segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Outra vez, novamente ..

Mais uma vez, aprendizado cotidiano. Outro dia normal, apesar da prova de hoje que foi um diferencial a mais, e que me fez acordar outra vez com aquela cara de poucos amigos (ainda bem, só a cara, diga-se de passagem). E fui à faculdade, fiz a prova, saí segura, recebi ligações de boa sorte que foram super bem-vindas e em função disto e também do meu estudo, saí satisfeita com o possível resultado. Já nervosa com a prova de hoje à noite, e mais, com a prova de quinta-feira, andei para o ponto de ônibus rumo à minha casa ... Lembrei no caminho de pagar uma conta, passei na loteria, comprei duas raspadinhas, não ganhei nem cinquenta centavos (pra variar), e aí sim, fui pegar o ônibus. Engraçadas, histórias de ônibus. É que vejo tanta coisa nova, tanta gente diferente.. Me sinto às vezes uma jeca no meio da cidade, como se eu nunca tivesse visto um monte de gente na minha vida. Enfim .. é que essas diferenças me encantam, a forma como as pessoas vêem as coisas, e as fazem, de forma que se divergem cada vez mais; E hoje, mais uma vez vendo pessoas de cara feia, que acabaram de acordar, que talvez estivessem indo trabalhar, ou não, apenas passeando, ou indo fazer outras coisas... E vendo outras que te sorriem um 'bom dia' meio oculto, outras solícitas que perguntam se quer que segure sua bolsa, pasta e adjacências (incluo-me nessas), outras que te olham com nojo daquela gente, que olham pra tudo como se estivessem a 89 graus de superioridade. Reparando tudo isso, as pessoas solícitas te confortam em detrimento das outras que, se pudessem, nem andariam no mesmo patamar que simples pessoas mortais. Parando em um ponto de ônibus, hoje tendo a oportunidade de manter os pés no chão porque esqueci meu iPOD, que me faz esquecer da vida quando o trago comigo, reparei na sapatilha de oncinha de uma bela moça que entrou, depois no all star de uma menina que eu tô louca pra comprar mas não acho, e depois numa senhora, outra vez, muito, mas muito fofa. Essa era diferente da outra, não era aquela cara de vovó pedindo proteção, apesar da muita idade. Era uma mulher decidida, com as marcas de expressão bem fortes, bem arrumada, e portanto, passava uma imagem de durona, de séria, de rigidez. Como estava eu apenas com uma pasta e minha habitual bolsa levinha, fiz mais do que segurar as duas bolsas pesadas que ela carregava, mais uma vez levantei-me e ofereci o lugar. Esperando apenas um aceno com a cabeça significando aquele 'obrigada' tímido que geralmente fazemos, principalmente no ônibus, fiquei surpresa quando ela, muito gentil, sorriu-me uma linda sinceridade e agradeceu com reciprocidade o meu gesto de gentileza, afetuosa e simplesmente linda, outra vez. Na mesma hora, pegou minha pasta sem mesmo pedir e a segurou, antes que eu pudesse dizer não. Pediu pra segurar minha bolsa, e eu respondi que era leve, não havia necessidade, e em seguida, agradeci. Muito gentil, mais uma vez, ela me respondeu: "Obrigada você, pois a minha está realmente pesada". E depois disso, me vi participando da conversa baixinha em que estavam envolvidos ela e o homem ao seu lado, que antes estava ao meu lado, e confesso que nem reparei. Pude entender pela conversa que ela trabalha há doze anos no Hospital do Câncer. E não entendia ainda o porquê das bolsas pesadas. No desenrolar da conversa, entendi depois que ela apenas trabalha artesanalmente; Fazia sabonetinhos bonitinhos com toalhinhas, pois lá eles dão presentinhos para as pessoas em estado terminal. Ela sai da Freguesia para Vila Isabel de segunda a segunda, há doze anos, levando cinquenta sabonetinhos e toalhinhas em CADA bolsa. E passava-nos isso com tanta alegria, mas tanta.. Com uma satisfação inexplicável, irrefutável, indescritível. Sabe, orgulho próprio? E com razão. Carregava consigo um aperto no coração, de saber que aqueles presentinhos, seriam os últimos das vidas daquelas pessoas. Mas, ao mesmo tempo, um conforto incrível, que provinha da certeza de que ajudara todas elas de alguma forma, com sua pequena contribuição, linda, linda e linda. Na hora não caiu nenhuma lágrima, e fiquei outra vez surpresa com isso. Na verdade fiquei mais feliz do que triste, mais satisfeita do que balançada. Mais orgulhosa, dela, e principalmente, de saber que ainda existem pessoas assim.

2 comentários:

  1. Realmente fiz um bom trabalho! A sua sensibilidade pelos mínimos detalhes me faz sentir que tem um dedinho, aliás, pelo menos 10 dedinhos meus (os outros dez para o seu pai, senão ele fica triste...rsrs)... fico feliz, não pela capacidade de escrever um texto tão lindo, mas pela sensibilidade, romantismo e realismo que vc usaem seus textoimentos (textos/depoimentos)... neste momento eu discordo do Fernando Pessoa quando diz: O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente.
    Você é uma poetiza, porém não finge uma dor, vc sente a dor... Obrigada filha, você é realmente a filha que eu gostaria de ter tido. Mães, babem de inveja!
    Te amo!

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