quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Historifícios

Poucas vezes retrato, escrevendo, assuntos que dizem respeito especificamente a mim; Essa é uma das poucas, talvez uma das únicas. Na verdade, não é tão 'sobre mim' assim... É sobre uma das coisas que mais efetivamente fazem parte de mim. A História. História do mundo, história da vida, história de tudo. Até mesmo histórias alheias me interessam, contos de fadas, fábulas, crônicas ... Fictícias ou baseadas em fatos reais, me encantam, todas. Mas em principal, as verdadeiras. A do Brasil chega a me entontecer, ao estudá-la. Cada detalhe me prende incrivelmente e me puxa pro passado, de forma como se eu tivesse vivido cada dia, de 1500, até os dias atuais. Amo a transição das épocas; as mudanças políticas, econômicas; as modas, os estilos musicais - tudo. Simplesmente tudo me faz ter vontade de arrumar uma máquina do tempo pra curtir cada época passada. Escutar músicas dos anos 80 me faz chorar, e assistir filmes no Tele Cine Cult me emocionam só de ver aqueles pontinhos na tela em função da antiguidade do filme. É tão bom ver como as coisas evoluem... Como as pessoas se viravam antigamente, como eram tão felizes apenas com as poucas coisas que tinham. Dá vontade de nascer e renascer e lembrar de tudo que fiz em outras vidas, pra conseguir curtir os diferentes momentos da história. Porém, pessoas como eu, bastante ligadas à história de uma forma geral, tendem a ser um pouco nostálgicas. Estudar história, ler sobre ela, principalmente a contemporânea, acaba me lembrando momentos da minha vida, que foram relativamente poucos, comparados à por exemplo, os da minha avó, em 68 anos. Afinal, só vivi 18. Mas meu coração é tão saudoso que tenho a oportunidade de sentir falta de tudo que já vivi; Era tudo tão gostoso, que dá um aperto no peito só de lembrar. Quando eu era um pinguinho de gente tão frágil, e chorava horas quando minha mãe me deixava no colégio e ia embora; Quando eu passava muitas tardes vendo Castelo Rá-Tim-Bum, ou até mesmo muitas manhãs vendo TV Colosso. Minha maior ambição, à época, era aprender a ler, pra entender aquelas palavrinhas que vinham debaixo das figuras que eu adorava olhar... Saudade de quando eu cabia no colo da minha mãe, de forma que podia deitar em seu peito e dormir ali. Saudade de quando eu podia sair correndo de uma distância razoável e pular no colo do papai quando ele chegava lá pra me buscar. Eles ainda estão aqui, e eu tento caber em ambos os colos, é claro. Mas nunca é da mesma forma. Naturalmente, nosso cordão umbilical vai se extinguindo com o tempo. Começamos a perceber que nossa história vai sendo escrita com a nossa própria caligrafia, não mais com a mão macia de nossa mãe segurando para dar firmeza na escrita. Precisamos tomar certas decisões e atitudes, e pra isso, desvincularmo-nos pelo menos um pouco do que nos prende a eles, no tocante à responsabilidade sempre neles depositada. Nossa história de vida acaba se fundindo à outras histórias que temos oportunidade de conhecer, de ler sobre, e acabamos associando uma à outra. Pode ser que seja só comigo, mais uma vez me depreciando, mas, meio retardado da minha parte pensar nessas coisas. Só que escutando Beatles essa semana voltando da faculdade, me veio à cabeça imagens dessa época que nem eu sei de onde tirei, mas me fez pensar muito no assunto. Assim como me fez pensar que eu queria voltar atrás pra me aproximar de novo dos meus pais de maneira totalmente dependente. Essa dependência, de amor, carinho, afeto, é saudável. Plenamente saudável. Fico pensando, quando estudo as datas, sempre meu primeiro raciocínio é lembrar se determinado acontecimento ocorreu depois do nascimentos dos meus pais; e fico imaginando os dois em meio àquilo tudo... Depois imaginando quando nasci, e tudo vem à tona de novo. Sou suspeita pra falar, mas a História, além de conhecimento, proporciona uma saudade gostosa demais - que faz rir, faz chorar. Faz a gente tentar se aproximar, coisa que talvez não façamos há um bom tempo. É bom às vezes fazer uma forcinha pra caber no colo da mamãe como fazia a 15 anos atrás. É meio triste, a nostalgia. Mas é necessária. Sua história tem que ser escrita com as próprias mãos, como eu já havia dito. Por mais que não sintas mais aquela mão macia te apoiando, nunca vais deixar de lembrar dela. Não se permita deixar de lembrar. As primeiras páginas da sua história são as ferramentas mais importantes pra que você possa escrever o epílogo com a maior destreza possível. Assim como precisamos dos capítulos iniciais para entender uma história qualquer, precisamos da nossa base pra construir a nossa história. Cada foto do passado, cada artifício que te faça lembrar da sua história, é fundamental para que nas últimas páginas, você possa voltar à introdução e se lembrar de como foi bom escrever cada página desse livro. Esse livro particular, de história. Essa história de cada um. Essa história, essa saudade, esses momentos, essa nostalgia, essa destreza, essa saudade, esse afeto, essas fotos, essas cartas, essas músicas, essas lembranças. Essa história, que dá vida à nossa história. Essa história que é a vida.

4 comentários:

  1. Engraçado como eu também fiquei com os olhos mareados de lágrimas, ao ver uma foto sua pequenininha e ter a certeza desse tempo que não volta. Uma saudade gigante me bateu! Sei que ganhei uma linda filha "adulta" e perdi o meu bebeinho...me bateu uma nostalgia, uma dorzinha lá no fundo do peito... exatamente essa, de não mais poder te segurar no colo, te aconchegar no meu peito e te sentir bem pertinho de mim...lembra quando vc só dormia se eu te desse a mão??? Ou quando vc colocava as mãos nas minhas bochechas e adormecia assim??? Eu consigo sentir ainda suas mãozinhas aqui, desse jeitinho... te amo!

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  2. Só você mesma pra me emocionar tanto em poucas palavras ... é a melhor mãe do mundo !! Te amo mais que tudo =)

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  3. Gostei muito do texto. Sempre concordei com a frase que diz que o melhor modo de entender o presente e prever o futuro é entender o passado. Infelizmente a História está cada vez mais desvalorizada. As pessoas pensam no jargão "o que passou, passou" mas não é assim que as coisas devem ser. Cada acontecimento que estudamos (ou estudávamos) nos Livros de História foram coisas que realmente aconteciam. As pessoas que líamos sobre, eram como nós. O presidente de algum país que tomou certa decisão fora julgado pela população como atualmente o Lula, Barack Obama, etc... são julgados.
    A História é contada pelos vencedores, quem sabe se Hittler não perdesse a guerra, hoje estaríamos analisando a 2 Guerra Mundial de modo diferente. Do mesmo modo me pergunto como seriam as coisas se certos acontecimentos jamais acontecessem. Por exemplo, se jamais tivesse havido o Golpe de 64, será que nossa CF de 88 seria tão preocupada com a Democracia e os Direitos Humanos? Tudo fica para se pensar.
    Em nossas vidas acontece a mesma coisa... Se eu não tivesse escolhido Direito, será que hoje eu teria muitos dos amigos que hoje tenho? Se não tivesse estudado no Santa Marcelina, será que eu conheceria a Marcella que me apresentou a voce? Há quem acredite em Destino e diga que aconteceria do mesmo modo, mas penso de outro modo, que posteriormente explico melhor.
    Sobre essa evolução que vivemos, daqui há alguns anos, quando voce chegar em casa do trabalho, estressada, precisando relaxar, vai lembrar não só do tempo em que voce cabia no colo dos seus pais, mas sim do tempo em que voce cabia na casa deles, não tinha as responsabilidades que terá e podia se dar ao luxo de em um momento para relaxar, escrever um texto tão bom quanto esse. Acredite, isso que falei vai acontecer e voce vai se lembrar de mim.
    Beijos

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  4. amiga , suas palavras são como meus pensamentos traduzidos nesse texto . Mas é claro que concordamos sobre história ... com quem eu estudei essa matéria e viajei na maionese tantas vezes ? A saudade de cada fato , até mesmo dos aromas , da minha infância , me marcam sempre , e o "TA NA MESA PESSOAL" , da TV Colosso , e os Bananas de Pijama também me afundam em um túnel feito só de saudade e nada mais , e o colo da minha mãe, nem me fale , sinto falta de cada parte da minha mãe e do pacote completo de tudo que provinha da vida com ela .
    Ser saudosista , nostálgica , não importa o nome . Atributos que devem ter os amantes de uma boa história . E boa história , é história bem escrita , bem lida e bem contada , não necessariamente nessa ordem .
    PARABÉNS PELO TEXTO .

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