuridão; Se todas as vezes que sentirmos medo sob essas circunstâncias, tivermos a coragem de levantar e acender a luz, descobriremos que o medo já não é parte de nós. Descoberto isso, ela resolveu tentar de novo sentir medo. E começou a fazer coisas que pudessem fazer com que ela voltasse a sentí-lo. Um dia resolveu fugir. Pois admitia e reconhecia que o único medo que jamais a deixava, era o medo de perder aqueles que ela amava. O medo de viver só. O medo de sentir medo. Fugiu do lugar que morava com as pessoas que ela considerava as melhores que já vira, para tentar ajudar o sentimento que sentira uma vez para nunca mais. Fugiu numa tarde de sol, e foi parar num lugar que nunca havia visto antes. Caiu a escuridão, e ela se lembrara de que havia superado este medo pois acendera a luz da última vez que isso havia acontecido. E foi escurecendo, escurecendo, escurecendo; E dessa vez, não havia luz. Não havia abajur, não havia vela, não havia nada. Apenas ela. Ela e a sua maior fonte de luz: o seu coração. Lembrara que este era constituído de um material único, que apenas pertencia à ela. A menina não admitia sentir medo da escuridão. Sabia que já o havia superado, e apenas queria voltar à sentí-lo para conversar com ele, e saber porque este sentia tanta necessidade de invadir os corações alheios. E então ela caminhou... E andou, andou, e não chegava nunca a lugar nenhum. Só encontrava-se num breu que nunca havia ido antes. Depois de muito tempo caminhando, ela se sentiu muito sozinha, e sentiu um frio repentino arrepiando todos os pelos de seu corpo. E sentiu alguém lhe dando a mão. Olhou para o lado, e não viu ninguém. Porém, sua mão permanecia grudada à outra. Perguntou quem era, e em resposta ouviu uma voz fria apresentar-se como solidão. Em seguida a voz perguntou o que uma menina dotada de um brilho tão intenso fazia sozinha no meio de tanta escuridão, e educadamente a menina respondeu que procurava pelo medo. A solidão, assustada, admirou-se pois pela primeira vez vira alguém correr atrás de seu velho amigo, o qual geralmente fazia as pessoasse afastarem. A menina explicou para a solidão que não queria mais sentir medo, nunca mais. Mas tinha ciência de que, para isso, ela precisava conhecê-lo melhor, para constatar que este não era tão ruim assim, e em consequência disso, não se deixar mais invadir por ele. Apavorada, a solidão soltou a mão da menina e se foi. Triste, a menina continuou a andar, andar, andar... E se sentiu ainda mais triste pois nem a solidão a queria por perto. Ela começou a sentir medo. Medo de não conseguir voltar, medo de ficar ali sozinha. Medo dela, medo de tudo. E então, ela encontrou o tal do medo. De tanto medo, a menina não se segurou e derramou lágrimas, e agora na companhia do desespero, gritou para o medo: " -Por que fazes isto comigo? Eu fiz alguma coisa para merecer um dia sua companhia?". E o medo, tristonho, respondeu:"- Viestes atrás de mim. Por que? Por que teve que mudar minha rotina assim? Nunca ninguém me quis por perto. Sempre afugentei a todos de minha presença. Tenho medo do que você possa querer comigo. Por isso, tenho que ficar aqui. Sentindo medo, você não terá mais coragem de procurar por mim. E essa escuridão repentina vai permanecer eterna na sua vida". A menina começara a procurar no chão algo que pudesse ajudá-la a concluir a ideia que invadira sua mente. Quando finalmente achou, aos prantos, gritou para o medo: "- Meu coração é tão nobre que não merece ter perto de si alguém como você, medo. Você é digno de sentimentos realmente tão pobres quanto você, tal como o desespero, a solidão, e principalmente a pena. Que isso lhe sirva de lição para que você não volte a habitar na minha vida, e muito menos penetre no meu coração". Sem hesitar, a menina enfiara o objeto em seu peito, e arrancara fora o seu coração. O medo escondera-se ao ver brilho tão forte e verdadeiro, tão digno de admiração. A menina sobrevivia de pé, segurando no alto o que sempre dera-lhe luz, em todos os momentos de sua vida. O cristal tinha uma luz que não se apagava por nada, até que a coragem chegou perto, tomou da menina o que tinha nas mãos e colocou de volta no mesmo lugar. Disse:"- Vieram comigo o orgulho, a emoção e a felicidade. Agradecemos todos por ajudar-nos a levar deste lugar tão triste o medo". A menina caiu no chão, fraca, sangrando, com seu coração mais frágil do que sempre fora, mas ao mesmo tempo, de alma lavada. Sentiu que cumprira sua missão aqui. Permanecera deitada, acalentada pela coragem, pelo calor de seu cristal, e pela verdade de suas lágrimas. O orgulho veio parabenizá-la, e trouxe em suas mãos um par de asas, que agora pertenciam à menina. Quando a felicidade chegara de mãos dadas com o amor, este disse à ela: "- Não precisas mais permanecer aqui. O brilho proveniente de seu sorriso iluminou à todos deste lugar e me trouxe de volta. O medo não voltará a chegar perto de nós. Você já pode ir para o lugar de onde veio, de onde mandaram-na para cá, com o objetivo de ajudar-nos. Sua missão está cumprida, pode descansar em paz". Ao final de sua fala, as asas juntaram-se à mennina de modo que fizessem parte de seu corpo, e, com um sorriso estampado no rosto, cuja expressão agora era molhada de lágrimas, porém de alegria, subiu aos céus emanando aquele brilho que só ela tinha. O brilho de seu coração, que era revestido de cristal... Mas por dentro, o que é mais importante, era repleto, recheado, feito e detalhadamente constituído de amor.

4 comentários:

  1. vc foi de SHEAKESPERE em ''Temos medo de quase tudo aquilo que não é conhecido''

    até CREPÚSCULO em ''Nem de veias e artérias. Seu coração era feito de cristal''

    que constraste rs

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  2. HAHAHAHAHAAHAHA eu devia estar realmente sob efeito de alguma coisa quando escrevi esse texto, analisando bem, não faz sentido algum O_O HAHA

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  3. porra, LINDO .
    inspirador, encorajador, encantador;
    a menina parce com você, coraçãozinho brilhante =D
    fiquei orgulhosa da sua criatividade, mandou !

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  4. LINDO !

    lembrei dessa frase: "você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama. como se renovar, sem primeiro se tornar cinzas?"
    (nietzsche)


    mt bom mesmo amiga, emocionante !

    te amoooooooo

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