quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Analogia

Como o clima aconchegante do inverno, tem barulho de chuva fraca e de folhas secas voando no chão. Com o corpo frágil de uma taça de cristal, quebra ao menor toque de pouca delicadeza. Exige um cuidado imenso ao ser manuseado, como um bebê recém-nascido abençoado com a inocência. De vez em sempre, precisa de manutenção, como um aparelho eletrônico que tem de ser reparado de tempos em tempos.
Tem cheiro de flor, cheiro de roupa limpa, cheiro de café-da-manhã, cheiro de chocolate... De um cheiro tão estonteante que inebria a rua inteira ao passar. É aquele cheiro que dá vontade de prender num potinho. Aquele que dá vontade de não se deixar esquecer.
Tem cor de arco-íris melhorado, mais detalhado, mais desenhado... Um pouco mais colorido, pra contrastar com o barulho da chuva. Quanto a esse aspecto, não existe nada tão absoluto: quando começa a perder a cor, você pode retocar, não se preocupe. Desde que seja recolorido com a maior calma do mundo.
Tem textura de pele macia, de travesseiro de pena, de colo de mãe, de soneca vespertina, de abraço de melhor amigo com saudade. É tão confortável quanto seja possível. E é ele que vai sempre te acolher em seus braços quando você precisar sorrir.
O mais interessante no
amor, é que ele continua colorido para os cegos. Continua soando agradavelmente aos ouvidos até de quem não pode escutar.
A gente sente o cheiro bom do amor mesmo numa crise de rinite daquelas em que não se sente o cheiro nem do perfume mais forte.
Podemos sentir suas mãos macias apertando com força nosso coração, por mais duro que ele seja.
Eu admiro o amor desde antes de vir ao mundo.
Desde quando fui carregada dentro do corpo de alguém, por nove meses inteiros, com amor.
Desde quando contaram as horas pra me ver chegar.
Desde do primeiro dia em que aprendi o que era um beijo, um abraço, um olhar.
O amor é tão perfeito, que ele nos perdoa por desacreditá-lo por diversas vezes. E é hipocrisia dizer que não o fazemos: mesmo que não seja nossa culpa, desacreditamos.
Quando a gente menos espera, ele levanta a gente no colo, lá no alto, só pra lembrar que ele esteve ali o tempo todo e não te deixou de lado nem um segundo sequer... Depois deixa a gente cair de novo. Aí a gente se machuca. E depois ele vem nos lembrar da sua existência interminável no nosso perto, todos os dias de nossas vidas.
Há quem ache que vive sem amor. Porque não namora. Porque mora sozinho. Porque não tem amigos.
Você não escolhe ter o amor... Ele nasce com você. Se você é rico, se você é pobre, se você é rodeado de pessoas ou se sua única amiga é a solidão. Alguém te fez, de carne e osso, pele, cor... Com todos os defeitos que você tem, e todas as suas incontáveis qualidades. Você pode não enxergar muito bem, não ter olhos azuis, e ter mais celulites do que gostaria. Mas você sempre será amado pelo amor... Não importa quão defeituoso sejas, interna ou externamente.
De fato, o amor é
alguém. Sem forma, sem cor, sem textura, sem som. Todas as características do amor, quem inventa é você. Se você quiser que ele seja claro e frágil, ele será. Se você quiser que ele seja cheiroso e soe como música clássica, assim será.
Incondicionalmente você será amado por ele. Do seu primeiro ao último dia de vida. Você foi um espermatozóide escolhido em milhares para vir ao mundo e ter a chance de admirar uma bela paisagem, comer uma boa comida e conhecer pessoas especiais. Ainda acha mesmo que te falta amor na vida?
Você pode até escolher ser cego pra não ver, surdo pra não escutar. Mas ele vai estar ali do seu lado. Vai dormir com você, vai te fazer sentir dor. Vai fazer seu coração quase saltar pela boca quando você se apaixonar. E depois quase se desmanchar inteiro quando você não mais estiver apaixonado. E, sendo bom ou ruim, ele estará com você.
Se eu tivesse que escolher algo pra lhe dizer, seria sobre o amor. Nada de muito complexo. É tão simples que chega a ser engraçado. Mas tão importante que se faz assustador: Ame-se. Hoje, agora, amanhã, sempre.
E o amor vai caminhar de mãos dadas com você. Lado a lado. Pessoalmente. Ao vivo e a cores. Até o final dessa longa e eterna estrada que estamos acostumados a chamar de
vida...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sensibilizando

A cada dia. A cada hora. A cada amanhecer e a cada pôr-do-sol. Sensibilidade, ao contrário do que muitos (lê-se a maioria) pensam, está muito longe de ser sinônimo de fraqueza. Ser sensível significa estar vivo. Nossa alma é um depósito de emoções diárias que se transborda de sentimentos através das lágrimas, a melhor forma, junto com o silêncio, de se expressar taxativamente. As lágrimas purificam nosso ser. Sejam elas de felicidade, de satisfação. Ou de tristeza. Ou de raiva. É como se nosso coração fosse um jardim, e as lágrimas fossem a chuva que o mantém vivo, florescendo, iluminado. As lágrimas de alegria colorem as flores; as de tristeza, levam embora as folhas secas caídas pelo chão. Me orgulho do meu coração derretido. Faço questão de regá-lo periodicamente, sem vergonha de me sensibilizar até com uma criança que passa e me dá um sorriso de presente. Há quem banalize o sentido da sensibilidade por ter medo de enfraquecer. Enfrentar a vida com lágrimas nos olhos é de se orgulhar. Porque, debaixo de qualquer temporal de tristeza, você não vai fechar seu coração. Ainda que uma onda de coisas ruins passem na sua vida, seu jardim vai continuar sendo cuidado por você. Quem não sensibiliza, endurece o coração. Cristaliza nele uma série de sentimentos negativos, uma monte de folhas secas que se acumulam e fazem o jardim do coração secar. E, ironicamente, quanto mais rígido é o coração, mais fácil ele é de se quebrar. Experimente partir no meio uma folha saudável e uma folha seca, e observe qual das duas é mais sensível à agressão. Pois bem, ter medo da sensibilidade é uma estupidez sem fim. Se você se arrepia com uma música, se você chora vendo o mesmo filme pela quinta vez, se você se desequilibra da cabeça aos pés quando briga com seu pai, se você sente frio na barriga quando relê uma carta bonita, se você fica vidrado no olhar de um cachorro na rua... Você está vivo, de fato. Sua sensibilidade vive girando em torno de todos os seus ossos, e você vive essa vida com intensidade. Continue permitindo que sua alma transborde a cada dia... Seja sensível a ponto de perceber quando você precisa ficar sozinho, quando um amigo precisa de você. Sensibilize-se até sentir falta do que ainda nem perdeu, percebendo quanta saudade essas coisas vão lhe deixar um dia. Chore, sorria, grite, chore de novo, flexibilize-se, sensibilize-se. Se deixe transbordar. Seja forte sempre, e se preferir, seja sensível sem usar as lágrimas. Mas pode ter certeza que elas estarão ali para te ajudar quando você precisar. Nunca se esqueça que um órgão vital dentro de você necessita de cuidados pra te manter vivo, muito além dos termos médicos. Cuide dele com todo carinho do mundo, você só tem um.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Metas para 2012

É realmente curioso vermos uma perspectiva de melhora tão distante do presente. Por que, de verdade, precisa existir um motivo especial, como a passagem do ano, para que nosso espírito se anime a mudar? "Projeto Carnaval 2010", "Lista de Metas para o Ano que Vem"... Coisas desse naipe são típicas de depois do meio do ano. A verdade é que essa espera pela melhora devia ser menor. Melhor que do que menor, deveria ser inexistente. Não existe porquê esperar pra ser melhor, pra ser maior, pra ser mais forte. Esse desejo devia ser urgente. Já passou da hora de abrirmos os olhos pra enxergar quantas coisas ruins existem, e como a nossa parte no todo pode auxiliar uma evolução generalizada. A busca pela melhora, a revolução das expectativas ascendentes deve ser DIÁRIA. É bastante nítida e verdadeira a dificuldade desse pedido.. Os problemas são crescentes, e a solução dos mesmos parecem cada vez mais distantes, nos desanimando a acordar com vontade de melhorar, a cada dia. O discurso de desânimo é quase sempre igual. "De que adianta eu emagrecer, engordar, estudar, melhorar, piorar, melhorar de novo, cair, levantar (...) se ninguém vai notar?". Agora, a pergunta que não quer calar: Por que alguém tem que notar? Basta que você acredite na sua melhora, na sua perseverança, no seu querer. E quando você se notar, você perceber que mudou, você perceber que vem acordando disposto a ser cada dia melhor, o mundo vai te olhar com outros olhos. Pode ter certeza absoluta disso. Deixar pro ano que vem, pro carnaval, pro Natal ou seja lá pra quando for, é uma estupidez completa. Abra os olhos, todas as manhãs, querendo ser mais belo, mais forte, mais culto e mais feliz. A cada dia, a cada noite. Isso dá movimento à aquiescência que muitas vezes a vida traz... Pra que esperar trezentos e sessenta e cinco dias pra virar seu mundo de cabeça pra baixo? Não precisamos ser iguais todos os dias. Não precisamos nascer preconceituosos e morrer assim. Nem precisamos nascer conformados e morrer assim. Amanhã ou depois, com um pingo de esperança, você pode perceber que a cor da pele pouco importa e que a falta de questionamento à vida torna nossas mentes cada vez mais atrofiadas. Isso não é obrigatório, é claro. Podemos viver oitenta anos da mesma vida como imbecis, vestindo sempre os mesmos estilos de roupa, acomodados com o nosso ser cristalizado. Mas, se quiser um conselho de alguém que tem pensamentos retardados que não têm absolutamente NADA a ver com a verdade... Mude. Renove-se, inove-se, questione e não deixe nunca de lembrar de não se acomodar com a sua falta de conhecimento sobre algum assunto, com aquela gordurinha que te incomoda ou com aquela pequena discussão que você teve ontem com seu chefe. A acomodação é o primeiro sinal de que você está deixando a vida te levar, sem ter domínio sobre ela... E se eu tivesse que fazer um pedido a você, seria exatamente que você se agarrasse à vida como quem agarra um amigo verdadeiro que não se vê há anos. Porque a vida, é isso. Sua eterna e melhor amiga. Você só tem a ela... O seu carro não é seu, nem a sua cama, nem as suas roupas, nem as suas opiniões petrificadas e imutáveis. Você só tem a vida. Por isso, faça valer a pena cada dia dela, pra que no último dia em que fechar os olhos, a sua retrospectiva seja das melhores possíveis. Comece por mudar agora.

sábado, 10 de setembro de 2011

A Era Negativista

Há de existir, brevemente, graças ao ininterrupto crescimento da nossa tecnologia, um medidor da nossa capacidade incrível de problematizar as situações. Até que ponto vai o nosso dom inato de tornar as coisas tão mais difíceis? Não há uma explicação direta porque, dependendo de nós, essa capacidade pode ser finita ou não. Qualquer imbecil consegue, de forma invejável, reclamar a esmo de qualquer coisa. Mas nem todos nós temos o potencial de resolver o que nos incomoda. E o nome desse mal, que pra mim é um dos piores da humanidade, é falta de atitude. Porque a gente reclama do frio, mas não veste um casaco. A gente reclama do calor, mas não liga o ar condicionado. A gente reclama do governo, mas vota no Macaco Tião. A gente reclama da violência, mas ensina aos nossos filhos a revidar se for agredido. A gente reclama da falta de educação no trânsito, mas avança um sinal a cada esquina. Então, é mole delegar e/ou afastar a nossa parcela de culpa nos defeitos do mundo, sentar na poltrona da sala e gastar 24h de um domingo reclamando da vida. Sem esquecer de mencionar que, daqui a meia hora quando sairmos para almoçar, a gente vai fechar os olhos pra não enxergar as cinco crianças subnutridas vendendo bala no sinal debaixo de um sol de 40°. Mas não é problema nosso, afinal. A nossa única participação nesse mundo é a de falar a toda hora "Aonde é que esse mundo vai parar?". É uma frase legal de se falar. Dentro dentro dela há muitas outras coisas intrínsecas que nos confortam, né? Como aquela história de que as pessoas até poderem querer te ver bem, mas nunca melhor do que elas. A gente reclama todo dia do vazamento na parede que vem da casa do vizinho, mas não quer nem saber se ele tem dinheiro pra consertar ou se realmente não faz porque não quer. Deixa do jeito que tá, afinal, você já tá fazendo sua parte em reclamar, e a vantagem é sua: você é um vizinho menos desprezível do que ele. Na verdade, a solução pra esse problema não é individual. No Direito Civil, chamamos de responsabilidade solidária. Adaptando para questões mundanas, podemos fazer a analogia. Essa culpa é coletiva. Sem falseado discurso ecológico, até porque eu detesto grilos e esperanças, jogando seu chiclete pela janela do carro você contribui pra caramba com a poluição das ruas. Buzinando por três minutos consecutivos, em vão pois o carro da frente não tem espaço pra andar, você contribui pra deixar o motorista da frente mais irritado e bater num poste a um quilômetro dali. Parece banal e ostensivo, mas não é. Essa sucessão de coisas desencadeia em problemas intermináveis, e num cenário onde ninguém é culpado e todo mundo faz a sua parte. O culpado é sempre o vizinho, sempre o próximo, sempre o cara do carro do lado, sempre. Sempre mesmo. Até porque, você sai muito tarde do trabalho.. Vai chegar em casa e comer comida fria, e acordar cedo pra trabalhar no dia seguinte. Só que o que você não sabe, é se o teu vizinho ou o cara que te xingou no trânsito vai ter uma casa pra dormir as suas míseras 4 horas por noite, ou alguma comida pra aquietar o estômago pelo menos até usar o tíquete alimentação no trabalho dia seguinte. Então, quer um conselho? Guarde sua negatividade pra você. De verdade, o mundo não precisa de mais. Vista um casaco, ligue o ar condicionado, pense antes de votar. Não reclame da miséria e da fome. Suba nos morros e doe parte do seu salário às crianças famintas. Pegue as roupas do seu armário e divida com elas. Leve cestas básicas a instituições de caridades que se propõem a fazer isso. Não quer fazer? Tudo bem, mas não diga que fez a sua parte. Tudo que você manda pro universo, o universo manda de volta para você. Em dobro, em triplo, dez vezes mais. Não sou eu que tenho que te ensinar como viver a sua vida, mas a minha parte é aqui, não te dizendo pra se acomodar com os problemas, mas sim abrir os olhos pra enxergá-los e levantar da poltrona da sala pra enfrentá-los de frente. Sem deixar o otimismo atrapalhar sua capacidade de deixar as coisas cada vez melhores. A sua parte nessa evolução, é simplesmente fundamental. Lembre-se disso, a cada discurso hipócrita que for fazer sobre a violência nas ruas depois de assistir ao Jornal Nacional. Pense duas vezes, deixe de lado a mediocridade, e lembre-se de quantas coisas boas nós temos a enaltecer, pra nos confortar com suavidade frente a todos esses problemas que, de fato, existem. Mas eles estão aí pra nós, como qualquer outra coisa. Eles estão aí pra serem encarados. E é isso que nos faz crescer, a cada dia. Acreditar que eles vão melhorar ou piorar não é suficiente. Após algumas tentativas, você tem toda propriedade do mundo pra reclamar o quanto quiser. Mas antes disso.. Nenhuma. Você perdeu a razão. Olhar pra si antes de falar do outro é um bom começo. E se contentar com estar bem, também. Sem se importar se o outro está melhor, pior ou igual. Apenas observe você, e a partir desse momento introspectivo, conseguirá dividir as coisas boas que você tem com todo o mundo a sua volta. Antes de reclamar do texto, tente colocar em prática esse conselho de amiga. Eu tentei, eu consegui. E funciona, mesmo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Vivo

Difícil não é amar e ser amado. Difícil é amar com a mesma intensidade e reciprocidade aquele que te ama. Difícil não é viver no sofrimento. Difícil é convencer a ti mesmo a se conformar com as coisas ruins que acontecem e sempre irão acontecer, a fim de isolar de uma vez por todas o que te faz sofrer. Difícil não é estudar o dia todo. Difícil é ter sede de aprender e ser incapaz até disso, por alguma deficiência física, mental ou mesmo financeira. Difícil não é ser casado com uma mulher feia. Difícil é encontrar uma mulher que, sendo bonita, feia, magra ou gorda, vá te fazer se sentir satisfeito sem precisar olhar pra mulher do vizinho. Difícil não é ter cinco filhos chorando em seu ouvido. Difícil mesmo, é ter o sonho de ter apenas um e não poder... Difícil não é acordar às quatro e meia da manhã pra trabalhar. Difícil é se sentir impotente por não ter condições nem de sair pra tentar colocar comida dentro de casa. Difícil não é julgar os outros. Definitivamente, não. Difícil, de verdade, é estar ali, na vida de cada um, passando pelos mesmos amores e desamores que lhes pertencem. Difícil não é amar as pessoas. Difícil é aceitá-las com seus prós e contras, entendendo que negativos e positivos fragmentos também fazem parte de nós. Difícil não é achar a melhor profissão. Difícil é entender que a perfeição não existe, e que em todo caminho há obstáculos, sejam estes grandes ou pequenos. Difícil não é ter saudade. Difícil é não ter tido oportunidade de aproveitar até a última gota da pessoa que se sente falta. Difícil não é sorrir. Difícil é perceber que o sorriso espanta quaisquer males que possam vir a embaçar teu caminho. Difícil não é chorar. Difícil é ter tantas mágoas, mas tantas, que estas acabam virando teu próprio consolo, e te impedem de derramar uma sequer lágrima. Difícil não é sentir frio no inverno. Difícil é não parar de sentir frio nunca. Difícil não é abrir os olhos pra enxergar os males do mundo. Difícil é manter os olhos abertos, e não ter a capacidade de enxergar nem as cores, nem as pessoas, nem as flores, nem o sol. Difícil não é ouvir insultos e ter que ficar calado. Difícil é querer ouvir qualquer som que seja e não poder, e querer responder até a algum elogio, e as palavras ficarem eternamente presas em sua garganta, sem que você queira. Difícil não é odiar alguém. Difícil é conseguir odiar uma pessoa depois que você a conhece, e percebe que ela também tem uma história pra contar. Difícil não é morrer. Difícil é olhar para trás e ver que ainda tinha tanta coisa a ser feita. Difícil não é viver... Difícil é querer viver. Sem reclamar, sem chorar, sem odiar, sem insultar. Sem medo de morrer. Apenas viver. Viver vivendo, viver sorrindo, viver amando. Viver querendo viver. Viver pensando, no fim: A vida é mesmo tão difícil que não possa ser vivida com avidez por viver mais a cada segundo? A resposta nem é tão difícil quanto parece...

domingo, 24 de julho de 2011

Multiplicando os Divisores

Confesso que não compreendo de verdade essa admiração subjacente que as pessoas têm pelas figuras dos heróis. Ficcionalmente, pessoas admiráveis e admiradas, que salvam o mundo em dois minutos com os super poderes que lhes foram concedidos. Nesse labirinto intransponível de expectativas ascendentes, sonhamos tanto com esses ditos poderes, que acabamos por não reparar o quão heroi cada um de nós, é. Evidentemente, generalizar neste caso, é sinônimo de irrealidade. Existem vilões por aí que, literalmente, não estão no gibi. Nem a ficção poderia imaginar mentes tão ávidas por maldade, que não se contentam apenas em dominar o mundo, mas têm por objetivo destruí-lo a cada dia. Em contrapartida, há o lado dos mocinhos. Somos verdadeiramente heroicos. Conseguimos partilhar nossos mil quatrocentos e quarenta minutos diários para realizar atividades inadiáveis, no sufoco corrido das horas que não dão trégua nem por um milésimo de segundo. O relógio não pára, nem para folga do almoço. É... A maioria de nós acaba por viver nessa intensa correria de trabalho, estudo, comida, filhos, pais, vida, morte. E ainda almejamos com afinco a idéia de nos serem concedidos super poderes - é absurdo. Nos multiplicamos infinitamente para reduzir o tempo das resoluções, por dia. As mães, de uma, transformam-se em cinco. É roupa pra lavar, feijão pra escolher, arroz pra cozinhar, bife pra limpar, mochila pra arrumar, banho pra dar, filho pra vestir, escola pra levar. Os pais, lá de longe, têm três reuniões antes do almoço, quinze minutos pra almoçar, cinco segundos pra escovar os dentes, e o resto pra resolver quarenta mil coisas que têm de ser entregues ao final do dia. E qual é a surpresa? Eles fazem isso vendados. Não é de se admirar? Os filhos estão (quase) sempre alimentados, de barriga cheia. Chegam no dia seguinte com o trabalho de casa prontinho, a roupa impecavelmente limpa e engomada, com o cabelo e as unhas cortados e bem tratados. Inacreditavelmente, isso é feito sem a ajuda de nenhuma varinha de condão. Realmente, eles são herois. Nós, os estudantes. Numa proporção menor, precisamos também nos multiplicar pra dividir nós com nós mesmos, as tarefas do dia. Provas, trabalhos a entregar, monografia pra terminar, namorado pra fazer as pazes, cartão de crédito pra pagar até as 16:00h, juros do cartão de crédito que não deu pra pagar e não tem dinheiro, conversar com o pai explicando que realmente não deu tempo de ir ao banco ontem... É uma luta diária. Se tivéssemos o poder de voar, de escalar as paredes com teias, de nos esticar metros e mais metros, de ter a força de um leão, e ficar invisíveis de vem em quando, talvez não fizéssemos isso tudo com tanta destreza, como fazemos de fato. Exatamente por termos que aprender a contar apenas com nosso corpo pouco preparado para salvar o mundo, é que nos prendemos no nosso mundo, e somos assustadoramente capazes de fazer de TUDO pra fazer nossa vida não parar de andar. A anatomia do nosso corpo foi desenhada com uma perfeição indefectível, para nos ajudar a entender nossos limites e quando é a hora de parar de salvar nosso pequeno infinito particular. Talvez a nossa maior criptonita seja a idéia de não conseguir resolver por completo as funções que nos foram dadas. É o que nos deixa fraco, desanimados, sem força para seguir em frente e mostrar pra nós mesmos que nós somos capazes, sim. Pode ser que esse calvário de enfrentar a vida de cabeça erguida sem a ajuda de super poderes não seja tão duro assim. Na verdade, os sorrisos amarelos dos trabalhadores que saem de casa, já na labuta, às 5 da matina e voltam muito após o sol desaparecer, são os maiores incentivos para a conclusão de que nossos super poderes nasceram com a gente. Cada um tem o seu. Seja lutar contra o tempo, voar nas horas pra conseguir ver o seu filho acordado, seja ficar invisível para os desânimos, ou escalar as maiores montanhas de dificuldade com as próprias mãos. E nós os manifestamos, a cada dia, dentro de nós mesmos... Aos poucos, mas devagar e sempre. Acredite.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Se



Se eu pudesse tê-la de volta, acho que nunca mais pediria nada ao universo. As flores voltariam a exalar seu perfume de sempre, a cozinha voltaria a ter o cheiro da comida que era só e unicamente sua e meus olhos continuariam enchendo-se de lágrimas toda vez que te encontrasse. Meu maior desejo se teria realizado, e assim, eu estaria completa novamente. A parte do meu coração que você levou consigo faz uma falta enorme no todo do meu ser, e gostaria muito que você pudesse me entregá-la em mãos, assim como devolver pra minha vida a tua presença, o teu sorriso, e teu olhar inigualavelmente reconfortante.
Se eu pudesse falar com o vento, pediria pra soprar em sua direção nos dias de verão, afim de esvoaçar seus cabelos de nuvem, leves e prateados. Pediria, no inverno, para cessar o seu trabalho e não ventar em sua direção, apesar de amar te ver com frio, usando aquele xale que a deixava ainda mais encantadora.
Se eu pudesse falar com o sol, gostaria que ele pudesse iluminar suas manhãs todos os dias, mesmo que embaixo da chuva forte. Não sei se seria possível, visto que deve ser um sacrifício enorme para ele competir com a luz que emana da tua alma.
Se eu pudesse falar com as flores, ia querer sentir delas o teu cheiro de vó invadindo meu quarto por entre as cortinas dia após dia. Talvez aumentasse a saudade, mas seria um belo presente diário.
Se eu pudesse falar com os pássaros, pediria que seu canto fosse feito com a tua voz, e que eles me acordassem pela manhã e fizessem-me dormir à noite, com o mesmo timbre mágico que te pertencia.
Se eu pudesse falar com Deus, e se é realmente Ele que administra estas idas e vindas de pessoas amadas, talvez eu o pedisse para nunca levá-la para longe de nós. Acho que meu pedido seria negado, então eu pediria apenas para visitá-la onde quer que você estivesse, de vez em quando. Acho que com uma vez ao dia, todos os dias, eu estaria satisfeita.
Se eu pudesse falar com você... Ah, se eu pudesse falar com você, vó. Eu pediria perdão por não ter lhe dito isso quando minha voz ainda podia alcançar os seus ouvidos; Pediria mil desculpas por não ter ficado todos os minutos de nossos momentos juntas lembrando e relembrando o quanto você é única e o quanto sou feliz por tê-la comigo. Me desculparia por não ter conseguido me despedir de você de pertinho, nem olhar sua expressão angelical pela última vez.
Eu agradeceria, e muito – pela saudade linda que deixou em nossos corações, e por ter me feito enxergar como é preciso amar com toda intensidade as pessoas que nos cercam. Agradeceria por você ter se mantido forte, guerreira e linda como uma rainha, até o teu último suspiro de vida. Agradeceria por você ter existido, e por ter transformado os bons momentos nossos em inesquecíveis. Cada palavra que você proferia era uma poesia, que me ensinava a cada dia como ser mais gente.
Se eu pudesse te encontrar, lhe entregaria este singelo papel, como menos de um por cento de demonstração do amor que ainda tinha aqui guardado pra você.
Deposito aqui, toda alegria e paz que você me deu um dia. O amor, o carinho, o zelo, a proteção. Todas as coisas boas de mim, as quais você ajudou a constituir.
São onze meses sem você, e não há um dia em que eu não sinta tua falta. Obrigada por ter feito de nossas vidas um mundo encantado, quando você ainda aqui estava. Com toda saudade e amor que houver no mundo, da sua neta eternamente grata por ter tido, mesmo que por pouco tempo, a ilustre presença de uma avó como você.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

"Pra você, Alice"

"Nem era uma manhã tão brilhante assim
Mas eis que você chegou e brilhou a manhã

Por entre os dentes e dedos delicados
Esvoaçava um cabelo de seda dourado

E a luz saía, e brilhava e
Preenchia a si e a sala

E a manhã?
A manhã não se continha em si mesma
Pois ora, você ali estava!

Flor da vida, amendoeira, conhece aroeira?
Flor de cerejeira? A fruta da jabuticabeira?
Sendo por entre os passos,
Os acasos,
Os planos divinos

Desenhando um caminho seu,
Falando uma língua que é sua

Ah! Flor da tarde, flor da noite
Enche de saudade esta manhã"



(Marcia Azeredo Bezerra)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um minuto de silêncio

"Gente, que silêncio! Alguém diz alguma coisa pra quebrar esse clima..." Quem nunca disse ou ouviu essa frase, que atire a primeira pedra. Em épocas da minha vida estive convencida de que era a pessoa mais barulhenta que eu mesma já conheci. Porém, quando descobri o significado do barulho, percebi que minha busca é por um silêncio interno e eterno. Certa vez, lendo palavras de Max Ehrmann, me peguei pensando profundamente no silêncio:
"Siga placidamente em meio ao barulho e à pressa e lembre-se da paz que se encontra no silêncio. [...] Evite as pessoas escandalosas e agressivas; elas afligem o espírito. [...]"
O silêncio muitas vezes pode significar paz de espírito. Pode também significar um vazio imenso entre duas ou mais pessoas onde as mesmas não tem idéia do que dizer, num momento de dúvida, de aflição, de tensão; mas, na maioria das vezes, por achar que o silêncio é o ócio total das nossas mentes, bem como das alheias, julgamo-no como algo nocivo a nós mesmos. Fazendo uma analogia a uma frase muito corriqueira, interpretando de uma forma mais aberta, "passou um anjo por aqui, todo mundo se calou", quer dizer que o anjo trouxe paz ao ambiente - talvez falemos tão superficialmente sobre o silêncio, que não percebemos o bem imenso que ele nos faz. As pessoas solitárias sentem falta do barulho, porque ele faz alusão a algum tipo de companhia. Sem generalizar, percebamos as que moram sozinhas. Quase todas passam a maior parte do tempo com a televisão ligada, como se a voz de outras pessoas naquela caixa eletrônica trancafiadas, fosse arrancar um pouco dessa solidão eterna que invade suas casas. Seguir placidamente em meio ao barulho e à pressa, quer dizer continuar pacífico e calmo, mesmo que imerso nas aflições mundanas que enfrentamos no dia-a-dia, e que se tornam uma poluição sonora irremediável ao nosso espírito. A pressa nos faz esquecer do que nos faz bem, apenas nos deixando sobreviver do jeito que nos cabe no tempo que nos resta das vinte e quatro horas democráticas com as quais somos presenteados desde o primeiro dia de nossa vida. Lembre-se da paz que se encontra no silêncio. Lembre-se, mas de NUNCA se esquecer dessa paz. O silêncio representa a sua profunda união de você com você mesmo. Do seu corpo, alma, mente, carne, ossos, órgãos, células, átomos. Dentro do silêncio você encontra as respostas das perguntas que, em meio aos ruídos cotidianos, não consegue responder a si mesmo e nem àqueles a sua volta. O que acontece muitas vezes é que, as pessoas têm a ciência de que o silêncio é uma máquina de consciência, mas a sua vida se faz tão afoita e embaraçosa que, preferem permanecer em meio ao barulho, sem pensar com intensidade em tudo que lhes cerca. Há um exercício interessante para valorarmos o silêncio com perfeição. Imagine um homem. Um empreiteiro. Um empreiteiro um dia inteiro perto de uma britadeira. Um empreiteiro com 4 filhos. Um empreiteiro com 4 filhos, uma esposa, uma amante, morando num conjugado e uma britadeira. Naturalmente os empreiteiros não têm tempo para meditar e pensar no universo, na consciência, na paz de espírito. Mas, mesmo eles, sem esse espaço, ainda que prefiram estar na companhia de britadeiras a de suas mulheres reclamando e 4 filhos gritando, conseguem valorar mais o silêncio do que nós, que temos tempo suficiente para pensar e praticar o silêncio com destreza e atenção. Perceba em cada segundo de silêncio quantos barulhos apaziguadores existem no mundo. Sem britadeiras, campainhas, furadeiras, choros de criança, latidos e marteladas. Perceba, com totalidade, o namorar dos grilos, o ressonar do sol à noite e o da lua, ao dia. O ruído de sua própria respiração, o trabalho que seus órgãos fazem com precisão para lhe manter vivo e forte em meio a toda essa pressa. Evite as pessoas escandalosas e agressivas; elas afligem o espírito. Ouvi também alguém muito iluminado dizer, certa vez, num lugar cheio de paz, algo que tomou conta de meus pensamentos por muitos dias. Explicou que, quando gritamos uns com os outros, é sinal de que nossos corações estão afastados. Esse fato, é processual. Começa com um grito, o coração se assusta, e se afasta um pouco. No segundo grito, o coração sai de perto. Com o passar o tempo, os corações se afastam de forma que não conseguem encontrar mais o caminho de volta. E assim, você afasta as pessoas de você. Quanto mais pacificamente você se comunica, mais corações trará para perto de si. Quanto menos você fala, e mais acaricia as pessoas com a sua voz, os corações começam a fazer parte do seu, não a ficar apenas perto de você. E quando você já não precisa falar, apenas consegue olhar em seus olhos para compartilharem juntos essa dádiva que é o silêncio, vocês se tornam quase a mesma pessoa. Com essa frase do poeta, hei de discordar: não evite essas pessoas. Ajude-as, no que puder, a serem silenciosas, amorosas, serenas e plácidas como você. Evite sim, ser tão apressado e barulhento a ponto de não conseguir mais ouvir os seus amores, apenas os gritos apavorados das tristezas e dores que, mesmo que poucas, você, como qualquer outro, adquiriu com o tempo. Respeite o silêncio alheio, e acima de tudo, respeite-se. Respeite o silêncio que você precisa, a cada dia. E respeite, mais ainda, o silêncio que o mundo precisa ouvir. Faça o seu silêncio, e, assim, contagiará cada ser do universo aos poucos, com essa paz de espírito que conseguirá exalar no vazio das palavras.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Totalitária

Integralidade. Da cabeça aos pés. Na carne, na pele, nos ossos e na alma. Isso é sentir com totalidade. Essa teoria defende que, todos os nossos feitos na passagem pela vida devem ser cumpridos com extrema totalidade pra que sejam, com êxito e verdade, realizados. E mais: absorvidos com sucesso. E o que siginifica essa absorção da qual eu me refiro? É o aprendizado que você tira de cada coisa que passa no cotidiano. As perdas, os ganhos, as alegrias, as tristezas, as dores. Viver cada uma dessas coisas com a tal totalidade, é que nos faz crescer dia após dia. Há pouco passando por uma grande decepção interna, e digo decepção com a minha própria pessoa, tive a oportunidade de me forçar a absorver algumas coisas. Na teoria, é muito bonito. Se fosse realmente assim as pessoas não repetiriam seus erros pois, na primeira queda, o aprendizado seria tão eficaz que as impediria de cair e se machucar novamente. E é o que deveria acontecer. Apesar de que, eu não acredito muito no extremismo. Acreditava, e me confesso volúvel porque após ouvir palavras sensatas de uma pessoa passei a pensar que é um pouco irracional. Passar de um extremo a outro sem uma linha de continuidade para cair e levantar várias vezes, até finalmente aprender a andar devagar e evitar esses tombos. Você muda todos os dias. E muda muito. Mas não suficientemente para passar de um lado para o antagônico desse. Então, a absorção, serve para isso. Quando mais você absorve os dias e as horas de sofrimento ou de alegria, você cresce, você ganha vida pra viver com mais intensidade ainda. Você passa a viver com plena totalidade. Apenas lhe peço que seja total. Seja triste, mas totalmente triste. Caia profundamente nas suas lágrimas fazendo a parte da frente do seu corpo colar na de trás, sinta todos os seus órgãos se retorcerem, ouça o barulho das gotas de sangue pingando do seu coração. Mas sinta, em todas as suas células, a tristeza. Sinta raiva, mas com muita totalidade. Perceba a cólera invadindo sua corrente sanguínea e as suas mãos fechando com tanta força que talvez pareça que nunca mais elas sairão dali. Com totalidade. Seja feliz. Muito feliz. E a totalidade da felicidade é um tremendo pleonasmo .. Porque ser feliz é ser total. Ser feliz não é fingir que não tem problemas, fingir que o mundo não é mundo. Ser feliz é enfrentar as maleficidades do mundo com um sorriso costurado no lugar da boca. E quando você sente a felicidade com totalidade.. Você passa a ser total em tudo porque você percebe o quanto te traz felicidade aprender com o passar dos dias. Mas se você É feliz, na real. Sem hipocrisia, sem demonstração de alegria pra causar invejinha boba em determinadas pessoas. Isso é ser absolutamente burro, e haja totalidade. Se preocupar em externar o que você nem sente pra que os outros queiram ser você .. Sabe, chega a doer os ouvidos escutar uma coisa dessas. Isso tem que vir de dentro. Quando a pessoa é feliz de coração, a luz da felicidade ilumina do primeiro fio de cabelo à última unha do pé, e o brilho no olhar é tão intenso que é perceptível por todos a sua volta. E quando isso acontece, ela não quer saber se as pessoas querem ser como ela.. Ela simplesmente quer que as pessoas sintam o que ela sente. E ela passa seus momentos indiretamente ajudando as pessoas não a serem como ela, mas a ser tão felizes, totais e realizadas quanto ela. Não financeiramente, nem no amor, nem na profissão. Feliz com ela. Ela, e ela. Mais ninguém. Ela é total em si mesma e nada à sua volta importa .. Porque ela pertence a si e a sua felicidade é TODA sua: sem ter que dividir com diversos roubos de energia que ocorrem diariamente. Então, pode ser um conselho um pouco vago mas .. Faça com totalidade. Sofra com totalidade. Chore, ame, sorria, sangre, mate, viva, morra .. Mas com muita, muita totalidade. E boa sorte daqui por diante.